“Nosso consumidor sabe exatamente o que quer: exclusividade e qualidade”, diz Ricardo Almeida sobre trabalho consagrado na alfaiataria

No ano em que completa quatro décadas de profissão, Ricardo Almeida segue reinventando-se e criando novas frentes

Ricardo Almeida (Foto: Victor Daguano)

Apaixonado pelo ofício, os quase 40 anos de carreira não fizeram Ricardo Almeida se acomodar – tampouco desacelerar. Pioneiro na alfaiataria masculina, o estilista acaba de lançar uma campanha de noivas, pensada para mulheres que desejam fugir do clássico vestido de casamento. Aliando sempre matéria-prima de alta qualidade a caimento perfeito, Ricardo Almeida busca entregar não só uma peça de roupa, mas uma experiência que provoca os sentidos e atribui a sofisticação que um momento memorável merece. 

 

Em vez de tentar reproduzir os tradicionais designs da época, preferiu construir a própria história frente à alfaiataria. Foi assim que Ricardo, em 1983, saiu de uma sociedade e montou sua fábrica, que fornecia peças às principais marcas do país. Em 1991, outro turning point: decidiu não vender mais para outros lojistas e, sim, criar sua grife homônima, mirando um produto de melhor qualidade, com tecidos nobres, modelagem impecável e acabamento minucioso. De lá para cá, Ricardo expandiu sua presença no país, com mais de 20 lojas e 800 funcionários, e se tornou um dos nomes mais sólidos e reconhecidos do segmento. 

 

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“Sempre procurei fazer uma roupa um pouco mais moderna do que já existia, mas sem ser exageradamente diferente. Sou muito chato com a modelagem e, até chegar aonde eu quero, são os detalhes mínimos que, para mim, fazem a diferença”, exalta. A fim de alcançar um resultado ainda mais preciso, a fábrica ciclópica no Bom Retiro já recebeu inúmeras benfeitorias, como maquinário e tecnologia de ponta. 

 

Investimentos e inovações tecnológicas, no entanto, não se sustentam isoladamente. Ao longo destes quase 40 anos, a marca vem conquistando a fidelidade de seus clientes a partir de experiências personalizadas, como o atendimento “sob medida” – que é feito pelo próprio alfaiate. A Ricardo Almeida também expandiu sua atuação além do terno e da camisa, criando as linhas casual, feminina, de calçados e a fresquíssima campanha de noivas. Esse sublime equilíbrio entre tradição e inovação tem sido a receita para manter a empresa alinhada com as demandas crescentes do mercado. 

 

(Hudson Rennan)

 

Não é raro ver o nome de Ricardo se repetir nos créditos de figuras importantes, como atores, cantores, fashionistas, figuras políticas e atletas, como os jogadores da seleção brasileira de futebol. Aos 68 anos, parar, definitivamente, não é uma alternativa. Os novos planos de Ricardo beiram o disruptivo, com a expansão da marca por um caminho mais descolado, junto dos dois filhos caçulas, bem como a aposta no crescimento das coleções femininas. As agulhas seguem batendo nas máquinas e costurando essa história de ascendente sucesso. Confira, na sequência, um bate-papo com Ricardo Almeida.  

 

Versatille: Sua história está espalhada pelos quatro cantos, mas conte um pouquinho aos leitores de que forma a alfaiataria entrou na em vida.  

Ricardo Almeida: Sempre gostei de velocidade. Aos meus 18 anos, eu participava de corridas de motocicleta e comecei a trabalhar para “patrocinar” esse hobby. Comecei trabalhando como representante comercial em uma camisaria, acabei me encantando com esse mundo e fui aprender lá dentro toda a parte de modelagem, escolha de tecidos… Após alguns anos, resolvi seguir carreira-solo e montei uma pequena confecção. Desde então, nunca mais parei. 

 

V: Quais marcas e profissionais foram – e ainda são – inspiração? 

