Jorge Bispo se reinventa e brilha na modalidade fotografia a distância
Cada um na sua casa e com o auxílio da tecnologia, retratado e fotógrafo trabalham juntos para guardar registros do distanciamento social
Por Maria Alice Prado
Festas de aniversário, reuniões de trabalho, eventos familiares e até happy hours com os amigos encontraram um novo cenário durante a quarentena da pandemia de Covid-19: as videochamadas. A oficialização dos encontros virtuais como parte da rotina de distanciamento social foi o que acendeu mais uma lâmpada no setor de criações do fotógrafo Jorge Bispo, que transformou os prints de tela em um novo estilo de retrato: fotografia a distância.
“A ideia surgiu com esse hábito de brincar de fazer foto da tela. Quando eu percebi, já estava organizando e preparando mais a pessoa, até que fiz um clique bom e resolvi fazer mais. Aconteceu de maneira orgânica, como uma memória afetiva de uma ligação”, explica o retratista.
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Assim como a descoberta, o processo de captura das fotos é natural e íntimo. Como a locação é a própria casa do retratado, Bispo une conforto, luz e um bom sinal de internet. “Primeiro analiso o ambiente escolhido e tento montar o quadro na minha cabeça. Com a ajuda do personagem, escolho o lugar para apoiar celular. Se houver tripé, ótimo, mas usamos livros, mesinhas, banquinhos ou qualquer coisa que ajude a deixar a pessoa na posição correta”, diz.
A partir daí, Bispo faz sua arte apenas por meio do olhar e do som: “Vou clicando e dirigindo por voz. Utilizo a câmera normal do celular, não a frontal, então a pessoa não me vê e nem se vê, só escuta a minha voz”. Os ajustes de cor e edição são feitos no próprio aparelho. A parte técnica fica por conta da luz, celular e internet. Apesar de serem poucos itens, são igualmente essenciais: “O lugar mais bonito e interessante da casa não funciona se o sinal não for bom. O mesmo acontece se o sinal for bom num lugar escuro”.
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(clique nas imagens para ampliar)
A recepção do que começou como um hobby tem sido proveitosa para todos. “Além de posar, a pessoa acaba vivenciando um pouco do trabalho de fotógrafo, quase como minha assistente. A gente se diverte bastante”, conta. A procura pelo trabalho também deslanchou: marcas, agências e revistas já fazem fila pela assinatura de Bispo nas suas próximas campanhas.
“Para mim, era como um processo pessoal e terapêutico mesmo, uma forma de me ocupar com algo próximo do que é o meu trabalho e que está impossibilitado de ser feito presencialmente. Mas, como as pessoas perceberam que tão cedo não voltariam à ‘normalidade’, hoje tenho tido uma demanda bem grande, maior do que eu esperava. Tem sido muito bom pra cabeça me sentir ativo e criativo.”
A fotografia a distância, que está sendo fortemente abraçada por vários fotógrafos mundo afora, é uma reinvenção dessa arte e certamente traz reflexões. “É hora de abrir mão do detalhe, de resolução, do HD e valorizar o momento. Reconhecer o olhar humano e a perspectiva de quem realmente faz foto”, opina Bispo.
Trocando em miúdos, a tecnologia, a qualidade da imagem e a técnica ficam em segundo plano: o que importa é a emoção das pessoas junto à apreciação ao momento criado por dois seres humanos.
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Bispo acredita que a fotografia a distância não será feita tão constantemente quando as pessoas puderem se encontrar de novo. “A troca é muito diferente. Eu sinto muita falta da energia de um dia de foto, de me conectar com as pessoas de verdade”, afirma.
“O fato de podermos aproveitar das artes mesmo em isolamento se deve à tecnologia, mas se houver alguma mudança, acredito que seja só a reafirmação que realmente o fotógrafo ainda é a parte mais importante da equação”, finaliza.
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