Como Pedro Valsas usa a versatilidade para fortalecer seus negócios

Dono da Pão com Carne e sócio de mais três empreendimentos relacionados a gastronomia e hotelaria, Pedro Valsas compartilha sua trajetória de sucesso

Foto: Divulgação

Embora o argentino Pedro Valsas tenha certeza de que sua personalidade empreendedora é mais do que um simples traço de DNA, é inegável quanto sua família carrega um grande histórico no universo dos negócios. No início dos anos 1990, seus pais – Jorge e Lídia, chef de cozinha e arquiteta, respectivamente – saíram de Buenos Aires para começar uma vida no Brasil à frente do restaurante Refúgio do Velho Conde, casa que estava havia mais de 100 anos na família e já era conhecida em terras portenhas.  

 

Em solo brasileiro, Lídia se consolidou no ramo da arquitetura e Jorge ajudou no avanço da gastronomia local, que ainda não tinha tanto impacto no mercado mundial. Ao lado de chefs como Emmanuel Bassoleil e Laurent Suaudeau, o chef argentino fez parte de uma mudança importantíssima no setor. Na época, profissionais da cozinha não eram tão valorizados, mas, para Pedro, a atuação de seu pai era digna de orgulho e inspiração. “O mercado era fraco e desvalorizado, mas eu adorava acompanhar meu pai em tudo o que ele fazia. Tive a oportunidade de frequentar premiações gigantescas, como The Bocuse d’Or, o que foi me deixando ainda mais apaixonado”, recorda o empresário.  

 

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Em contato direto com chefs do mundo inteiro, ele reforça ter vivido muito cedo algo que poucos tiveram a oportunidade. No entanto, embora essa vivência tenha feito com que sonhasse com a carreira na gastronomia, também foi a proximidade com profissionais da área que o fez mudar de ideia. “Na época em que estava para decidir qual graduação fazer, fui a um evento gastronômico em que grandes chefs estavam presentes. Fui passando por eles e todos me recomendaram seguir outra carreira”, conta Pedro, entre risadas. “Para eles, a gastronomia era um caminho muito sofrido, e eu merecia algo melhor. Geralmente, jovens não escutam os mais velhos, mas dessa vez eu decidi concordar e fui fazer arquitetura, assim como minha mãe.”  

 

Também não foi difícil se encantar pela arquitetura. Pedro não sentiu arrependimento pela graduação e pelo mercado, embora fizesse alguns trabalhos como DJ para complementar a carreira em um escritório de projetos com madeira. Foram dez anos equilibrando os dois trabalhos e cultivando públicos diferentes em seu círculo social e profissional. Estava tudo certo em sua vida, mas havia algo gerando um pequeno e barulhento desconforto: a vontade de desbravar.  

 

Em 2015, sua mãe ganhou um dinheiro de indenização do governo da Argentina. “Meu avô era militar, mas, por ser contra um regime opressor, foi um dos primeiros a serem mortos na época da ditadura militar argentina. Após muitos anos, recebemos 120 mil reais por conta do ocorrido, e minha mãe decidiu deixar o dinheiro para mim”, explica o empresário. “Eu sabia que isso não era tanto para o mercado de São Paulo, mas era um sinal de que estava na hora de começar meu negócio.”  

 

Sempre atento ao mercado, Pedro enxergava um grande crescimento de hamburguerias na capital paulista. Mas, como bom amante da gastronomia, tinha algo que o incomodava: as casas estavam muito sofisticadas para o gosto do empresário. Além disso, com tanta concorrência, era hora de se destacar por oferecer um projeto diferente dos demais. Foi assim que a Pão com Carne nasceu. Em um espaço de 27 metros quadrados e apenas um funcionário, a casa nasceu com a intenção de simplificar o setor. “Era a volta do hambúrguer a sua essência”, brinca.  

