Masculino desconstruído: uma forte tendência nas ruas e nas passarelas

O consultor de imagem e apresentador Arlindo Grund comenta tendências do universo masculino marcadas por uma constante evolução de estilo e quebra de paradigmas

(Reprodução)

Para alguém fora do mundo da moda, é difícil se desprender de convenções ao refletir sobre roupas masculinas, principalmente quando se trata de pensar além da formalidade. Segundo Arlindo Grund, foi culturalmente disseminado que na moda para o homem há regras, discrição e tradição. Não à toa, o estilo clássico composto de terno e gravata é de pronto imaginado quando a vestimenta masculina entra em discussão. Felizmente, os tempos mudaram, e o especialista aponta uma evolução no que diz respeito ao amadurecimento do olhar dos consumidores.

 

“Para falar de roupas, é necessário entender o comportamento do consumidor, seus desejos e suas necessidades”, diz. Assim como no universo feminino, o período de isolamento redefiniu a relação dos homens com a moda, uma vez que a volta do momento de escolher a roupa – aguardado por uns, inevitável para outros – impulsionou a reflexão sobre a imagem comunicada por meio da vestimenta. “É assim que começa um pensamento evolutivo”, afirma Grund.

 

LEIA MAIS:

 

É clichê, mas é da dificuldade que nascem aspectos positivos, e a moda hoje representa isso: “Um respiro para tempos difíceis e, ao mesmo tempo, uma porta de saída para o convencional, o repetitivo e o careta. Como instrumento democratizador, ela percebe em seus consumidores diferentes necessidades. É a moda sendo plural, representativa, inclusiva e diversa”, conclui.

 

Confira, a seguir, cinco tendências observadas por Grund presentes na moda masculina atual.

 

(Reprodução)

 

Influência do streetwear  

 

“A moda de rua vem se apropriando de espaços que nunca foram explorados. Se o homem demorou para aceitar e usar uma calça curta, por exemplo, quanto tempo ele levará para absorver o que está acontecendo de novo? Se é para falar de calças, o fato é que o olhar volta para os anos 1970, 1990 e 2000. Modelagens espaçosas vão cada vez mais ganhando espaço no guarda-roupa masculino, e isso ocorre por conta da influência dos esportes que prezam o conforto.”

 

Ousadia nas passarelas

 

“Um momento inusitado e apoteótico entre as apresentações de moda masculina da temporada de primavera/verão 2023 foi a coleção do estilista Thom Browne. Sua inspiração foi o universo western, com uma forte influência dos caubóis americanos. Mas se você pensa que já se esgotaram as possibilidades acerca desse tema é porque não viu a proposta ousada, texturizada e sensual do estilista, que provocou os olhares dos espectadores.”

 

(Reprodução)

 

Desconstrução da imagem masculina

 

“Basta olhar as ruas para entender que a maioria dos homens está se desprendendo do conceito frágil da masculinidade em relação ao que vestir. Misturas, modelagens, influências de quem admiramos – tudo isso ajuda a melhorar o entendimento. Assim acontece a desconstrução de uma imagem. Pessoas se desprendem dos preconceitos, se libertam de amarras e experimentam o novo. Sair da zona de conforto quando falamos de moda ainda é um passo largo para muitos homens, mas observar que os mais jovens estão se desprendendo desse ‘pudor’ é muito interessante e, ao mesmo tempo, vibrante.” 

 

Consciência de estilo

 

“Depois de tanto tempo em casa, afastados do convívio social por conta da pandemia, os homens também querem buscar opções e maneiras de se comunicar através de suas roupas, com sua imagem. Se antes uma peça de roupa determinava o gênero da pessoa, hoje, em pleno 2022, esses questionamentos estão sendo feitos pelas novas gerações, que buscam expressar seus sentimentos, opiniões, questionamentos e até a posição política por meio do que usam.” 

 

A vez dos básicos e dos acessórios 

 

“Outros destaques foram os acessórios mais diferenciados com recortes, bolsas que extrapolam as fronteiras de gênero e ganham mais estilo, sem falar de sua funcionalidade. Muitas marcas também estão aprimorando seu olhar em relação à moda de rua, e assim falando mais ainda com novos públicos. Um desses itens foi a regata branca que, ame ou não, voltou em looks casuais misturada ao jeans e à alfaiataria.” 

 

Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 128 da Versatille