TC avança em sua estratégia de oferecer teoria e prática sobre o mercado financeiro

Pedro Machado, diretor de relações com investidores e M&A do TC, hoje avaliado em 2,7 bilhões de reais, fala sobre os próximos passos da empresa, mercado financeiro e inovação

Imagem ilustrativa da bolsa de valores
(Getty Images)

No início de 2016, quando o número de brasileiros na bolsa de valores não passava de meio milhão, um grupo de experientes investidores, capitaneado pelo advogado Pedro Albuquerque Filho, acostumados a interagir em fóruns de discussão tradicionais, criou uma comunidade no WhatsApp para trocar informações sobre o mercado financeiro e explorar oportunidades. Para que novas pessoas pudessem integrar o grupo, democratizando o acesso e, ao mesmo tempo, aumentando o nível do debate, o espaço acabou por ganhar um forte componente educacional. Hoje, denomina-se uma plataforma de educação financeira, análise de dados e inteligência de mercado na qual mais de 700 mil pessoas já estão plugadas.

 

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Para completar a experiência do usuário – e o alcance do negócio –, o TC fez, no último ano, após um IPO em julho de 2021 que levantou 607 milhões de reais e o avaliou em 2,7 bilhões de reais, uma série de movimentos de aquisição e compra de participações em outras empresas com vistas à ampliação de seu portfólio. Ao se tornar transacional, e não apenas uma ferramenta de aprendizado, o negócio junta, num mesmo lugar, teoria e prática. Ou, como se diz nos dias de hoje, um ambiente one-stop-shop.  

 

A Versatille conversou com Pedro Machado, diretor de relações com investidores e M&A do TC, sobre os próximos passos da empresa, mercado financeiro, inovação, criptoativos e financial deepening. 

 

Versatille: Temos presenciado, ao longo dos últimos anos, uma série de iniciativas que tem como propósito quebrar a resistência cultural dos brasileiros em relação aos investimentos, principalmente no que diz respeito àqueles de mais alto risco, como o mercado de ações. O que você apontaria como o principal diferencial do TC em relação ao que existe hoje disponível por aí, principalmente no sentido educacional? 

Pedro Machado: Eu diria que é mesmo o espírito de comunidade, uma vez que os membros da plataforma têm acesso a pessoas reais, com quem podem trocar ideias e, no mesmo ambiente, pôr em prática o que foi aprendido. Além disso, existe toda uma inteligência de mercado e análise de dados sobre o mercado de capitais à disposição e um amplo acervo de notícias, tanto do setor quanto das companhias que dele fazem parte. Por fim, é possível se comunicar diretamente com os representantes das áreas de relações com investidores dessas empresas, que também estão inseridos nesse espaço.   

 

V: Em maio deste ano, vocês anunciaram a chegada de Pedro Henrique Feres para conduzir o processo de estruturação de uma corretora própria. Como está isso?

PM: Isso mesmo. E, em junho, adquirimos a corretora Dibran, uma das mais tradicionais DTVMs [Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, instituições responsáveis por intermediar a negociação de ativos e conectar os investidores à bolsa de valores] independentes do país. O Banco Central exige cerca de 12 meses para a aprovação da transferência de controle, mas isso não nos impede de fazer operações transacionais, uma vez que temos um acordo com a corretora, que pode atender nossos membros por meio de uma solução white label [quando uma empresa oferece algo de outra, mas customizado com sua marca, identidade visual e outras personalizações]. A integração completa com a plataforma deve sair mais perto da data de aprovação do BC, mas estamos trabalhando para que as operações, nesse modelo, possam ser feitas antes desse prazo.

 

Pedro Machado, do TC

Pedro Machado (Divulgação)

 

V: E a que tipo de operações os membros da plataforma terão acesso?

PM: Hoje já atuamos com fundos, por meio da aquisição direta de cotas, em agosto deste ano, da Pandhora Investimentos, uma gestora multiestratégia de fundos quantitativos que atua com uma política de investimentos que mescla variados tipos de aplicações em ativos líquidos e globais. Em novembro, lançamos o fundo multimercado TC Cosmos, entre outros que serão anunciados em breve para pessoas que querem uma gestão mais passiva do seu patrimônio. Mas a ideia é disponibilizar todo tipo de ativo, incluindo ações, opções e contratos futuros, sempre com uma trilha educacional capaz de esclarecer para o investidor os riscos assumidos nessas operações. Poder aprender e operar no mesmo espaço é uma importante quebra de barreira para nós, como negócio. Até então, as pessoas aprendiam com a gente, mas em seguida precisavam migrar para outro ambiente para pôr seu conhecimento em prática. 

 

V: A renda fixa também está nos planos de vocês?

PM: Também. Recentemente, anunciamos a aquisição de uma participação de 20% na InvestAI [por 3,1 milhões de reais], que usa inteligência artificial para monitorar, selecionar e comprar, de forma automática, os títulos mais disputados de renda fixa das corretoras. Por meio de um algoritmo, a ferramenta identifica ofertas secundárias [produtos que, por algum motivo, serão resgatados antes do prazo] – que duram milissegundos nas plataformas –, permitindo assim que sejam adquiridas e repassadas às pessoas físicas. A fintech também tem algoritmos que possibilitam analisar o que está disponível em várias corretoras. Isso permite que os títulos atuais sejam trocados por outros com melhor rentabilidade. A completa integração da InvesAI ao TC estará disponível provavelmente no fim de 2023, mas antes disso as operações já serão possíveis.

