Além da fábrica de chocolate: Paul King, diretor de “Wonka”, responde 7 perguntas sobre o filme de sucesso

Em entrevista exclusiva, o diretor discorre sobre o filme, que traz camadas novas para o personagem mais excêntrico do livro e das produções cinematográficas

Morder um pedaço de chocolate vai muito além do paladar e do olfato. Além do deleite de uma explosão de sabores e cheiros, ele desperta emoções. As experiências ligadas ao doce muitas vezes estão relacionadas a celebrações, presentes, momentos românticos ou simplesmente à busca de conforto em situações de estresse. Logo, não é difícil entender por que ele inspira tantas histórias e contos, sendo uma das mais famosas o livro Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Roald Dahl. 

 

Caso você não tenha lido o livro ou assistido a alguma das produções cinematográficas e teatrais que se originaram a partir dele, a história gira em torno de Charlie Bucket, um menino pobre que encontra um bilhete dourado para ter a chance de conhecer a fantástica fábrica de chocolates de Willy Wonka, um gênio maluco em busca de um herdeiro para sua fortuna. Após a visita, ganharia aquele que demonstrasse valores importantes, como a humildade e a generosidade.

 

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Os encantos de um universo mágico e colorido, com criaturas laranjas batizadas de Oompa Loompas, foram traduzidos em duas versões cinematográficas com o nome de A Fantástica Fábrica de Chocolate. A primeira, de 1971, dirigida por Mel Stuart, que se tornou um grande clássico do cinema; e o remake, em 2005, de Tim Burton. Em todas as suas versões, a narrativa sempre foi contada pelo ponto de vista de Charlie. No entanto, o personagem que mais se destacava era o curioso Willy Wonka. Como ele se tornou o que vemos nos filmes? 

 

Essa foi a pergunta a que o diretor Paul King procurou responder ao dirigir Wonka, a mais nova produção inspirada no clássico infantojuvenil que traz em seu elenco as estrelas Timothée Chalamet, Olivia Colman, Hugh Grant, Keegan-Michael Key e Calah Lane, entre outras. E, claro, não há ninguém mais apropriado para o desafio de explorar as origens do misterioso Willy Wonka do que o diretor responsável pelos grandes sucessos da franquia As Aventuras de Paddington. Com Paul King no comando do projeto, o público pode esperar uma produção rica em detalhes, com uma cenografia lindíssima, cenas que despertam comoções e diversos números musicais.  

 

(Divulgação)

 

A fim de desvendar a produção, conversamos com o diretor Paul King, que falou um pouco sobre suas inspirações e os bastidores. 

 

Versatille: O que fez você querer aprofundar a história de Willy Wonka? 

Paul King: Eu sempre amei Roald Dahl, era o meu autor favorito quando pequeno. Os livros dele me confortavam, porque eram engraçados, mágicos e extraordinários. Ele criava estes mundos nos quais você queria pular para dentro e viver lá. Você queria ser o Charlie visitando a fábrica, embora infelizmente eu pareça mais com o Gustus Gloop (o menino gordinho). E esse roteiro, de certa forma, é quase que uma carta de amor a Willy Wonka. Charlie ouviu falar dessa pessoa que parece ser incrível e que ele torce que seja mesmo. Vemos, através dos olhos de Charlie, este personagem extraordinário que tem uma história de fundo bastante misteriosa. Há um mundo inteiro para explorar e brincar. O próprio Dahl flertou com a ideia de escrever mais sobre ele, mas nunca chegou a publicar nada. Então parecia que havia uma espécie de licença para explorar o personagem. É um sonho que se tornou realidade. 

 

V: Como você fez para gerir o equilíbrio desde o jovem Willy Wonka até chegar à versão que encontramos na história original? 

