Conheça a trajetória do artista Eli Sudbrack, nome por trás da avaf
O carioca dono da plataforma pseudônimo assume vivid astro focus, que dá nome a todas as suas criações, mira na experiência sensorial do espectador
Nascido no Rio de Janeiro, Eli Sudbrack mudou-se para a cidade de São Paulo em 1991, período no qual passou a ter contato mais profundo com o universo da arte – o que já era incentivado previamente por seu pai – ao frequentar aulas do artista Rubens Mano. Mas foi apenas em 1998, ao ir morar em Nova York, que de fato assumiu a carreira artística e criou a assume vivid astro focus (avaf), plataforma pseudônimo que dá nome a todas as suas criações desde então, que podem ser executadas solo, em dupla ou em grupos de colaboradores. “Um ponto fundamental dos nossos projetos é a inclusão. Não queremos fazer projetos exclusivos. O objetivo é que as pessoas se sintam parte deles, e o pseudônimo também é uma forma de embarcar o espectador no processo criativo”, conta Sudbrack. Confira entrevista com Eli Sudbrack na íntegra.
LEIA MAIS:
- “Felicidade é acordar na segunda-feira sem nostalgia do fim de semana”, diz Luiz Felipe Pondé
- 6 fatos sobre a trajetória de Lewis Hamilton
- 5 fatos sobre Camille Vasquez, advogada de Johnny Depp
Versatille: Como se descobriu artista?
Eli Sudbrack: Eu estudei cinema, e achei que ia ser cineasta até me formar, no fim de 1991, mas nessa época era o Collor na Presidência, e por um período os filmes no país foram prejudicados. Fiquei um pouco perdido e comecei a fazer alguns cursos de artes. Na verdade eu tinha feito algumas coisas no Parque Lage, e meu pai sempre incentivou o meu lado artístico. Ele foi a primeira pessoa que me falou que eu era um colorista. No entanto, eu nunca achei que isso fosse ser uma carreira pra mim, eu sempre via como um hobby. Com o término da faculdade, também mudei do Rio de Janeiro para São Paulo e comecei a fazer vários cursos ligados às artes. Foi então que entrei no curso do Rubens Mano, na Oficina Três Rios, que foi o meu grande começo, digamos. O Rubens estava dando esse curso de fotografia expandida, com a intenção de aproximar o meio das artes plásticas, o que não era comum na época. Eu fui aluno dele, assistente, e depois virei parceiro em um grupo que se chamava Panoramas da Imagem, que durou até o fim de 1990. Nele, organizávamos exposições de artistas novos, fizemos várias coletivas, e também fazíamos palestras e workshops. No mesmo período, passei a dar aula de fotografia no curso de artes plásticas da Faap. Eu ainda não achava que seguiria uma carreira de artista, sempre vi isso como algo à parte. Em 1998, eu me mudei para Nova York – o grande momento em que assumi de fato a carreira artística – e morei lá até 2018. Foi lá que criei o avaf, assim como foi lá que passei a me chamar de artista.
V: Como é seu processo criativo? Qual é o ponto inicial de suas obras de arte?
ES: Isso depende, pois vario entre vídeos, pinturas, instalações, e cada um funciona de forma distinta, de diferentes pontos de partida. Uma coisa que é central, seja qual for, é que a gente sempre pensa na experiência sensorial do espectador. Ele sempre é, de certa forma, o começo de qualquer projeto artístico nosso. Por exemplo, se é um museu, a gente pensa no espaço. Eu uso a cor para atrair para os projetos, e ela permeia todos eles. A gente acredita que é um instrumento visual de comunicação, um elemento de união. As energias podem ser transmitidas através das cores. Em um mundo tão polarizado, é importante pensar em unir as pessoas, e as cores auxiliam nisso. No caso das pinturas, que tenho feito desde 2016, todas partem de um trabalho muito específico. Fazemos diversas remixagens do próprio trabalho, transformando-os em outras coisas. Em 2008, a gente fez um trabalho em um sítio arqueológico, em Roma, que tem quatro templos romanos abaixo do nível da rua. A gente fez um labirinto para conduzir as pessoas. O que é jocoso é que moravam 400 gatos nesse espaço, então a gente fez essa máscara de gato então para que as pessoas usassem e não “assustassem” os moradores. Essa máscara depois foi impressa, e virou um canvas, exibido em Berlim, depois um papel de parede, e isso virou uma padronagem de uma sandália da Melissa. Então, comecei a fazer zoom nesse papel de parede e extrair elementos coloridos, que poderiam virar pinturas, então todas elas são derivadas do mesmo papel de parede. O que faço hoje em dia, para as pinturas que você viu (exibidas na feira ArPa), são zooms diferentes, alterações de cores, de formas, e a partir disso vou construindo essas pinturas no computador. Elas são construídas no Photoshop ou Illustrator, e depois procuro as cores. A gente cria a nossa Pantone, com tintas misturadas, que procuram corresponder às cores da tela do computador.