 

Com o apoio da família, dos amigos e dos clientes que tinha conquistado em seus dez anos como arquiteto e DJ, Pedro passava 24 horas pensando no avanço da Pão com Carne. Foi um trabalho árduo de construção de imagem – com projeto arquitetônico feito por ele mesmo –, mas que logo começou a mostrar resultados. As filas passaram a dar a volta no quarteirão. “Eu sentia falta dessa simplicidade, e acho que os consumidores também. Nosso nome representa isso. Oferecemos pão com carne. É simples e delicioso. Além disso, nosso espaço é pequeno, com apenas algumas bancadas e tonéis na rua. Tinha muita hamburgueria na região, mas parece que nossa qualidade e essência nos trouxeram destaque.”  

 

Quatro meses antes de a pandemia de covid-19 começar, a hamburgueria expandiu para o mercado de delivery. Pedro não acredita em premonição, mas reforça que às vezes é importante contar com a sorte na hora de empreender. Quando a crise sanitária explodiu, a Pão com Carne já tinha estrutura de entregas e acabou não sofrendo tanto com as paralisações do setor. Na realidade, as vendas triplicaram, e foi possível expandir a hamburgueria. Hoje, a casa tem 54 metros quadrados e 32 funcionários.  

 

Embora goste de estar presente nos avanços do negócio, esse crescimento fez com que o empresário aprendesse a delegar funções e ganhasse um tempo para deixar a criatividade fluir. Com a veia empreendedora cada vez mais estimulada, foi nesse ponto que novos negócios surgiram. “As coisas não aconteceram da noite para o dia. Gosto de contar que a Pão com Carne começou com apenas um funcionário porque hoje tudo parece mais fácil. Foram muitos dias de trabalho até chegarmos aqui”, ressalta ele, que também é sócio da hospedagem Cabanas Clampett, em Campos do Jordão, da pizzaria Costello, em São Paulo, e do curso sobre gestão de hamburguerias Burger Tour Brasil, que viaja o país com mentorias empresariais.  

 

EXCESSO DE VERSATILIDADE  

 

Pedro define seu perfil como empreendedor a partir de duas palavras: simplicidade e versatilidade. Uma ideia pode ser genial mesmo quando não possui grandes artimanhas. A Pão com Carne fez sucesso exatamente por oferecer o básico com qualidade. Já no quesito versatilidade, ele enriquece seu conhecimento de mercado por conhecer novos setores e diversificar sua visão – e, claro, como um bom inquieto, estar à frente de tantos negócios é simplesmente estimulante.  

 

O projeto de hospedagem em Campos do Jordão já conta com duas cabanas ativas, e o empresário prevê a construção de mais três unidades até 2023. O Burger Tour, que é formado por mais quatro pessoas do ramo de hamburguerias, possui o patrocínio de empresas como ifood e McCain e já se consolidou na área, com adesões por todo o país. Já a Costello Pizza, uma sociedade com o amigo Saulo Matos, tem como objetivo um plano de expansão por São Paulo. Como se não bastasse, o empresário ainda tem um novo restaurante na manga: uma casa-laboratório em Campos do Jordão, para que consiga cozinhar mais do que hambúrgueres e possa brincar na cozinha.  

 

 

De certa forma, todos esses empreendimentos possuem relação com gastronomia ou arquitetura. A primeira cabana na Serra da Mantiqueira, por exemplo, foi toda projetada pelo empresário – que chegou a realmente pôr a mão na massa para levantar a estrutura da hospedagem. Para ele, essa entrega aos projetos é mais um de seus conselhos para quem busca decolar no empreendedorismo.  

 

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“São projetos diferentes, que me geram desafios diferentes. Eu gosto de criar projetos e soluções e não tenho muito apreço pela monotonia. Tenho 35 anos, então cada dia é uma evolução”, revela. “Aprendi a terceirizar, mas ainda assim gosto de participar. Tudo depende do equilíbrio, e é isso que gosto de expor nas minhas redes, quando interajo com os seguidores e respondo às caixinhas de perguntas. Alguns passos não precisam ser dados por mim, apenas geridos.”  

 

Com espírito camaleão, Pedro não deixa de ser questionado sobre qual é o limite para seus anseios empreendedores. “Não penso em fazer nada no mercado de saladas. Meu negócio é hambúrguer e pizza. Mas nunca diga nunca, não é?”, brinca.  

 

Por Beatriz Calais