10 motivos para “devorar” Lyon, capital da gastronomia na França

Berço de Paul Bocuse, a cidade tem vários points para incluir no roteiro

Foto: Divulgação

A duas horas de trem de Paris e a pouco mais de 200 quilômetros de estações como Courchevel e Val d’Isère, Lyon tem se firmado como pit stop para esquiadores brasileiros – sobretudo os mais gourmands.

 

Não que não seja justo, mas, neve à parte, a cidade combina gulodices e história; satisfaz mente, corações e estômagos em qualquer época do ano. Aqui, 10 razões pelas quais a terceira maior cidade francesa merece uma parada.

 

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1. Bouchons 

 

A palavra significa rolha, engarrafamento e também a versão lionesa de bistrô. Lugarzinhos intimistas para se esbaldar na autêntica (e substanciosa) culinária local. Entre eles, aprovadíssimo é o Daniel et Denise, do premiado chef Joseph Viola. 

 

Nas três unidades, o MOF (meilleur ouvrier de France ou profissional-exemplo) mantém toalhas em xadrez vermelho e branco e receitas como quenelles (nuvens alongadas de “nhoques” de peixe), terrine de foie gras e brioche perdu sobre as mesas. 

 

A unidade mais turística fica em Vieux Lyon, centrinho histórico da cidade. A preferida do proprietário, no 3º arrondissement. 

 

(Reprodução Instagram)

 

Daniel et Denise  

Rue de Créqui, 156, 69003. De seg. a sex., das 12h às 14h e das 19h às 22h. danieletdenise.fr 

 

2. Segredos 

 

O Museu de Belas Artes tem Picasso, Monet, Van Gogh, Rembrandt e até Tarsila do Amaral. É tanta obra que elas se revezam nas paredes. Melhor ainda é que, na saída, do outro lado da Place des Terreaux, está o L’Étage. 

 

O último restaurante “de altura”, escondido em um edifício antigo, é comandado pelo jovem Guillaume Mallet. O chef cuida da sala e da cozinha com esmero. Com apenas um ajudante, serve aos comensais os melhores produtos de cada estação. 

 

Aviso: o chef é especialista em lagosta e embaixador de caviar, mas tem menus de almoço por 29 euros. 

 

(Divulgação)

 

L’Étage 

Place des Terreaux, 4, 69001. De ter. a sáb., 12h e 13h;

19h e 20h (dois seatings em cada refeição). 

www.letage-restaurant.com/menu 

 

3. Bocuse 

 

A cidade do papa da culinária francesa é cheinha de locais de peregrinação: há as brasseries (do norte, sul, leste e oeste), dois restaurantes (Fond Rose e Marguerite) e Les Halles Paul Bocuse, mercadão com dezenas de produtores honrando o seu legado. 

 

Destaque para Mère Richard, antiga mestre-queijeira de M. Paul e criadora do queijo mais emblemático de Lyon – o ultracremoso Saint-Marcellin. Para beliscar com ele, vale pegar uns embutidos na Maison Sibilia (charcutaria mais famosa da cidade) e, para finalizar, docinhos na Maison Bouillet (confeitaria do premiado Sébastien Bouillet). 

 

(Divulgação)

 

Les Halles de Lyon Paul Bocuse 

Cr Lafayette F, 102, 69003. De seg. a sáb.,
das 7h30 às 19h30; dom., das 7h30 às 13h. 

www.halles-de-lyon-paulbocuse.com 

 

4. Terroir 

 

A casa de Maxime e Hélène Laurenson abre apenas nas noites de segunda a sexta. Afinal, o dia todo ele está ali dentro preparando itens dos menus de oito ou dez tempos. Na hora de servi-los, conta com a ajuda da esposa. 

 

Com trabalho duro e sem afetação, o casal ganhou uma estrela Michelin poucos meses após a abertura do Rustique, em plena pandemia. Hoje, jura não estar no encalço do segundo astro, mas merece! 

 

A saber: a cozinha brilha com peixes de rios, ovos caipiras, cogumelos silvestres, miúdos e pombo, ingredientes estritamente locais, tratados com rigor e harmonizados com vinhos feitos a até 150 quilômetros dali. 

 

(Reprodução Instagram)

 

Rustique  

Rue d’Enghien, 14, 69002. De seg. a sex.,
das 19h às 21h45. rustiquelyon.fr
 

 

5. Doçuras 

 

No país de éclairs e macarons, a corsa Julia Canu e o baiano Tiago Barbosa dedicam-se à confeitaria. Depois de darem match no Instituto Paul Bocuse, abriram a Único, ateliê de sorvetes que não recebem nenhum tipo de insumo industrializado e, ainda por cima, levam menos açúcar que o gelato italiano e menos gordura que a glace francesa.

