Projeto reabre discussão sobre o bom aproveitamento dos espaços públicos

Além de reanimar o setor gastronômico em meio à pandemia, o projeto traz à tona a necessidade de retirar veículos motorizados do centro e oferecer mais espaços ao ar livre para a população

Por Daniela Filomeno e Tina Bini | Matéria publicada na edição 116 da Revista Versatille

 

Não é de hoje que o desejo de ocupação dos espaços públicos vem sendo colocado em prática no Brasil. Desde 2014, vagas na rua têm dado lugar aos parklets com áreas de descanso, com a diferença que nada pode ser comercializado ali. Usar como a extensão de um restaurante ou bar é prática muito comum na Europa – como as mesas dos cafés parisienses, as mesas externas em São Francisco ou as varandas no Soho ou em West Village, em Nova York. Neste momento em que o setor gastronômico tem sofrido e funcionado muito abaixo de sua capacidade, por que não aplicar essa ideia aqui?

 

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Mais importante centro econômico do Brasil, dona de uma agenda cultural riquíssima e com um repertório gastronômico de dar inveja a muitas outras grandes cidades ao redor do mundo, São Paulo ainda não acordou para criar espaços de convivência. Afinal, as ruas não são apenas passagem. Integram a vivência da metrópole. A boa notícia é que a prefeitura tem firmado parcerias com o setor privado, de maneira a não onerar os cofres públicos, para reverter a situação.

 

No início de agosto, o projeto batizado de Ocupa Rua, idealizado pela jornalista e crítica gastronômica Alexandra Forbes, ao lado do casal de chefs Jefferson e Janaína Rueda e do escritório de arquitetura Metro, entrou em ação em mais um importante capítulo para a transformação do centro de São Paulo. E que pretende ser expandido para as demais regiões, com o apoio da iniciativa privada.

 

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A ideia é instalar terraços ajardinados no asfalto, com parklets, mesas, cadeiras e bancos (as calçadas seguem desocupadas), com projeto arquitetônico e mantendo o fluxo dos pedestres. O plano piloto teve início com a reinauguração do A Casa do Porco, onde se consegue ver in loco como ficará a ocupação do centro paulistano e das gastronômicas ruas próximas à Praça da República, como a Major Sertório, a Bento Freitas, a General Jardim e a Araújo. Ali, concentram-se 30 bares e restaurantes, entre eles os concorridos Z Deli, Sertó, Orfeu e Fel, além de todos os estabelecimentos dos Ruedas, como Bar da Dona Onça, Sorveteria da Cidade e Hot Pork. Para essa fase inicial, grandes marcas, como Heineken, Magazine Luiza e Johnnie Walker, estão apoiando.

 

 

A ideia surgiu no início do ano, quando a crise no setor gastronômico chegou com a pandemia da covid-19 e as casas tiveram de fechar suas portas. Agora, no processo de reabertura, com a quantidade de lugares reduzidos, é uma aposta para atrair mais clientes e reequilibrar as contas. Tem conforto e segurança graças ao espaço extra para receber ao ar livre, distanciamento social necessário, além de lavatórios e totens com álcool em gel disponibilizados ao longo do espaço, evitando a necessidade de entrar no salão para higienizar as mãos.

 

Porém, a ideia não é ocupar as ruas apenas durante esse período de retomada do comércio. O projeto pretende expandir e virar algo fixo não só no centro, mas em outros bairros que já começaram a se movimentar para replicar a proposta, como Pinheiros, Itaim, Vila Nova Conceição e Vila Madalena.

 

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Ocupar as ruas é uma forma de deixar a cidade mais dinâmica, como é feito em Paris, Milão e Istambul, que procuram favorecer os pedestres e ciclistas em vez de dar prioridade a veículos motorizados em seus centros e bairros badalados.

 

Sem dúvida é uma ótima maneira de incentivar a sociabilidade, trazer mais segurança e mostrar que as ruas não devem operar apenas como lugares de deslocamento, mas se transformar em locais agradáveis e acessíveis para a população conviver e usufruir o espaço urbano.

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