Diretor de “Surf no Havaí” compartilha detalhes exclusivos sobre o longa
William Phelps fala sobre o significado da produção para o esporte o ator John Philbin conta sobre sua preparação
Há 35 anos, algo desaguou nos cinemas. Tratava-se do surfista de piscinas de ondas do Arizona Rick Kane – interpretado por Matt Adler, do longa Águas Perigosas –, que, nunca tendo tocado no mar, ruma para o North Shore (a Ilha de Oahu, no Havaí), para encarar ondas gigantes, e lá vira camarada do lixador Turtle, interpretado por John Philbin, ator visto em quatro filmes de culto com massas de admiradores pelo mundo: A Volta dos Mortos-Vivos; Point Break – Caçadores de Emoção; Colheita Maldita, de Stephen King; e o faroeste Tombstone. Turtle trabalha para o lendário sufboard designer Chandler, interpretado por Gregory Harrison, do thriller Uma Paixão Incontrolável 2.
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Alguns dos maiores surfistas da história aparecem no filme: Gerry Lopez, Laird Hamiltonm, Corky Carroll, Mark Occhilupo, Robbie Page, Shaun Tomson e Derek Ho, falecido em 2020.
North Shore (em português, Surf no Havaí ou Surfe no Havaí) saiu sem alarde das salas, mas, ao ir para a TV e ser lançado em VHS, uma legião de fãs brotou, apoiada pelas constantes reprises (locadoras no Brasil e nos Estados Unidos tiveram até de colocar mais cópias para suprir a demanda). Com a disponibilidade em DVD, blu-ray e então streaming, a popularidade só tem aumentado.
Nos últimos anos, ocorreram exibições especiais do filme em cinemas lotados, para celebrar o aniversário do lançamento original, com admiradores levando pôsteres, fotos e pranchas para serem autografados. Vale citar que o turismo de brasileiros a partir do fim dos anos 1980 para aquela parte da ilha havaiana cresceu incrivelmente.
William Phelps, o diretor, estudou cinema nos anos 1960, na Universidade do Sul da Califórnia. Nesse período, conta que, um dia, caminhando pela rua, foi avistado por um amigo que ele conhecera no estúdio de Andy Warhol, em Nova York, quando fora fotografado para o livro Screen Tests. Em questão de minutos, estava tomando chá com o amigo e Brian Epstein. Após essa introdução ao show business, Phelps fez amizade com dois colegas de aula que vieram a se tornar grandes cineastas: Randal Kleiser (Grease – Nos Tempos da Brilhantina e Lagoa Azul, e que produziria Surf) e John Milius. Confira, na sequência, diálogos exclusivos com o diretor William Phelps e o ator John Philbin.
WILLIAM PHELPS E MARCO FREITAS
Marco Freitas: O que Karate Kid é para o karatê, seu filme é para o surfe, com um “The Surfing Kid”, e parte de um subgênero que me faz babar: o filme de rito de passagem, o protagonista que busca um sentido de pertencimento…
William Phelps: É a jornada de um rapaz num mundo desconhecido, mas que fez parte dos seus sonhos a vida toda. Eu havia feito um dos documentários sobre surfistas no Havaí, Wave Warriors, que a ESPN exibiu diretamente nas madrugadas! Lá, conheci um cara que falava uma “língua” que só os surfistas do North Shore entendiam… e foi a minha inspiração para o personagem Turtle! Eu mostrei a Kleiser e ambos levamos uma ideia para três estúdios, sobre um menino que sonhava com o Havaí e lá se torna um peixe fora d’água… Horas depois, a Universal e a Disney disseram ter interesse!
MF: O trio protagonista é ótimo…
WP: Precisávamos de atores que soubessem, pelo menos, deslizar na água com elegância; Adler, além de ator, surfava.
MF: Kleiser dirigira o ator na fábula O Voo do Navegador, um ano antes.
WP: Você fez o seu dever de casa! Harrison cresceu na Califórnia, surfava desde pequeno e sabe das coisas. E ele também tem um perceptível lado espiritual…
MF: Uma “aura” de surfista sábio!
WP: Exatamente! Kleiser havia trabalhado com Philbin num filme que não rendeu bem e o indicou para ser Turtle. Mas eu disse a Kleiser: “Philbin não parece surfista… olha o corpo dele e a pele sem cor…”, e ele me respondeu: “Acredite em mim… ele é aquele tipo de ator que se entrega ao papel e vira o personagem”. Philbin foi para o Havaí por cinco semanas para pesquisar e se tornar Turtle. Em junho de 1986, ele estava em forma, com o cabelo loiro e falando igual aos locais!
MF: Harrison dirigiu a equipe e várias cenas de surfe…
WP: Sim, literalmente entrou na água com o equipamento e coordenou muitas das cenas de surfe!
JOHN PHILBIN E MARCO FREITAS
Marco Freitas: Como foi sua preparação?
John Philbin: Eu surfo desde os 12 anos, mas, quando me chamaram, eu estava focado em atuar. Com o filme, eu voltei a levar a sério o surfe… o meu guru, Gerry Lopez, me aconselhou a nunca desistir do surfe, pois através dele eu poderia viajar pelo mundo até o fim da vida. Hoje, atuo e surfo, treino atores, sou consultor técnico de cenas de surfe e dou aulas para não atores que querem surfar (Philbin também esteve sobre as ondas em Point Break e treinou o elenco de A Onda dos Sonhos e Ondas da Vida).
MF: Que bom que Phelps acatou os conselhos do produtor Kleiser, pois você rouba todas as cenas em que aparece… Não diferente de Jon Cryer, em Garota de Rosa-Shocking, e Mary Stuart Masterson, em Alguém Muito Especial!
JP: Kleiser convenceu o diretor a me dar uma chance, e eu o adoro por isso. Turtle será, de todos os meus papéis, sempre lembrado! Gente ao redor do planeta me pede para eu recitar frases dele. Você citou Alguém Muito Especial; eu e o astro do filme, Eric Stoltz, fomos muito amigos.
MF: E atuaram juntos num suspense que eu gosto, Juventude Perdida!
JP: Isso!
Surf no Havaí vai empolgar, pelo jeito, até nossos bisnetos.
Por Marco Freitas| Matéria publicada na edição 129 da Versatille