Como Giovanna Cury conseguiu unir arte, estética e gastronomia em uma única profissão

Por meio do conceito de Food Design, a jovem constrói e desconstrói alimentos a fim de deixá-los agradáveis aos olhos e ao paladar

Giovanna Cury (Foto: Divulgação)

Provavelmente, assim como eu, você já foi impactado por mesas exuberantes em seu feed do Instagram, criadas para eventos de marcas que buscam construir também por meio da comida as suas narrativas. Caso recente, a Cartier, em sua festa, materializou o seu universo literalmente precioso em doces que mais se assemelhavam a joias e pedras, que remetiam ao universo da coleção Panthère. Sem falar na mesa de hors d’oeuvres, que tinha até versão salgada do macaron, inteiro na cor dourada. A responsável por tanta criatividade e beleza, que entretêm e até confundem o público se aquilo é comestível ou não, é Giovanna Cury (@giocozinha).

 

Acostumada a transitar entre pratos – afinal, sua mãe é chef e já foi dona de um bufê –, após uma especialização em alimentação natural, em Nova York, em 2018  voltou ao Brasil sem saber ao certo o que faria com o conhecimento adquirido. O caminho, no entanto, foi se acertando de forma muito natural, e, quando viu, a oportunidade de unir as suas paixões estética, moda, arte e alimentação estava bem na sua frente, com uma demanda acelerada, especialmente no pós-pandemia. Confira, na sequência, uma conversa com Giovanna.

 

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Versatille: Qual foi o seu começo na cozinha? 

Giovanna Cury: A minha história não é aquela clássica, de alguém que sempre soube e gostou de cozinhar. Eu comecei apenas quando fiz um curso de formação de yoga e me tornei vegetariana, o que fui por uns bons anos, e aí aprendi a fazer o que era adequado para mim, pela relação dos alimentos com a saúde. Eu venho de uma família em que a minha mãe é chef, então sempre tive isso ao meu redor. A minha família é árabe e italiana. Mas eu não dava muita bola. Sempre gostei mais de moda e de arte. Após eu me formar, eu fui fazer um curso em Nova York, de culinária natural no Natural Gourmet Institute (hoje pertencente ao ICE), em 2018. Eu lembro que no dia que fui buscar o meu dólmã, não conseguia me ver daquela forma, então acredito que foi uma sorte eu me apaixonar pela parte técnica gastronômica.  

 

V: Como uniu essa parte estética, tão presente em seu trabalho, aos alimentos? 

GC: Eu sempre fui uma pessoa muito estética, sou virginiana, isso sempre foi muito inerente. Até tenho um lado de decoradora amadora, gosto de posicionar objetos. Quando trabalhei em restaurantes, eu tinha um cuidado na apresentação. Acho que essa foi a minha maior facilidade. Quando eu voltei para o Brasil, foi difícil saber para onde iria a minha carreira. Eu comecei a montar uma fazenda de orgânicos, algo em que estava muito interessada, que durou até o começo de 2023. Na quarentena, também mostrava muito do que estava fazendo. Sempre tive o hábito de tirar fotos cozinhando e fui criando como um diário visual no meu Instagram, mas de forma muito inconstante. Foi aí que apareceu uma oportunidade com a marca Waso, do grupo Shiseido. Eles queriam fazer um evento fora da caixa, que não fosse em São Paulo, uma experiência farm-to-table. Foi um almoço, e, na época, eu estava começando a abrir as visitas na fazenda, e esse evento aconteceu. Considero um dos momentos mais mágicos da minha vida, porque foi a primeira vez que eu consegui enxergar como unir as minhas paixões na mesma coisa. Eu lembro que, quando terminou esse evento, apareceu uma outra oportunidade com a marca Nars. A coisa foi acontecendo, e quando eu vi, estava fazendo aquilo. Acho que meu no know-how foi formado por tudo o que havia feito até então.

 

Mesa do lançamento Zodiac, da Sauer (Foto: Divulgação)

 

V: Como é o seu processo criativo? 

GC: Eu fui desenvolvendo um protocolo para conseguir criar. É algo que passa por muita escuta do cliente, começa mais com um levantamento mais burocrático, porque acho que o formato do evento define muito como a criação irá acontecer. Se já tenho um contato com a marca, fica mais fácil, mas também tem vezes que a ideia vem como um flash na minha cabeça. A minha pergunta inicial é: “Qual é a sensação que eu quero evocar nas pessoas?”. Afinal, estou lidando com os cinco sentidos, tem que ser bonito, saboroso e funcional. Tem toda uma logística de preparo que precisa ser destrinchada, o que será finalizado na hora, e, no momento em que estou criando, tem várias lentes aí de como cada coisa irá funcionar. Penso muito no mood visual, elementos fora do nicho gastronômico.  

 

V: Aonde gostaria de chegar com o seu negócio? 

GC: O meu sonho é fazer um evento que tenha uma longa distância para percorrer. Eu fico imaginando o que a gente poderia realizar num contexto fora do que estou acostumada. Por exemplo, no meio da natureza, algo diferente, e criar experiências mais longas também. 

 

Por Giulianna Iodice | Matéria publicada na edição 133 da Versatille