V: De onde surgiu a ideia de criar o pseudônimo “assume vivid astro focus”? O que esse nome representa para você?
ES: Quando mudei para Nova York e comecei a construir o meu processo artístico, uma coisa muito importante era trabalhar com um pseudônimo que envolvesse todas as pessoas que participam do processo criativo. De cara eu tinha certeza que queria trabalhar com amigos meus, pessoas próximas, e também o espectador. Um ponto fundamental dos nossos projetos é a inclusão. Não queremos fazer projetos exclusivos. O objetivo é que as pessoas se sintam parte deles, e o pseudônimo também é uma forma de embarcar o espectador no processo criativo. Eu o criei no verão de 2001, com a ideia de as pessoas virarem avaf, e se entregarem ao trabalho, o que também é ligado à questão da união das cores. Hoje em dia isso significa eu e outras pessoas, às vezes sou só eu, como é o caso das pinturas, ou até duas pessoas, cinco, 16, 20. Em 2005, eu comecei a trabalhar com um amigo, o Christophe Hamaide-Pierson, que mora na França, e a gente virou uma dupla, o que perdurou até 2016. Ele foi a única pessoa que estava envolvida em todo e qualquer processo que a gente fez. A gente “curava” amigos nossos para projetos específicos. Hoje em dia fazemos processos avaf, separadamente, sem o envolvimento um do outro. Agora, em 2022, a gente fez a nossa primeira exposição juntos, em Londres, depois de seis anos separados.
V: Em certo momento, a anonimidade fez parte de seu processo artístico. Como você enxerga essa questão agora?
ES: No começo, eu não divulgava meu nome e dava entrevistas só de máscara. A gente também começou a distribuir máscaras, para todos ficarem anônimos, e em determinado momento passei a achar que isso burlava uma coisa muito importante, que é a inclusão. Eu comecei a perceber que isso nos separava do espectador. No começo era algo meio Banksy, e eu também queria criar uma confusão. Essa coletividade sempre foi uma questão mais global, é um coletivo de todo mundo. A máscara quebrava a sensação de proximidade, pois queria que ele se entregasse aos nossos projetos. Hoje em dia a gente produz máscaras, mas é mais para engajar. Eu continuo usando o pseudônimo, de certa forma para chamar todo mundo.
V: Quais são seus focos atuais?
ES: Sempre são muitos. Cultivo essa multiplicidade. Eu me interesso muito por pinturas atualmente, algo que não fazia até 2016. Quando me separei da parceria com o Christophe, eu comecei a fazer isso, uma coisa mais íntima. A pintura foi uma grande descoberta, eu amo fazê-la hoje em dia, mas continuo fazendo outras coisas, os projetos de arte pública. Vamos fazer um no Arkansas, no fim do ano, em um festival de música e outro aqui em São Paulo, em breve.
LEIA MAIS:
- 6 fatos sobre a trajetória de Lewis Hamilton
- Obras e residência de Fulvio Pennacchi serão leiloadas após exposição inédita
- Por dentro da Montblanc Haus, um museu que inspira a escrita
V: Qual é o papel social da arte?
ES: Acho que todo artista deveria ter uma preocupação social maior. Acho que muitos se protegem nos ambientes de galerias e museus, e é muito importante abrir isso mais para o público, pois assim você inclui mais pessoas de diferentes classes sociais, projetos mais democráticos. Isso é muito bom pois você atinge um público que não conhece você, o espontâneo, que quer participar. A gente faz os projetos para alcançar liberdade. Uma das nossas responsabilidades é dar esse gostinho de liberdade ao público.
V: A arte para você é…?
ES: Liberdade.
Por Giulianna Iodice | Matéria publicada na edição 126 da Versatille