Flower Pounding: a arte de eternizar a primavera

Conheça a técnica artesanal de martelar flores em telas ou tecidos para criar estampas coloridas e únicas

Por Sofia Tremel

 

Olhe à sua volta, em seu jardim, um parque ou até mesmo nos canteiros da sua rua e escolha algumas plantas e flores que lhe agradem. Em seguida, eleja um tecido ou papel neutro, pegue um martelo e use toda a sua força para martelar as plantas e flores sobre a superfície. Com materiais naturais e reutilizando itens considerados descartáveis, a técnica do Flower Pounding utiliza flores para criar designs orgânicos que refletem, celebram e perpetuam a beleza da natureza. 

 

Esta arte é originária do Japão, onde é chamada de Hapa Zome (“tintura de folhas”, em tradução livre) ou Tataki Zome (“martelar folhas”, em tradução livre), mas também muito praticada na Austrália, onde o termo Flower Pounding é mais usado. 

 

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Entretanto, os padrões florais são típicos de muitas culturas de comunidades nativas e de povos originários da América Central, Caribe, e México. Esses grupos costumam ter uma relação muito forte com seu entorno, e utilizam a referência do que está mais próximo, como flores, plantas e animais. 

 

Processo individual de comunhão com a natureza

As flores e plantas estão no imaginário das pessoas, e acabam entrando no nosso dia a dia, aparecendo em retalhos, quadros, vestimentas e até na gastronomia. 

 

Carol Garcia é jornalista de moda há 25 anos, professora do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e uma das três sócias da Flower Punchers. Ela contou à VERSATILLE tudo sobre a técnica que transformou sua maneira de ver o mundo. 

 

Exposição Virtual Flower Punchers (Foto: Divulgação)

 

“O processo é muito pessoal. Cada um vai fazer um produto único e diferente, porque é sobre o que tem a sua volta. O Flower Pounding mostra outra essência da vida, um outro sentido: de comunhão com a natureza, de se divertir com o que se tem em casa, de aproveitar e se preocupar com o lixo. Comecei a perceber a beleza em coisas que antes eu nem dava bola”, conta Carol sobre sua trajetória com a técnica. 

 

Técnica para eternizar o buquê de noiva

“É muito simples”, ela explica, “você pega uma planta, que pode ser uma flor, uma folha, uma erva ou até mesmo uma verdura, como rúcula ou agrião, ou um tempero, como salsinha, dill, cânfora ou arruda, facilmente encontrados no nosso cotidiano, que podem estar dentro da sua casa ou no mato da calçada”.

 

Mas atente-se: tudo depende do crescimento da planta, de esperar a pétala cair. Por isso cada peça possui seu próprio processo, uma construção. 

 

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Depois de escolher as plantas, é hora de definir sua base. “Um tecido natural, como algodão, lã e linho. Ou então um papel. Uma coisa ou outra”, ensina Carol.  “A seguir, faça uma composição com a planta em cima, que vai do seu gosto, pode ser desde apenas uma pétala até um arranjo montado na hora”. Uma ideia interessante é usar a técnica para conservar seu buquê de noiva ou um presente de alguma data especial. 

 

“O próximo passo é colocar outra camada de papel ou de tecido para proteger as plantinhas. E então você vai martelar, com toda a força. Quando você bate com o martelo contra a planta, ela solta a própria tinta e cria uma estampa no tecido” termina Carol. 

 

Martelos de pedras brasileiras

Um segredo de Carol: além de usar martelos convencionais, ela usa martelos feitos com pedras brasileiras. “Eu martelo com ametista, com jade, com o cristal quartzo, para que a energia da pedra fique impregnada na flor. Eu espero mandar para a pessoa um tecido energizado”, revela. 

 

Por ser 100% natural, já que o tingimento vem da própria planta, sem nenhuma química, e o tecido também tem origem orgânica, a estampa não sai!

 

“É, ao mesmo tempo, um exercício de arteterapia, porque você usa sua energia para bater, e bate na planta e não em uma pessoa na rua. Se você estiver com raiva, com algum problema, ou estressado, o estresse vai embora em dois minutos”, afirma Carol.

 

Foto: Unsplash

 

Flower Pounding e a economia circular

Além de ser uma atividade lúdica e prazerosa, o Flower Pounding faz parte de um processo de economia circular, conceito estratégico que reforça a redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. “Varrer o quintal passou a ser a maior diversão do mundo. É minha hora de juntar o ‘lixo’ para poder fazer os tecidos estampados, construindo uma coisa nova”, conta. 

 

A jornalista gostou tanto da técnica que se juntou à artista carioca Gabriela De Laurentis, que havia lhe ensinado o artifício, e à arquiteta paramétrica Solimar Isaac para formarem a Flower Punchers, uma empresa dedicada à atividade do Flower Pounding. 

 

“Gabriela foi minha professora perto do Carnaval deste ano, e certo dia me ligou e falou que tinha sido convidada para fazer uma exposição, com obras de Flower Pounding, no Rio de Janeiro e me convidou para fazer parte junto com outros artistas florais”, conta Carol. 

 

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Artesanato digital

“Ela veio para São Paulo, nós fizemos uma instalação com seda e ficou lindo! E então Gabriela levou para o Rio, para a galeria onde iríamos abrir a exposição no dia 23 de abril. Veio a pandemia do coronavírus, e claro que a exposição foi cancelada, já que não podia ter aglomeração. Nos deparamos com metros e metros de seda estampada. Tínhamos quase 30 metros produzidos, e nos perguntamos como íamos guardar isso. Era muito pano, e não sabemos quando a pandemia vai terminar”, reflete. 

 

Foi quando decidiram começar a vender o tecido em forma de cortinas, tecido para sofás, almofadas. As obras tiveram grande aceitação e muitos pedidos.

 

A ida para os meios digitais foi natural. Ela lembra: “É uma técnica manual e artesanal, e começamos a questionar como incluir a técnica no meio digital. Assim, começamos a criar estampas com realidade aumentada, como filtros para o Instagram (@the_flowerpunchers) onde um buquê de flores virtual, que não existe, pode ser posto no meio da mesa por meio do seu celular”.

 

Elas também produzem pot-pourris com as camadas finas de folha que sobram após a martelação, além de velas e sabonetes. E, quando surgem interessados, são feitas obras autorais assinadas, em gravuras que podem virar quadros ou objetos de decoração. 

Para quem pensa em ir para o Japão em busca de uma nova vida, também poderá procurar empregos aqui.