RA: No início, minha principal referência era o Giorgio Armani. Atualmente, estudo mais o comportamento das pessoas do que as marcas em si. Como inspiração, desde o início, não posso deixar de citar Fernando de Barros, que foi meu padrinho na moda, e Raul Cortez. Foram homens muito elegantes e que me influenciaram. 

 

V: Ricardo, dez anos após o lançamento da linha feminina casual, temos a quentíssima e inédita campanha de noivas. Por que agora? 

RA: A linha feminina abrange não só o casual, mas todos os momentos da vida da mulher. Devido à mudança no comportamento dos consumidores, em especial das mulheres, temos visto a busca por novas opções de trajes para o casamento. Elas não precisam mais ficar limitadas aos vestidos ou conjuntos com saia e blusa. As uniões modernas têm uma procura ainda maior pela alfaiataria, principalmente quando são realizadas no civil ou em alguma cerimônia mais intimista. E o fato de a alfaiataria estar cada vez mais em evidência reforça ainda mais esse movimento. 

 

V: Então, você já sentia essa procura das mulheres. Existia um receio em lançar antes? 

RA: Já sentia, mas a procura não era tão grande quanto hoje. Acho que o lançamento foi feito no momento que tinha que ser. Já trabalhávamos a linha feminina e, agora, vamos aumentá-la cada vez mais. 

 

(Hudson Rennan)

 

V: Agora, quais são as peças da campanha de noivas? 

RA: Na campanha, trouxemos uma calça pantalona, uma camisa oversized de organza, uma regata de seda e um blazer mais alongado. Mas a linha Noiva é feita sob medida, o que permite que a gente desenvolva o melhor para o biotipo de cada noiva, para deixá-la mais bonita e confortável. 

 

V: Com quais tecidos você mais gosta de trabalhar? 

RA: Não costumo olhar o tipo de tecido. O mais importante é a qualidade que o tecido pode oferecer às peças. Contamos com uma curadoria muito apurada para a escolha de nossas matérias-primas. Temos parcerias com as principais tecelagens do mundo, inclusive, tendo exclusividade com algumas delas: somos a única marca da América Latina e uma das 13 do mundo a obter a linha Zenit, da Loro Piana. 

 

V: Você acredita que as pessoas estão cada vez mais dispostas a pagar pelo luxo de uma experiência personalizada e exclusiva? 

RA: Sim, nossa linha sob medida só cresce, nossos clientes querem exclusividade e discrição e não se importam em pagar por isso. 

 

V: Como você define seu consumidor? Quais são as exigências que carregam? 

RA: Nosso consumidor sabe exatamente o que quer. Como disse, ele quer exclusividade e qualidade, quer estar sempre com peças que sejam confortáveis e que, ao mesmo tempo, proporcionem sua melhor versão. E é isto que oferecemos para ele: curadoria de matéria-prima, modelagem perfeita, qualidade, peças atemporais sofisticadas e extremamente elegantes. É um luxo pessoal; eles não querem e não precisam mostrar para o mundo um logo ou uma marca estampada na peça. 

 

V: Li uma entrevista sua, dada em 2019, em que você dizia ter a intenção de vender 20% da marca. Esse plano se concretizou? Como estão os negócios hoje? 

RA: Ainda não se concretizou. Continuamos em contato com um grupo internacional, mas entendemos que, para nós, ainda não é o momento. 

 

V: Falando em parcerias, quais são seus critérios ao se associar com outra marca? 

RA: Sinergia com nossos valores. 

 

V: O que o futuro promete para Ricardo Almeida? 

RA: Durante esses 40 anos, estávamos aprendendo. Agora, vamos começar de verdade. Estamos fortalecendo nossa linha masculina, acabamos de abrir o Studio, um espaço totalmente disruptivo, e a RA2, uma nova marca está nascendo dentro da Ricardo Almeida, em parceria com os meus dois filhos mais novos. Acredito no novo, no olhar para o futuro; então, tem muito mais coisa por vir. Vocês verão!  

 

Por Maria Paula Martins | Matéria publicada na edição 132 da Versatille

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