“Conseguimos aproveitar ingredientes inteiros com criatividade e zero desperdício”, diz o chef Ygor Lopes

À frente da charcutaria do AE! Cozinha, Lopes participa da série 3X4 da Versatille a respeito do olhar da nova geração sobre a gastronomia

(Foto: Gabriel Bertoncel)

O interesse de Ygor Lopes pela gastronomia foi despertado dentro de casa, vendo sua mãe, avó e bisavó cozinhando. Ainda pequeno, ele se encantava com todas as etapas que envolviam o ato de cozinhar: desde a ida ao supermercado até a montagem da mesa para o jantar em família. A carreira na área nunca foi uma dúvida, e o jovem cozinheiro começou cedo, aos 14 anos, como estagiário em um hotel de Maceió.

 

Já cursando gastronomia e trabalhando em um restaurante da capital paulista, conheceu Walkyria Fagundes, sua parceira de trabalho e de vida. “Tínhamos sonhos parecidos, então logo começamos a fazer bufês para eventos em São Paulo. Era uma maneira simples de ter nosso negócio culinário. Nesse meio tempo, também decidimos juntar dinheiro para ficar um ano estudando e trabalhando na Espanha. Foi uma experiência incrível”, recorda Lopes. Na volta para o Brasil, o casal retomou a atividade de comida para eventos, mas com um sonho maior em mente: abrir o próprio restaurante.

 

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“Não queríamos trabalhar em algo que não fosse nosso”, reforça. Em 2019, eles inauguraram o AE! Cozinha, um sobrado charmoso na Vila Mariana que entrega um cardápio autoral e intimista, com muita personalidade. Atualmente, o chef esteve em destaque por conta de sua participação no novo seriado Iron Chef, da Netflix, que foi lançado no início de agosto.

 

Último participante da série 3X4 da Versatille, o jovem cozinheiro respondeu a algumas perguntas sobre sua história e sua visão gastronômica. Confira a seguir.

 

Versatille: Quando e por que decidiu se tornar cozinheiro?

 

Ygor Lopes: Eu comecei a me interessar pela gastronomia em casa, assistindo programas de TV e observando minha família na cozinha. Pedia para minha mãe me ensinar as receitas e gostava de ir à feira e ao supermercado com ela. Mas meu primeiro contato real com a culinária foi durante o curso no Senac. Ele durava um mês e era uma espécie de resumo da faculdade de gastronomia. Eu tinha 14 anos, e ali tive a certeza de que seguiria isso como profissão. Meu primeiro estágio foi durante as férias em um hotel de Maceió. Meus pais representavam esse hotel e me ajudaram nessa oportunidade. Na época, eu ainda estava no ensino médio. Fiz esse estágio durante dois anos, até finalmente ingressar na faculdade de gastronomia.

 

(Foto: Gabriel Bertoncel)

 

V: Como descreveria seu estilo de cozinha?

 

YL: Eu tenho um interesse muito grande por charcutaria. Estou focado em trazer esse conceito para a casa, desde as entradas até os pratos principais. Isso me representa muito como chef, então quero levar para o AE! Cozinha.

 

V: O que busca transmitir por meio de seus pratos?

 

YL: Sou muito chato no processo de criação (risos). Demora para eu realmente me sentir satisfeito, porque busco sempre entregar o inusitado. Quero que o cliente prove e pense: “O que é isso? Nossa. Que diferente”. Quero gerar esse sentimento de surpresa nas pessoas, com texturas e sabores que fogem do óbvio. Uma explosão na cabeça.

 

V: Para você, o futuro da cozinha é…?

 

YL: Imagino uma cozinha mais consciente no sentido de conhecimento sobre a origem dos produtos e o cuidado que eles requerem. Conseguimos aproveitar ingredientes inteiros com criatividade e zero desperdício. Não precisamos jogar as sobras fora. Temos muito espaço para criar, e a nova geração já entendeu isso.

 

V: Em sua profissão, em quem se inspira?

 

YL: Muita gente, mas, atualmente, por conta da charcutaria, eu estou destinando muita atenção para a gastronomia da França.

 

(Foto: Gabriel Bertoncel)

 

V: Qual foi o prato mais marcante que já cozinhou em sua vida?

 

YL: Um risoto de abóbora com queijo de cabra e espuma de castanha-do-pará que eu fiz no início do AE!. Ele tinha texturas muito diferentes e recebia bastante atenção dos clientes. Era um dos mais pedidos. Eu já enjoei de tanto que fiz, mas ele foi muito especial para a minha história (risos).

 

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V: E o prato mais marcante que já comeu?

 

YL: Eu estudei na Espanha, e um dos pratos que conheci lá me marcou bastante. Era uma cabeça de peixe inteira, que demorava muito para ser limpa, com tubérculos confitados e um molho da casa. Todas as partes da cabeça do peixe eram aproveitadas: bochechas, cartilagens e tudo o mais. Isso dava riqueza para o prato e valorizava o ingrediente. Parecia algo simples, mas me ensinou muito sobre pensar fora da caixa e explorar a complexidade mesmo com poucos ingredientes.

 

V: O que há de mais especial na culinária brasileira?

 

YL: Os ingredientes nacionais. Muitas vezes, focamos a riqueza do exterior e esquecemos o que temos dentro do nosso país. Precisamos apoiar nossos pequenos produtores e valorizar os produtos 100% brasileiros. Nesse processo, até conhecemos novas iguarias. É tudo muito valioso.

 

Por Beatriz Calais

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