“Felicidade é acordar na segunda-feira sem nostalgia do fim de semana”, diz Luiz Felipe Pondé

No quadro Persona Versatille, o professor, filósofo e escritor responde sete perguntas sobre sua vida pessoal

(Divulgação)

Luiz Felipe Pondé é doutor em filosofia pela Universidade de Paris e pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e tem pós-doutorado pela Universidade de Tel Aviv. Autor de inúmeros livros, atua como diretor do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, professor da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), comentarista do Jornal da Cultura e colunista da Folha de S.Paulo. No fim de fevereiro, lançou sua mais recente obra, A Fiosofia e o Mundo Contemporâneo: Meditações entre o Espanto e o Desencanto.

 

Qual é seu destino ou lugar preferido no mundo? 

 

Eu gosto de viajar. Normalmente, gosto de ir para lugares um pouco mais inusitados. Por exemplo, os Estados Unidos nunca seriam um destino privilegiado. Eu gosto de ir à Islândia, já fui duas vezes. Gosto de ir à Rússia – que está na moda –, para onde já fui também duas vezes. Gosto do Leste Europeu, em geral – já fui à Romênia, Hungria, Polônia, Escandinávia, Suécia, Noruega –, e de Israel, por vínculos familiares. 

 

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Qual você diria que é o melhor livro que você já leu? 

 

No plano da literatura, eu diria que, sem dúvida, a russa. Irmãos Karamazov, de Dostoiévski; Guerra e Paz, de Tolstói; Pais e Filhos, de Turguêniev. Em relação a livros que são ensaios, um que eu li há muitos anos e continua sendo um dos meus preferidos é O Mal-Estar na Civilização, do Freud, que é basal na minha formação. São muitos livros de filosofia, então fica difícil dizer um, além desse ensaio do Freud especificamente, que talvez tenha sido o melhor que eu li. Eu diria que, ultimamente, o livro do Francis Fukuyama, Ordem e Decadência Política, é um dos melhores que li recentemente. 

 

O que inspira você? 

 

No plano profissional, o que me inspira e me inspirou foi perseguir uma profissão que me desse um cotidiano de prazer no trabalho. Por isso, eu desisti de ser médico e fui estudar filosofia e fazer a trajetória acadêmica. Portanto, eu diria que o que mais me inspira na vida cotidiana, no plano profissional – que é uma coisa fundamental na nossa época –, é ter prazer no trabalho e poder trabalhar como filósofo, como intelectual público da mídia, sempre dizendo aquilo que eu penso e não querendo agradar a ninguém. No plano da vida privada, a família para mim sempre foi muito importante. A função na família como pai, como marido, a valorização do cotidiano familiar e os vínculos afetivos familiares. 

 

O que é felicidade para você? 

 

A felicidade é um conceito que hoje é normalmente vinculado à realização de desejo. Então eu posso dizer, vinculando ao que eu dizia antes, para mim, felicidade é acordar na segunda-feira sem nostalgia do fim de semana. É acordar na segunda-feira sabendo que eu tenho uma agenda de trabalho, que eu vou fazer várias coisas e que essas coisas fazem sentido para mim no dia a dia e não são tipo: “Ai, que merda, começou a semana de novo”. Aquele sentimento de nostalgia do Fantástico. Felicidade para mim também é manter uma vida familiar e cotidiana que não seja excessivamente exposta ao acaso e à contingência. Portanto, eu acho que a felicidade depende de uma certa rotina que não seja destrutiva e aberta ao descontrole do dia a dia. 

 

O que ou quem é o amor de sua vida? 

 

Sem dúvida nenhuma, a pessoa com quem eu me casei há 40 anos, que conheci no kibutz, em Israel, e com quem sou casado até hoje, tive meus dois filhos, e agora a gente tem uma neta. Sem dúvida nenhuma, é o amor da minha vida, além dos meus dois filhos.

 

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Qual é seu lema de vida?

 

Eu nunca pensei nisso porque eu acho que os lemas de vida normalmente são as primeiras coisas que caem por terra quando você vive. Não dá para manter um lema de vida através da vida toda porque ela apresenta todo tipo de situação inesperada. Mas eu diria que um lema, pelo menos olhando a minha vida daqui para trás, foi sempre ter uma razoável autonomia na realização do meu trabalho, não depender de muita gente para tomar decisões e ter segurança financeira, principalmente agora que eu tenho 62 anos e preciso pensar nos próximos anos como anos em que, sem segurança financeira, não dá para vivê-los.

 

Se você não fosse professor, filósofo e escritor, qual profissão escolheria? 

 

A profissão que eu tenho foi conquistada a duras penas por conta da decisão de abandonar uma carreira em que a minha família inteira investiu. Eu tenho uma família inteira de médicos, inclusive o meu filho mais velho é médico. Essa foi uma decisão em um contexto já de casado, com filho. A minha família não ofereceu nenhuma resistência, minha mulher também não, mas a família da minha mulher ofereceu, e entendo plenamente hoje, melhor do que na época, por que foi uma decisão louca. Eu dei muita sorte nessa minha decisão, do ponto de vista do sucesso que eu consegui e no ponto de vista de muitas pessoas que abriram espaços para mim. Eu citaria especificamente o Otávio Frias Filho, que, quando me levou para a Folha, para escrever a coluna que era ilustrada semanal, abriu um universo de atividade como intelectual público, que é a minha principal atividade hoje. Então é difícil para mim imaginar uma outra profissão. Uma coisa que eu gostaria de ter realizado na vida e que eu não consegui é tocar piano. Mas hoje eu me satisfaço em ser um consumidor de música erudita. Não dá mais tempo para tocar piano inclusive porque o meu tempo é ocupado com coisas que para mim fazem muito sentido.  

 

por Laís Campos | Matéria publicada na edição 125 da Versatille

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