“A gastronomia salva vidas: seja como alimento, seja como fonte de renda”, diz o chef Pedro Barbosa
Finalista do programa Mestre do Sabor, o cozinheiro participa da nova série 3X4 da Versatille a respeito do olhar da nova geração sobre a gastronomia
Paracatu, cidade no noroeste de Minas Gerais, é conhecida por ter recebido o glorioso título de capital do pão de queijo. A mais de 400 quilômetros de Belo Horizonte, o município também possui uma lista de quitutes que dificilmente são encontrados em outro canto do país. O chef Pedro Barbosa fala com muito orgulho – e água na boca – das riquezas gastronômicas de sua cidade natal.
Afinal, foi por conta do contato direito com tantas delícias que o jovem se aproximou da cozinha. Em parceria com sua avó, que trabalhava como cozinheira, ele se apaixonou pela arte de criar com ingredientes e sabores. De certa forma, o caminho da culinária nunca foi uma dúvida. Em 2015, Barbosa voou para São Paulo em busca de oportunidades. Em meio a tantos processos seletivos, foi aprovado como estagiário no Maní, de Helena Rizzo, considerado um dos melhores restaurantes do mundo.
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Foi parceiro da famosa chef por sete anos, mas recentemente saiu do restaurante para alçar novos voos e conquistas. Em 2021, o chef também participou do programa Mestre do Sabor, da Rede Globo, e foi finalista, chamando a atenção pela criatividade e contemporaneidade de seus pratos.
Sexto participante da nova série 3X4 da Versatille, o jovem cozinheiro respondeu a algumas perguntas sobre sua história e sua visão gastronômica. Confira a seguir.
Versatille: Quando e por que decidiu se tornar cozinheiro?
Pedro Barbosa: Eu decidi por influência familiar. A minha avó e todas as minhas tias do lado paterno trabalham com gastronomia. Minha avó era cozinheira em um restaurante da minha cidade, mas, quando o estabelecimento fechou, ela precisou pensar em outra estratégia de sobrevivência. Começou a fazer aqueles pirulitos de açúcar bem cara de vó e de interior, e vendia na cidade inteira de Paracatu, no noroeste de Minas Gerais. Ela ficou muito conhecida por isso na região, e eu a ajudava a fazer esses pirulitos. Fui pegando gosto pela cozinha e aprendendo outras receitas. Eu era uma criança muito curiosa, e meus pais saíam para trabalhar cedo, então ficava sozinho e sempre inventava algo para comer. Foi assim que me tornei cozinheiro.
V: Como descreveria seu estilo de cozinha?
PB: Uma culinária mais contemporânea. Eu gosto muito da comida mineira, porque me lembra a cozinha de casa, mas estou sempre agregando isso a novas técnicas. Acho que o contemporâneo é isto: explorar novas técnicas com ingredientes que já conhecemos e que amamos.
V: O que busca transmitir por meio de seus pratos?
PB: Afeto. Quando você cozinha com carinho, acaba passando isso para a comida e, consequentemente, para quem está provando. Você desperta sentimentos novos em quem está ali comendo. Meu objetivo é fazer pratos que se transformem em memórias que ficarão ali para sempre.
V: Para você, o futuro da cozinha é…?
PB: Um dos pontos do futuro da cozinha é a valorização dos pequenos. Dos chefs que trabalham para sobreviver, como uma dona de casa que faz bolos para vender na vizinhança. Além disso, a valorização da regionalidade da gastronomia nacional. Temos tantas cozinhas maravilhosas que não conseguimos definir o Brasil em apenas um prato. No geral, é a valorização do interno e do pequeno que fortalece a nossa culinária.
V: Em sua profissão, em quem se inspira?
PB: Eu me inspiro muito na Helena Rizzo, que é uma mulher maravilhosa e que está quebrando várias barreiras na gastronomia, e também no João Diamante, que tem um projeto social sensacional no Rio de Janeiro. Eu acho que a gastronomia salva vidas: seja como alimento, seja como fonte de renda para ajudar pessoas que necessitam daquele dinheiro.
V: Qual foi o prato mais marcante que já cozinhou em sua vida?
PB: A sobremesa que eu fiz para entrar no programa Mestre do Sabor me marcou muito. Ela era muito diferente, e eu fiquei bastante tempo estudando a combinação de ingredientes: um iogurte com maçã verde, poejo e coentro – superdiferente e me fez parar para pensar o que essa combinação poderia causar no paladar de quem provasse.
V: E o prato mais marcante que já comeu?
PB: No próprio Maní, temos um ceviche de caju delicioso, que me marcou muito. Foi depois que eu provei esse prato que comecei a entender melhor o que é a criatividade na cozinha. É você pegar um prato tão famoso quanto o ceviche tradicional e trocar a proteína, utilizando o caju, que incrivelmente tem textura de peixe, de uma forma muito diferente, deixando a receita sensacional. É essa contemporaneidade na cozinha que me inspira tanto.
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V: O que há de mais especial na culinária brasileira?
PB: O pequeno produtor regional. São essas veias que temos na raiz do nosso país que enriquecem nossa cozinha. O mais valioso realmente são esses pequenos artesãos. Na minha cidade, por exemplo, a gente tem quitutes que só existem lá, como a empadinha de capa fina, a queijadinha de coco, queijo e mandioca, e o mané pelado, que é um bolo de abacaxi e mandioca com coco. Além disso, somos conhecidos como a capital mundial do pão de queijo. Não encontramos essas coisas em outro lugar, então eu sou muito apaixonado por essa cultura de valorizar o regional.
Por Beatriz Calais