 

O casal arrasa nos sabores de frutas sazonais, mas adora uma loucurinha. Um exemplo? Manjericão com tomilho. Outro? Beterraba com pimenta defumada. A criatividade dos dois rendeu frutos, daí a Fresco, uma sorveteria mais fun, e a Minnà, um café com o mais cremoso flan do mundo. 

 

(Divulgação)

 

Único Artisan Glacier  

Montée de la Grande-Côte, 91, 69001. De qua. a dom.,
das 13h às 19h. unicoglacier.com 

 

6. Gastro-cultura 

 

Do século 12 a 2010, o Hôtel-Dieu foi a Santa Casa de Lyon. Resistiu à peste, fome e guerra. Hoje abriga um hotel cinco estrelas (o Intercontinental), restaurantes, lojas (incluindo padaria, frutaria e peixaria) e a Cité de la Gastronomie. 

 

Mais do que um museu, um espaço interativo de reflexão sobre a educação do gosto e o futuro da alimentação, acessível até para a criançada. 

 

Na saída, pelo lado de fora da construção, a butique da ilustradora Emilie Ettori tem ímãs com ícones da gastronomia local, ecobags, canecas e pôsteres com cenários lioneses. 

 

(Reprodução Instagram)

 

Cité Internationale de la Gastronomie de Lyon 

Grand Cloître du Grand Hôtel-Dieu, 4, 69002. De qua. a dom.,
das 11h às 19h

 

7. Praça de Alimentação 

 

Por quase todo Vieux Lyon (a cidade velha) escondem-se traboules, passagens secretas que no século 4 serviam para mercadores da seda atravessarem a cidade sem serem vistos. Hoje, esses corredores são mais uma das atrações lionesas e nomeiam uma charmosa food court, o Food Traboule. 

 

Na Tour Rose (torre rosa), encontra-se uma street food chiquetosa, incluindo croque monsieur trufado e fritas de quenelle com maionese de lagosta. Há ainda bar de drinques e de vinhos, pizza, café, burger e sobremesas com preços amigáveis.  

 

(Divulgação)

 

Food Traboule 

Rue du Bœuf, 22, 69005. De seg. a sex., das 11h45 às 14h e das 18h às 22h; sáb., das 11h45 às 23h; e dom., das 11h45 às 22h. foodtraboule.com 

 

8. Bossa 

 

Pode parecer despropositado indicar um restaurante brasileiro em uma viagem à França. No entanto, tratando-se do Odília, não é. O Brasil sem clichês de Jessica Giovanini é carinhoso e original. Tem um pão de queijo obsceno sem queijo da Serra da Estrela, tem influência ítalo-paulistana e tem até chão de caquinho, como o da casa da avó da chef, a dona Odília. 

 

Mais que tudo, a cozinha tem o refinamento de quem trabalhou com Alain Ducasse no Plaza Athénée e a profundidade de quem estudou literatura e antropologia. Para ajudar, há o serviço cálido e os coquetéis impecáveis de Henrique Giovanini. Certas noites, tem até som de piano ao vivo. 

 

(Divulgação)

 

Odília Restaurante 

Avenue Berthelot, 3, 69007. De ter. a sex., das 12h às 14h e das 19h às 23h;
De sáb. a seg., das 19h às 23h

 

9. La vie en rose 

 

O praliné rosa combina amêndoas, avelãs, açúcar e colorante. Uma criação do século 19, sublimada em Lyon sob a forma de brioche. A mais apreciada chama-se praluline. Metade brioche e metade praliné, ela é feita desde a década de 1950 pela Maison Pralus. 

 

Em Lyon, suas cinco lojas provocam os passantes com o aroma caloroso de açúcar e manteiga que escapa o tempo inteiro das fornadas. 

 

(Divulgação)

 

Maison Pralus 

Rue Saint-Jean, 27, 69005. Todos os dias, das 8h30 às 19h. www.chocolats-pralus.com 

 

10. Vegetarianice 

 

Delicioso paradoxo da capital da carne suína e dos embutidos da França é o Culina Hortus, restaurante eleito o melhor vegetariano do mundo. Ali, em vez de simplesmente retirar proteínas animais das receitas, Adrien Zedda aborda legumes e verduras de maneira holística e não abre mão de manteiga, queijo, nem de creme de leite. 

 

Com menos de 30 anos, cinco deles na chefia da casa, o chef rompe códigos do vegetarianismo sem abusar de subterfúgios como homus, saladas e tempurás. 

 

(Divulgação)

 

Culina Hortus 

Rue de l’Arbre Sec, 38, 69001. De ter. a sáb, 

das 12h às 15h e das 19h30 às 23h.

www.culinahortus.com

 

Por Fernanda Meneguetti | Matéria publicada na edição 133 da Versatille