 

O escritório do TC

O escritório do TC (Divulgação)

 

V: O TC também já atua, de forma transacional, no mercado de criptoativos, por meio de uma parceria com o Mercado Bitcoin. Você acha que o investidor brasileiro está maduro o suficiente para apostar nesse ativo? 

PM: Eu, pessoalmente, já invisto em cripto há cerca de quatro ou cinco anos, mas é claro que é um ativo de muita volatilidade. O investidor precisa ter maturidade para lidar com isso, entender seu perfil e sua disposição de assumir riscos. Os mais jovens são tipicamente mais agressivos. É preciso, ainda, levar em conta o momento de vida de cada um e, por fim, alocar uma parte da carteira cuja oscilação não comprometa o investimento total. 

 

O recente episódio envolvendo a FTX [exchange de criptomoedas com sede nas Bahamas que quebrou depois que seu cofundador, Sam Bankman-Fried, foi pego usando secretamente os fundos dos usuários em operações de crédito e criou um passivo que ultrapassou em dez vezes os ativos] foi muito ruim, já que uma das premissas básicas desse mercado é a descentralização dos recursos, ou seja, não permitir que ninguém tenha acesso ao dinheiro dos investidores. No caso da FTX, foi justamente o contrário – ela estava alavancando os recursos dos clientes e fazendo operações sem nenhum controle regulatório, levando-os a perder tudo. Por isso, podemos, sim, enfrentar um período sombrio, com tantas notícias negativas sobre esse tipo de investimento [a quebra da FTX tem provocado um efeito dominó de falências de corretoras cripto], mas tenho uma visão otimista para os próximos cinco anos. 

 

Além disso, é preciso ter em mente que o Brasil é um dos primeiros países a avançar nessa legislação [no dia 29 de novembro, a Câmara dos Deputados aprovou o PL 4401/2021, que regulamenta o setor de criptomoedas no território nacional e agora segue para a sanção presidencial]. O Mercado Bitcoin, por exemplo, com quem atuamos, é auditado, ou seja, todas as transações são reportadas à Receita Federal. Eu acredito na maturidade do investidor brasileiro para lidar com esse tipo de ativo, que, vale reforçar, requer um acompanhamento mais de perto. Mas não tenho dúvida de que é um investimento que veio para ficar. 

 

Pedro Albuqerque Filho, CEO do TC (Divulgação)

Pedro Albuqerque Filho, CEO do TC (Divulgação)

 

V: Vocês têm apostado fortemente em tecnologia para aperfeiçoar análises e previsões, inclusive disponibilizando ferramentas para os investidores. O brasileiro está preparado para usar sozinho esses recursos? Eles não acabam afastando aqueles que querem ver seu dinheiro se multiplicar, mas não têm tempo nem paciência para aprender como tirar o melhor proveito dessas tecnologias?

PM: O que temos feito é traçar um caminho diferente para cada tipo de usuário: iniciante, intermediário e avançado. E, assim, proporcionar uma experiência diferente para cada um. Temos, inclusive, uma versão light da plataforma, muita simplificada, que mostra apenas o que é essencial para que usuários iniciantes comecem sua jornada. Mas a ideia é que até isso seja feito com um conhecimento mínimo, de forma que esse investidor que está começando possa ter um debate construtivo com o assessor financeiro. Nos Estados Unidos, muita gente faz tudo sozinha, e isso é fruto da educação. Mostrar, por meio de simulações e de um visual atraente na plataforma, como se fosse um game, ajuda a experiência a ficar cada vez mais intuitiva e simples. 

 

V: O que significa a expressão financial deepening, que vem ganhando força no mercado mundial, e como o TC está preparado para isso?

PM: É a ampliação e o aprofundamento do acesso a informações sobre o mercado financeiro e também da oferta de produtos para o investidor de varejo. Um exemplo de como atuamos nesse sentido é uma das nossas investidas, a DXA Invest, por meio da qual é possível investir em private equity com a diligência da gestora. Ou seja, ela coinveste ao lado das pessoas físicas, o que faz com que busque e indique as melhores opções. Com o volume de informações disponíveis atualmente, a curadoria é um ponto fundamental para o financial deepening. O nosso objetivo é justamente este: pegar todo esse complexo arsenal, contextualizá-lo e separar o que é mais relevante para cada tipo de ativo e de economia. 

 

V: Quais são os planos para 2023?

PM: O ano que vem será de integrações – pôr tudo no qual investimos até hoje num mesmo ambiente, tornando a experiência muito mais intuitiva. Ampliar o social investing, ou seja, os investimentos feitos com base no histórico das carteiras dos experientes investidores que fazem parte do TC, também é uma tendência forte para 2023. Além disso, queremos aumentar as ofertas B2B também no aspecto transacional. Certamente será um ano difícil do ponto de vista econômico, inclusive na bolsa de valores, já que os juros continuam altos, o que favorece a renda fixa. Mas vale lembrar que é nas épocas de baixa que as oportunidades surgem. E queremos contribuir para a expansão do mercado de capitais no Brasil. Ainda há muito espaço, que só será ocupado com educação e tecnologia. 

 

Por Gabriela Garcia  | Matéria publicada na edição 129 da Versatille