Dez receitas que pedem uma ida (urgente!) a Buenos Aires

Nem empanadas, nem alfajores. Descubra criações de chefs que fazem com que Buenos Aires entre na lista de seus próximos destinos

(Foto: Divulgação)

Pode não ser ponte aérea, mas da capital paulista à Argentina leva-se menos tempo do que para descer ao Litoral Norte – e sem curvas nauseantes. Para ajudar, aéreas low cost dão um empurrãozinho. Uma Flybond da vida, por exemplo, vira e mexe tem voos por menos de 600 reais. 

 

Ok, sem bagagem despachada, mas vale lembrar que na de mão já estão autorizados 5 litros (ou meia dúzia de garrafas) de vinho de lá para cá. Se o apelo for pouco para seu coração, Buenos Aires vai te pegar pelo estômago!

 

De nossa parte, seria jogo sujo aconselhar um bife de chorizo na melhor parrilla do mundo (o Don Julio, atual 14º colocado entre os 50 melhores restaurantes do mundo) ou alfajores Havanna (por mais que as lojas locais tenham sabores exclusivos e preços menores do que aqui). Afinal, isso você já fará, não é mesmo? 

 

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No entanto, com a atual efervescência gastronômica portenha, não custa nada dividir informações privilegiadas sobre deliciosidades que poderiam passar batidas.

 

1. Tataki do Niño Gordo

 

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Como tudo na casa (Thames 1810, Palermo Soho), ele é cheio de atitude e merece ser instagramado. Em termos de sex appeal, concorre com as lanternas chinesas, a luz avermelhada e os aquários lindamente povoados do ambiente, assim como com o katsu sando mais famoso da América Latina, feito de shokupan (um brioche nipônico) e quase 10 centímetros de bife de chorizo de novilho maturado, que, com a mesma maciez, derrete na boca, devidamente besuntado pela maionese de tonkatsu.

 

Por que é imperdível? Pela combinação perfeita entre matéria-prima argentina de excelência, técnicas asiáticas, criatividade do chef Pedro Peña e beleza de sobra.

 

O contraste de cores e texturas observadas, reflete-se na boca: as lâminas de bife de chorizo são seladas na parrilla e ficam a postos para quando a gema marinada estourar e se misturarem ao molho de wasabi, às échalotes crocantes, ao shissô e ao shari bem temperado que elas acobertam. 

 

2. Katsu sando do Mengano

 

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Já que mencionamos sando, eis o servido na José A. Cabrera 5172, também no Soho. Não estranhe se você passar pela porta e nem notar que dentro daquele casarão dos anos 1940 mora um bodegón (taberna argentina) de puro charme. Tocar a campainha será suficiente para essa primeira constatação.

 

Contudo, é à mesa que se nota que um menu eclético não precisa ser esquizofrênico. Ali, Facundo Kelemen interpreta clássicos portenhos sem recair em clichês. Oferece delírios como o sanduíche de milanesa.

 

Feito com wagyu cozido a vácuo por dez horas, empanado e frito, pão de miga de estilo japonês e molho secreto à base de caldo de carne e mostarda Dijon, ele é o hit do patchwork de tapas do chef, seguido por empanaditas “jugosas” de carne picante e tartare de cordeiro. 

 

3. Fideos de garbanzo do Gran Dabbang

 

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Como um clássico de Bollywood, o restaurante (Raúl Scalabrini Ortiz 1543, Palermo Soho) pequetico de Mariano Ramón é cult, colorido e perfumado por especiarias. Brilha com curry e massala e casamentos agridoces, como o desse macarrãzinho de grão-de-bico frito, aconselhado para ser triturado à mão sobre a coalhada seca da casa e o chutney da fruta da estação – por ora, à base de ameixa bombom. 

 

4. Rabanadas do Oli Café 

 

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Sobremesa ou café da manhã? Num dos endereços mais concorridos de Buenos Aires (Costa Rica 6020, Palermo Hollywood), a delícia à base de brioche caseiro ladeada com creme de iogurte grego também feito ali e frutas da estação pode ser devorada a qualquer hora do dia. E não só ela.

 

Nessa bruncheria chique, Olivia Saal faz folhados como se estivesse na França e se arrisca em receitas carinhosas, caso da selva oli (versão cheinha de dulce de leche do floresta negra) e do tostex de quatro queijos, picles de marmelo e cebola caramelizada.

