“Queremos criar uma comunidade de apaixonados por gastronomia”, diz Federico Pisani, CEO da Gurmit
Recém-lançado no mercado, o aplicativo de delivery foi montado com foco em restaurantes de alta culinária
Não é segredo para ninguém quanto o delivery protagonizou a cena gastronômica durante os anos de pandemia. Afinal, neste período, a única opção era fazer a própria comida todos os dias ou pedir um prato diferente com apenas um toque no celular. Pela praticidade e fuga da rotina monótona do isolamento social, é claro que o uso do aplicativo teve grande destaque, alcançando seu auge em meados de 2020. Para quem gostava de frequentar restaurantes de alta gastronomia, no entanto, optar pelo delivery não era tão simples assim.
A experiência de degustar um prato feito por um chef renomado não envolve apenas a comida em si. O cuidado, a atenção aos detalhes e a ambientação também fazem parte do pacote – questões que simplesmente não se encaixavam na rotina corrida que o setor de alimentos vivia. Segundo uma pesquisa feita pela agência Edelman e promovida pela empresa PayPal, os pedidos em aplicativos de delivery foram de 40,5% antes da pandemia para 66,1% durante o período de emergência de saúde pública.
Para resumir a questão: os entregadores e os restaurantes estavam lidando com um número massivo de clientes, o que fazia com que muitos pedidos atrasassem, chegassem frios ou longe da expectativa do consumidor. “Eu sou italiano. Para nós, a gastronomia não é apenas se alimentar. É um evento. Já acordamos pensando nisso”, diz Federico Pisani, que sentiu na pele a falta das experiências gastronômicas durante a pandemia. Com a veia empreendedora em plena atividade, ele sabia que outras pessoas – fossem italianos, fossem brasileiros – deviam estar sentindo a mesma coisa.
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Em parceria com a Hanzo, plataforma de SaaS (Software as a Service), Pisani começou a estruturar a criação de aplicativos próprios para cada restaurante altamente classificado de São Paulo. “Os restaurantes também não estavam felizes com os maiores aplicativos de delivery do país. Eles estavam descontentes com o valor das taxas e com o posicionamento dos serviços, que não conversava com a cultura dos locais”, recorda o empresário. No entanto, na hora de avaliar quais restaurantes precisavam de um sistema de entregas próprio, Pisani listou mais de 100 comércios.
“Foi aí que percebi que não fazia muito sentido lançar mais de 100 aplicativos no mercado. Para o consumidor, isso é superconfuso. Por que não criar um marketplace de casas de alta gastronomia que englobe todos esses restaurantes?” Foi a partir desse questionamento que a Gurmit nasceu (pensada ainda em 2020, mas colocada em prática em 2022).
Desenvolvido pela Hanzo, o aplicativo tem como objetivo apresentar o que existe de melhor na cena gastronômica paulistana para um público seletivo e exigente – afinal, não é qualquer pessoa que pode utilizar o serviço. Cada restaurante da plataforma recebe um código para convidar consumidores através de suas redes sociais e cada cliente cadastrado pode chamar até três amigos para participar.
“Fazemos isso porque queremos ser pequenos. Nosso objetivo não é ser uma espécie de iFood. Queremos criar uma comunidade de apaixonados por gastronomia”, reforça Pisani. Na plataforma, além do acesso aos restaurantes, há alguns textos sobre a história de cada chef, local ou receita, ou até explicações mais profundas de temas como enogastronomia. “É mais do que um espaço para pedir comida. O foco é virar referência em gastronomia.”
Com um investimento inicial de 2 milhões de reais, o aplicativo conta hoje com mais de 200 restaurantes cadastrados – e mais 200 aprovados pela curadoria do serviço. Até o fim de 2022, o objetivo é alcançar o marco de 100 mil consumidores e investir mais 3 milhões de reais em melhorias tecnológicas e práticas. “Atualmente, caso o restaurante não tenha entregadores próprios, nós utilizamos uma empresa de logística para fazer o trabalho. Nosso plano é criar uma nuvem de funcionários que façam parte efetivamente de nossa equipe. Isso nos ajuda a criar um senso estético único”, explica o CEO.
Quanto a projetos mais ambiciosos, Pisani revela o desejo de expandir internacionalmente. “No Brasil, nosso único foco é São Paulo, que é uma grande capital gastronômica. Observamos essa oferta e demanda, e por isso nossa meta é lançar o aplicativo em cidades na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa.” Quando isso acontecer, a empresa pretende abrir capital.
O planejamento faz parte de um grande sonho, mas Pisani já se anima com as conquistas atuais. Formado em engenharia mecatrônica e especializado em tecnologia, ele diz que a Gurmit é a união perfeita entre suas duas paixões de vida: gastronomia e tecnologia. Para ele, estar no processo programático do aplicativo e da equipe de curadoria é um deleite. “Faço parte de um grupo que avalia a qualidade dos restaurantes que podem entrar ou não no aplicativo. A cada seis meses trocamos algumas pessoas para não viciar o paladar, mas é uma honra participar disso.”
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Para ele, esse cuidado com os detalhes é algo que o consumidor também espera neste período pós-pandemia. Embora 2020 tenha sido o auge do delivery, esse mercado não parece estar perto de desacelerar com o fim do isolamento social. “É algo conveniente e até perigoso. Quem não gosta de poder pedir um chocolate no meio da tarde com apenas um clique?”, brinca Pisani.
“É algo que se encaixa muito em nossa vida atual, e é por isso que precisamos sempre oferecer melhorias para o setor”, conclui.
Por Beatriz Calais