Tantas Lisboas: conheça a capital portuguesa sob um novo olhar
Com muita gastronomia e cultura, a "terrinha" pode ser bem mais do que tudo que já falaram sobre ela
Lisboa, capital da “terrinha”. Amada por tantos, por motivos infinitos. Talvez seja por seu patrimônio imaterial, sua luz, celebrada há séculos por escritores e pintores: tons de rosa, amarelos e ocres, que refletem no Tejo ou nas calçadas portuguesas, um dos elementos que mais acusam que se está em território português. Talvez também seja porque Portugal é um mundo à parte da Europa “convencional”. Em primeiro lugar, diferencia-se por seus azulejos portugueses, que cobrem as fachadas e os ambientes internos de casas, pátios e palacetes. Seria clichê, no entanto, atentar-se apenas às calçadas e aos azulejos quando existem tantos outros motivos para pelo menos gostar ou até mesmo visitá-la uma, duas ou muitas vezes. Entre idas e vindas constantes, percebe-se que cada dia há mais o que ver, provar e conhecer. Confira, na sequência, paradas obrigatórias em sua próxima visita.
Charme puro
O bairro do Príncipe Real reúne diversos pontos de interesse e vale um passeio sem pressa. Comece pelo Jardim do Príncipe Real, que tem, além de natureza exuberante, duas feiras interessantes: de antiguidades e artesanatos, que acontecem toda segunda-feira e no último sábado do mês; e o mercado biológico (de orgânicos), em todos os sábados de manhã. Na sequência, siga para uma parada estratégica na chocolateria Bettina Corallo, uma pequena loja que reúne bons cafés e ótimos chocolates artesanais. Continue o tour gastronômico até a Queijaria Cheese Shop, que oferta curadoria impecável de queijos, de nacionalidades além dos portugueses. Volte para a Rua da Escola Politécnica, que em certo ponto se torna Praça do Príncipe Real, e aproveite para descobrir as lojas de roupas e acessórios. Em uma leve descida, continue para a Rua Dom Pedro V, que levará você a um ponto perfeito de contemplação: o Miradouro de São Pedro de Alcântara.
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De coleções privadas, dois excelentes museus
O Museu Calouste Gulbenkian reúne um dos mais importantes conjuntos privados de obras de arte do mundo. O engenheiro armênio Calouste Sarkis Gulbenkian, que morou parte de sua vida na cidade, deixou como legado uma fundação com todas as obras que reuniu em 50 anos de colecionismo: mais de 6 mil exemplares, que passam por 5 mil anos de história. Um pouco mais afastado, nos arredores da Torre de Belém, está o Museu Coleção Berardo, o principal de arte moderna e contemporânea de Portugal. Por trás de sua galeria está o colecionador português Joe Berardo, que, mesmo em vida, empresta parte de seu acervo para a apreciação do público. Nomes como Andy Warhol, Picasso, Mondrian e Duchamp o compõem.
A praça mais querida
A Praça das Flores é um destino por si só – também conhecida por Jardim Fialho de Almeida, jornalista e escritor alentejano que morou em Lisboa grande parte de sua vida. Pitoresca e arborizada, é um convite a um café, onde provavelmente se escutará muito francês e inglês (britânicos e franceses adoram a região). A poucos passos, na Rua Nova Piedade, está a Marquise, que tem como head baker o brasileiro Diego Haupenthal – na disponibilidade de, peça o cruffin, que sai do forno em diferentes versões. Também em uma das ruas que circundam a praça, o bar de vinhos Black Sheep tem tamanho reduzido, um contraponto a sua extensa e ótima oferta de vinhos em taça e garrafa, todos de produtores de pequena escala e independentes.
Hotéis para todos os gostos
Como toda cidade com fluxo turístico intenso, o que não faltam são opções de hotéis. O mais “clássico” é o cinco-estrelas Ritz Four Seasons, que passou por uma reforma recente e tem apartamentos amplos e confortáveis, de estilo art déco, além de áreas comuns amplas e generosas, com piscinas externas e interna, além de spa. O restaurante estrelado Cura (publicado na edição 126 da Versatille) é outro destaque. Ainda na parte gastronômica, o brunch dominical é famoso, além do café da manhã, que pode ser apreciado no restaurante ou no quarto.
O cinco-estrelas Tivoli Avenida da Liberdade tem localização privilegiada, especialmente para aqueles que gostam de fazer compras, pois está ao lado das lojas das principais grifes. É também na avenida onde se sente mais em uma capital europeia, graças a sua largura e aos canteiros com árvores, além de ser, em grande parte de sua extensão, plana. Já no Bairro Alto, passando o Largo do Chiado, está o Bairro Alto Hotel, na Praça Luís de Camões. Um chique “low profile” e membro da The Leading Hotels of the World, que a vale a estadia e visita, principalmente ao BAHR, que tem vista para o Tejo.
