O melhor dos dois mundos: autenticidade e ousadia permeiam a moda masculina

O influenciador digital Gabriel Gontijo comenta as trends dos últimos eventos fashion nacionais e internacionais

Modelo veste look da Misci
(Divulgação Misci)

Não há melhor momento para analisar a moda masculina do que após as temporadas de desfiles. Entre os dias 31 de maio e 4 de junho, aconteceu a edição 53 da São Paulo Fashion Week, com uma mescla de apresentações em formatos de fashion films e desfiles presenciais. No exterior, de 12 a 27 de junho, foram realizadas as semanas de moda masculina primavera-verão 2022 nas capitais Londres, Milão e Paris. Como no Brasil, foram apresentadas em passarelas físicas e digitais, em um movimento de democratização da moda, para que mais espectadores pudessem participar do evento.   

 

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No cenário internacional, o ciclo de 20 anos para que uma tendência ressurja se mantém, bem como a ousadia de uma moda não óbvia, composta de elementos do imaginário. Já no Brasil, a constante reprodução de referências internacionais dá lugar a criações cada vez mais autorais e inspiradas no território nacional. “Acho que a gente está seguindo um caminho de mais permissão no ato de se vestir. Do lado brasileiro, autenticidade; e, se a gente fala de uma moda de fora, há esse hype, o retorno para o vintage, que, no caso, é a moda dos anos 2000”, diz o influenciador digital fashionista Gabriel Gontijo.

 

Confira, a seguir, quatro trends observadas por Gontijo nos últimos eventos de moda no Brasil e no exterior.  

 

Moda internacional 

Consolidação do estilo dos anos 2000 

 

“Percebi nesta temporada de verão internacional, principalmente em Milão, a consolidação da volta das referências dos anos 2000: os jeans com aquela lavagem mais amarronzada, mais suja, os tênis de bico arredondado no estilo de chuteira e as camisetas baby-doll bem curtinhas, bem italianas. Isso eu vi bastante na Dolce & Gabbana, que inclusive fez um desfile inteiro que contemplou as coleções dos últimos 20 anos. A Diesel também pegou todos esses códigos e traduziu de novo. Acho que daqui a um tempo a gente vai começar a perceber essas referências dos anos 2000 tanto no guarda-roupa dos fashionistas – de uma forma mais rápida – quanto no daqueles que não estão dentro dessa bolha do fashion.”

 

Modelo desfila para a Dolce Gabanna durante a semana de moda masculina

(Reprodução Dolce Gabanna)

 

Estética lúdica  

 

“A gente vê também uma moda cada vez mais lúdica para o homem. O designer Jonathan Anderson, que desfilou em Milão, por exemplo, trabalhou coisas quase que surrealistas, como uns skates quebrados que faziam parte dos suéteres. Se a gente estourar essa bolha fashionista, conseguiremos perceber, em alguns pontos, pessoas que não se arriscam na moda assumirem levemente essas tendências, por exemplo, em um shape mais amplo de calça e blazer, ou uma jaqueta de couro um pouco mais trabalhada e diferenciada.”  

 

Modelo desfila para JW Anderson na semana de moda masculina

(Reprodução JW Anderson)

 

Moda brasileira

 

Genderless fashion e representatividade 

 

“A Bold Strap – outra marca que desfilou na SPFW N53 – trabalha a lingerie masculina no limite com o feminino. Dentro da nossa bolha fashionista, é muito interessante termos essa percepção de como as coisas estão evoluindo. Hoje em dia, com a Internet e o advento das redes sociais, por mais que a gente tenha resistência, percebemos que se trata de um lugar seguro para as pessoas se sentirem à vontade em relação a gênero e sexualidade. Então, ter uma marca que desfila no maior evento de moda do Brasil e afirma que existe uma lingerie para mulher e para o homem traz esse fetichismo e cria um ambiente de conforto para as pessoas que estão ali assistindo, ao verem que há essa representatividade – eu acho muito legal também. Fora as questões de vários formatos de corpos e raças que a Bold Strap traz. É uma marca nova; acho que ela tem uma proposta bem legal e realmente espero vê-la nas próximas temporadas.”  

 

Talentos nacionais

 

“Em relação à Casa de Criadores (principal evento dedicado à moda autoral brasileira e também catalizador de novos talentos), a gente pode perceber que, quanto mais embrionários o evento e a marca, mais autorais e autênticos eles são. É muito legal estar ligado a isso, acompanhar de perto o nascimento de designers, porque nós falamos muito de prêmios internacionais, de novos designers que são todo ano selecionados nos Estados Unidos, mas, aqui no Brasil, a gente também tem essas oportunidades de ver pessoas e marcas crescerem.”

 

Autenticidade 

 

“Observando a SPFW – da qual, aliás, eu sou fã e acho um evento louvável de acontecer, por mais que a gente enfrente as dificuldades atuais em várias indústrias e vários setores –, uma marca que trabalhou bastante as características do Brasil foi a Misci. O designer Airon Martin bebe muito nas referências nacionais. É uma empresa que vai atrás das raízes do designer, que traz esse Brasil bem literal nas coleções: teve algumas peças em tons terrosos e outras mais coloridas. Martin também trabalha muito a palha nos calçados, e outro destaque são as bolsas autorais. Eu a vejo como uma marca em ascensão e bastante importante no contexto atual.” 

 

Modelo desfila para a Misci na SPFW

(Divulgação Misci)

 

Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 127 da Versatille

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