Grandes pensadores da atualidade refletem sobre o mundo em pandemia
Entre previsões otimistas e hipóteses mais duras, coletamos o que alguns grandes pensadores da atualidade têm a dizer sobre a pandemia de coronavírus e quem seremos depois dela
Ocoronavírus virou nossas vidas de cabeça para baixo. Há quem diga que vivemos um momento histórico, que é o fim simbólico do século 20. Há quem anseie por mudanças, enquanto outros são mais pessimistas e esperam por um futuro meio Black Mirror, a série de TV britânica que fala sobre um futuro distópico. Entre suposições, hipóteses e pontas de esperança, entenda o que grandes pensadores dizem sobre o agora.
“Na batalha contra o coronavírus o antídoto não é a segregação e, sim a cooperação“, reflete Yuval Harari, professor israelense de História e autor do best-seller internacional Sapiens, em tradução feita pelo jornal El País.
Harari acredita que a melhor, e mais potente defesa dos seres humanos não é o isolamento, mas a informação. Segundo ele “a história indica que a autêntica proteção se obtém com o intercâmbio de informações científicas confiáveis e pela solidariedade mundial”.
Em mundo de fronteiras físicas e emocionais, a humanidade enfrenta não só a crise do vírus, mas também pela falta de confiança entre as pessoas. “Se a epidemia criar mais desunião e desconfiança entre os seres humanos, o vírus terá obtido sua maior vitória. Quando os humanos brigam, os vírus se duplicam” Harari termina.
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Mário Sergio Cortella, um dos nomes mais pop da filosofia no Brasil atual, indica que “uma dúvida pode construir certezas”. Muito se fala da imensidão de incertezas que a quarentena, e o futuro pós-pandemia trazem, mas talvez seja uma oportunidade de arquitetar novas certezas.
“Em tempos em que a nossa existência física fica ameaçada, o primeiro passo é ficar vivo”, considera Cortella, em entrevista para a revista Veja. “É hora de ficar vivo com honra, sem que a lógica seja a do movimento destrutivo, da incapacidade de partilha e de solidariedade. Hoje o sentido da vida está em xeque porque a própria vida o está e assim algumas coisas se tornaram irrelevantes. Coisas que até 60 dias atrás pudessem ser decisivas para nós, hoje são absolutamente secundárias”.
Por fim, o filósofo questiona “Será que conseguimos lidar com isso como um momento transitório ou uma lição que a gente retoma mais adiante e reinventa nosso modo de ser?”
O sociólogo inglês Frank Furedi responde indiretamente essa questão durante seu texto Um Desastre sem Precedentes, escrito em março. “O modo como se responde a uma pandemia é mediado pela maneira como se percebe a ameaça, pela sensação de segurança existencial e pela capacidade de dar significado ao imprevisto”.
Furedi reflete que a sociedade contemporânea não se enxerga mais como resiliente, mas que se define por suas vulnerabilidades, permeando uma percepção de que a existência humana está ameaçada.
Para fugir da perseguição existencial, o sociólogo enfatiza sobre a necessidade de desenvolver a coragem como valor compartilhado —e valores compartilhados são essenciais à solidariedade.
Porém, para o historiador brasileiro Leandro Karnal, o vírus não é moral, não religioso, não é vingativo e nem está estressado. Mas, no momento que ocorre uma doença, ela revela escolhas e essas escolhas são morais.
“Tudo que acontece transforma a sociedade“, ele conta em entrevista para a Veja. “O processo de revolução, de guerra ou de epidemia tem fator de aceleração da história. E acabam virando momentos para testar convicções”.
Sem muita esperança, o linguista norte-americano Noam Chomsky conversando com filósofo croata Srećko Horvat por vídeo, diz que o coronavírus é preocupante, mas que estamos sob duas maiores ameaças, uma iminente guerra nuclear e o aquecimento global, além da ameaça de deterioração da democracia.
Mas calma: ponderando sobre o momento no artigo Imaginando barreiras contra o retorno à produção pré-crise, Bruno Latour, francês, sociólogo e filósofo da ciência propõe um exercício ao leitor: fazer um inventário das atividades que não gostaria que fossem retomadas e daquelas que, pelo contrário, gostaria de ampliar.
E você? O que pensa?
Por Sofia Tremel
Fotos: Reprodução Instagram