 

5. Vitel toné do El Preferido de Palermo

 

(Agustino Mercado)

 

Vão te falar dos embutidos artesanais, do gigantesco e impecável milanesa de chorizo e dos sorvetes que, de tão aveludados, parecem quentes. E também que se trata de um antigo negócio de bairro que renasceu das cinzas graças a Pablo Rivero, o dono do Don Julio. No entanto, como não está no menu, mas é imperdível, alardeamos: o vitello tonnato do Prefe (Jorge Luis Borges 2108, Palermo Hollywood) é inesquecível!

 

O lagarto de novilho é cozido a vácuo a 72 °C por 16 horas para não perder a suculência. Uma vez frio é, cortado em lâminas finas, recebe uma maionese deusa (de ovos cozidos a 63 °C, atum, anchovas do Mar da Prata maturadas por um ano, alcaparras e um pouco de creme de leite fresco) e, então, é salpicado com alcaparrones e folhas fritas de alcaparra (que acabam de temperar e ainda dão um croc a tão almofadadas texturas).

 

6. Rámen do Julia

 

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Caesar de abobrinhas amarelas e laranja sanguínea, okonomiyaki de inhame, cogumelos à carbonara, picanha maturada com koji (levedura do arroz), cavatelli à putanesca de algas: nada do que sai da “cozinha indie” de Julio Martín Baez (Loyola 807, Villa Crespo) é convencional. Mais do que intrigante, seu rámen não tem glúten porque os noodles são feitos de raros cogumelos cordyceps e mergulham em um dashi à base de fermentado de beterraba e alho, colorido com ervilhas, romã, gema curada, picles de milho bebê, shiitake, gergelim e óleo de jalapeño. 

 

7. Mollejas de La Carnicería 

 

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Apesar da tradução ser açougue, a Carni (Thames 2317, Palermo Soho) é a parrilla que mudou a visão de locais e turistas foodies sobre a carne. Com 11 mesas, um balcão e uma parede ocupada pela foto de um frigorífico, o menu é enxuto. E original.

 

Do gado criado pela família do chef Germán Sitz, a costela é defumada, os intestinos viram snacks, o ojo de bife torna-se sinônimo de pornografia e as mollejas (ou timo, glândula tenra e adocicada do pescoço bovino) protagonizam um prato excepcional.

 

Besuntadas em melaço, ganham uma casquinha crocante e são escoltadas por um “cake” de milho, alho negro e iogurte caseiro. 

 

8. Choripato do Alos

 

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Fora do circuito, Alejandro Feraud coloca em prática o discurso de 90% dos cozinheiros do mundo todo: valorizar os produtos e os produtores. Tanto que o que não sai de sua estância, La Esmeralda, a 20 quilômetros do bistrô (Avenida Alte. Blanco Encalada 2120, San Isidro), vem de vizinhos. É o caso do pato do Adrián, declinado em meia dúzia de receitas.

 

“Seguimos na busca para utilizar 100% do animal. Jamais serviríamos apenas as coxas confitadas ou o magret”, diz o chef. Graças a isso, ele criou o choripán mais elegante da Argentina: o pão fofíssimo é enriquecido com a gordura da ave e a linguiça leva partes menos nobres. Emulsão de cúrcuma e picles de kinkan acompanham!

 

9. Khachapuri do Café Mishiguene

 

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Já que falamos sobre obscenidades gastronômicas sem hora certa, o novo endereço (Cabello 3181, Palermo Chico) de Tomas Kalika é um paraíso. Ou um inferno, pois é impossível não querer gabaritar o longo menu, sobretudo depois da primeira colherada em uma das pastinhas com pães assados no forno de pedra da casa.

 

Aliás, é desta mesma toca que sai o khachapuri. Nem pizza, nem pita, muito menos bagel, um barco de massa que quase afunda de tantos queijos derretidos que abriga. Um magma que se mistura magicamente ao molho encorpado de tomate, às ervas e ao ovo perfeito que o coroa.

 

10. Umami martíni do CôChinChina

 

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A saideira merece ser memorável. E vai ser. Basta que seja no bar cenográfico (Armenia 1540, Palermo Hollywood) de Inés de los Santos, bartender mais celebrada de Buenos Aires. Por lá, um sudeste asiático noir, como num clássico do cinema francês, é traduzido em tragos equilibrados.

 

Um deles é o hit da carta: La Vida que Me Merezco (tequila prata, cordial de abacaxi e baunilha). Outro, o Es Mui Japo (gim, saquê doburoke e cordial de mirim). Porém, peça diretamente pelo umami martÍni. Nem vamos descrevê-lo, pois você tirará suas conclusões. 

 

Por Fernanda Meneguetti | Matéria publicada na edição 127 da Versatille

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