A nova gastronomia lisboeta
Enquanto restaurantes-instituições como O Solar dos Nunes, Ramiro e Gambrinus seguem intactos, Lisboa mostra novas facetas de seus restaurantes e cozinheiros, que até nos fazem pensar: “Poderiam estar em qualquer lugar do mundo”; mas não estão, e isso pode ser uma ótima coisa: ingredientes frescos, clima mais tranquilo e vinhos portugueses em abundância (sejam eles tradicionais, orgânicos, naturais ou biodinâmicos).
Clássicos, sim, mas reinventados
A pequena taberna O Velho Eurico serve pratos portugueses, mas com um toque jovem – e cozinheiros idem no comando. Caso a temperatura esteja boa, a recomendação é sentar-se do lado de fora e aproveitar os pratos bem servidos, caso do bacalhau à Brás, mais cremoso do que o tradicional, e do arroz de pato. Para a sobremesa, opte pelo leite creme, o crème brûlée dos portugueses, ou, caso seu paladar seja realmente para doces, a baba de camelo. A Tasca Baldracca, que tem o chef Pedro Monteiro no comando, serve pratos de culinária informal de diversos países, como o polvo à lagareiro, que é português, e o steak tartare, uma receita tipicamente francesa, acompanhado por pastéis de vento (uma memória do chef, que é brasileiro). @ovelhoeurico | @tascabaldracca
Vinhos e mais vinhos
Uma mercearia com ótimos produtos de Portugal, onde é possível apreciar vinhos acompanhados por tábuas de queijos e charcutaria e comprar tudo para levar para casa. Eis a Comida Independente, bem próximo à famosa Rua Verde. Um pouco mais afastado, na região da Estrela, está o Senhor Uva, wine bar com menu totalmente vegetariano, pareado com vinhos naturais e biodinâmicos. Já para comidas mais informais – e para literalmente sentar no passeio, ou calçada, em português do Brasil –, vá ao Tati, em Penha de França, e peça pequenas porções, como as tarte tatins salgadas, que variam de sabor, e as empanadas argentinas, herança da chef Romina Bertolini. @comida_independente | @senhor.uva \ @tati_tati_lisboa
Quarteirão imperdível
O edifício onde no passado funcionou uma antiga fábrica é atualmente “morada” de dois restaurantes que são a cara da nova Lisboa: Prado e Prado Mercearia, que possuem no comando os chefs António Galapito e Pedro Forato, respectivamente. Ambos utilizam na maior parte ingredientes portugueses, provenientes de pequenos produtores. No Prado, comece pelos snacks clássicos, como a tosta de sardinha curada acompanhada por lardo defumado, e não deixe de experimentar a abóbora com soro de leite e manteiga tostada, que leva flores delicadas no topo. No Prado Mercearia, a criatividade impera, com menus que mudam semanalmente, com predominância de vegetais, peixes e frutos do mar, todos bonitos de se ver. À noite, a “mercearia” fica no clima perfeito de um bar de vinhos e oferece algumas opções que, no caso, se repetem, como as gambas da costa, pequenos camarões que após, serem curados em sal e açúcar, recebem lâminas de laranja, emulsão de manteiga e óleo de folha de figueira. @prado_restaurante | @prado_mercearia
Poderia estar em Paris, mas está em Lisboa
As pâtisseries mais lindas da cidade estão na Juliana Penteado, de autoria da chef brasileira homônima. Seus doces, delicados, são feitos de óleos essenciais, que variam entre entremets, pavlovas, tartes, sandwich cookies e choux, com sabores que mudam todas as semanas. A pequena loja, na Calçada da Estrela, complementa de forma perfeita as criações e vale a visita. @juliana__penteado
Future oriented
O Sem, do casal Lara Espírito Santo e George Mcleod, foca em muito além da sustentabilidade. Com o objetivo de apoiar pequenos produtores e práticas regenerativas e combater o desperdício alimentar, o restaurante serve menu degustação de seis etapas e também opções à la carte, estritamente com o que há disponível na época e proveniente dos produtores com os quais trabalha. Outro pilar é evitar ao máximo o desperdício, com o uso de todas as partes dos ingredientes, e também diminuir o consumo de plástico, incentivando o reúso e a substituição do mesmo. @restaurant.sem
Por Giulianna Iodice| Matéria publicada na edição 127 da Versatille