PK: A história original é exatamente essa jornada de Charlie em descobrir quem é o Willy Wonka. Ele é bom ou não? O desafio é que ele é tão incognoscível. O que percebemos é que é um homem que se esconde atrás de muros altos, que se tornou um personagem tão danificado na fábrica e que realmente virou as costas para o mundo. Mas por que isso aconteceu? O que o levou a chegar a esse ponto? Parece alguém que, talvez, tenha perdido a esperança no mundo, mas procura um herdeiro. Será que ele realmente acredita que isso é possível? Não tenho certeza se enviar apenas cinco bilhetes dourados é um ato de grande otimismo ou uma forma de mostrar que acredita que não exista quem ele procura. Então, quando formos olhar para o jovem Willy Wonka, temos que ver uma espécie de sentido de quando essa fragilidade chegou.  

 

V: Quais foram os elementos fundamentais do personagem que manteve presente nessa versão? 

PK: Em Wonka, queria que o público pudesse acompanhá-lo, mas era importante que ele fosse caótico. A gente sabe que nenhum experimento dele sairá 100% perfeito, os chocolates têm o hábito de falhar. Mas ele também tem uma imaginação extraordinária e uma capacidade de fazer o impossível parecer possível. E isso era uma de suas características que eu sempre adorei no livro. Ele certamente foi um jovem que escutou de muitos chatos “não seja ridículo”, “isso não pode ser verdade” e, no fim, sempre acaba sendo verdadeiro. Eu queria dar a ele essa forma de irritar as pessoas, porque é engraçado elas duvidarem que algo possa ser realidade e você provar isso. E essa é a grande alegria daquele mundo. 

 

V: Como foi ter Timothée Chalamet interpretando o jovem Willy Wonka? 

PK: Ele é um ator brilhante. A gente esquece quão jovem ele é, porque ele é muito rápido e extremamente talentoso. Eu acho que ele é um dos melhores profissionais da geração dele, ou eu dei muita sorte de achar o ator ideal para o papel perfeito. Chalamet tem muita sensibilidade e é agudamente consciente do que deve fazer em cena. Ele tem uma habilidade surpreendente de canalizar emoções profundas da experiência humana, conseguir capturar isso e transmitir na imagem em filme, o que é uma dádiva rara. 

 

V: Como era a troca no dia a dia, no set de filmagens? 

PK: Timothée Chalamet é extremamente preciso. Muitos atores não gostam de se olhar no monitor, o que eu entendo. Ele gosta de assistir às cenas, o que também incomoda alguns diretores, que preferem guardar o resultado dos cortes para eles mesmos. Mas ele é tão esperto, atento aos detalhes e tão deliberado na sua performance que a gente acabava assistindo a todos os cortes juntos e tendo conversas ótimas. Ele tem tanto controle do que faz e, ao mesmo tempo, entrega uma atuação que é excêntrica, maníaca e que muda cada vez que grava com emoções profundas.  

 

V: O que você acha que vai surpreender mais o público sobre o Wonka de Timothée? 

PK: Acho que é a abordagem emocional do personagem que ele entrega. Além de Willy ser obviamente louco, cômico e com uma personalidade gigante, o que Timothée consegue fazer é juntar todos esses elementos e dar uma verdade ao personagem. Ele é simplesmente brilhante. 

 

V: Outro ator que rouba a cena é Hugh Grant, no papel de Oompa Loompa. Como isso aconteceu? 

PK: Quem nunca chegou em casa, no fim do dia, e pensou em Hugh Grant com uma peruca verde? (risos). Eu tive a sorte de trabalhar com ele no passado, e para mim é uma das pessoas mais engraçadas do mundo. Então sempre busco formas de trabalharmos juntos de novo, porque é um prazer total. Eu li o livro quando estava começando a formular o filme na minha cabeça e me dei conta de que também não sabíamos muito dos Oompa Loompas. Eu não estava procurando um papel para ele, mas ali estava. O livro mostrava que eles eram muito hábeis verbalmente e meio desdenhosos, sarcásticos, engraçados e mordazes. Há uma espécie de crueldade neles. Eram números musicais longos, e a voz que saía através das músicas era enorme. Quando imaginei quem diria essas palavras, não tinha outra pessoa senão o Hugh. E, quando você consegue imaginá-lo com o cabelo verde e a pele laranja, era bom demais para ser verdade. Eu o convidei, e ele gentilmente topou entrar na brincadeira.  

 

Por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 133 da Versatille