“Ser produtivo não é a prioridade agora”, diz psicanalista Christian Dunker sobre quarentena

Bastaram algumas semanas para que se percebesse que não sobrou tanto tempo assim. Aconteceu com você também?  

Quando o isolamento social começou a ser colocado em prática, a Internet se agitou: “tempo livre para todos!”. Sugestões de cursos, séries, filmes e dicas para arrumar a casa inundaram as redes sociais. Mas bastaram algumas poucas semanas para que se percebesse que… Não sobrou tanto tempo assim. Aconteceu com você também?

 

 

O psicanalista e professor da Universidade de São Paulo Christian Dunker explica que o tal do “tempo livre” foi um erro de avaliação, já que ficar em casa significa fazer tudo em casa, e relativo à casa: trabalho em home office, tomar sol, cuidar da educação à distância, da própria alimentação e da faxina… Esse acúmulo de tarefas cotidianas não estavam, exatamente, calculados.

 

 

“Tínhamos uma conta psíquica que dizia ‘perdi muitas coisas, como a possibilidade de sair e de estar com meus amigos, mas vou ganhar tempo’. O que aconteceu, na verdade, é que esse tempo perdeu qualidade, e a performance geral diminuiu. Ao contrário do previsto, nós nos tornamos menos produtivos”, reflete o psicanalista.

 

 

Dunker também pontua que, somada à vontade de querer que o cotidiano continue funcionando normalmente – manter a casa limpa, por exemplo – há uma negação sobre o fato de que tudo mudou. “Entramos em estado de exceção, e negá-lo é muito ruim; só atrapalha o que já não estava fácil. Não é hora de otimizar ou fingir que nada mudou”, diz.

 

 

O que pode, e deve ser feito, para lidar com um dia a dia ainda desconhecido é, segundo o psicanalista, tentar manter uma rotina e uma proximidade com o que lhe é familiar: falar com entes queridos e amigos, tentar arranjar um espaço para se exercitar, fazer um almoço especial para o domingo. Mas preocupar-se em emagrecer, aprender algo novo ou obter um certificado de conclusão de curso? Pode ficar tranquilo: “Ser produtivo não é a prioridade agora”, encerra o professor.

 

 

Por Sofia Tremel

Foto: Drew Coffman / Unsplash

Para quem pensa em ir para o Japão em busca de uma nova vida, também poderá procurar empregos aqui.