Pele com brilho de glacê, maquiagem que faz parecer não estar usando produto algum, bochechas coradas e roupas minimalistas, mas sofisticadas, são elementos-chave que constituem a estética do “clean look”. O estilo, mais ligado ao setor da beleza, surgiu no TikTok no início de 2021 e tem superado a velocidade-padrão com que as microtendências no aplicativo nascem e morrem, uma vez que continua em ascensão. Atualmente, a hashtag #cleangirl já acumula mais de 1,2 bilhão de visualizações. Embora a tradução de seu nome seja “limpeza”, o foco nesse caso é mais na parte visual, que não só traz essa ideia de aparência saudável, mas também a própria relação do clean com o minimal, de uma beleza sem esforço, na qual menos é mais.  

 

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“O estilo clean já existiu com outros nomes, porém sempre em referência a uma estética de linhas, cores e elementos minimalistas. O que se percebe é que, de tempos em tempos, oscilamos entre estilos mais decorativos e limpos. É como se toda tendência ou movimento clamasse por outro em oposição, tendência X contra tendência Y”, diz Aline Monçores, professora da Universidade do Estado de Santa Catarina e organizadora do livro Mitos, Métodos e Experiências sobre Consumo e Futuros. O retorno do clean look aparentemente ganhou força no início de setembro de 2021, quando a modelo britânica Eva Rankin fez um tutorial de beleza – que já tem quase 10 milhões de views – como resposta a um comentário em um de seus vídeos que dizia “você parece tão clean”. Nele, ela demonstra como obter o visual com uma série de movimentos leves ao som da música Manhattan, de Ella Fitzgerald. Desde então, foram feitas inúmeras postagens nesse estilo. 

 

De fato, a tendência contrapõe outras maximalistas e coloridas que surgiram nos últimos anos, como o dopamine dressing e avant-basic, mas também entram em harmonia com estilos de moda e beleza ainda em voga e em ascensão. Um artigo da revista americana The Cut, publicado em novembro do ano passado, apontou o clean look como um complemento do model off duty, tendência abordada pela Versatille na edição de agosto deste ano, que tem a premissa de uma moda chique, minimalista e “sem esforço” e é inspirada em modelos atuais e do passado quando estão fora das passarelas. Uma das referências dessa estética na modernidade, inclusive, é Hailey Bieber, exata personificação do clean look por sempre aparecer com uma maquiagem extremamente leve e a pele do rosto com um aspecto glow e saudável. A modelo inclusive lançou neste ano a própria marca de skincare, chamada Rhode, que promove esse estilo. 

 

 

Embora a aparência física seja o foco do clean look, o resultado visual está bastante ligado aos cuidados com a pele, uma vez que, para se sentir confortável com a decisão de “não cobrir demais”, é preciso apreciar o aspecto natural do rosto. Dessa forma, é difícil separar a proposta dessa estética com a tendência de clean beauty, ainda que seja necessário enfatizar as premissas de ambas. A segunda se baseia em cosméticos não necessariamente feitos de ingredientes naturais, mas que excluem qualquer ativo prejudicial à saúde e ao meio ambiente. Já no clean look, apesar de a composição dos cosméticos não ser o cerne da discussão, o uso de produtos com a pegada clean beauty resulta naturalmente em uma pele mais saudável.

 

Outra tendência recente que compartilha os princípios das duas é o skinimalism, que aposta na simplificação na rotina de autocuidado. Ao invés de usar diversos produtos de skincare e depois de beleza, a ideia é usar menos itens e mais completos, ou seja, com ativos potentes e que são multifuncionais para otimizar o tempo e promover o aspecto de pele saudável e com pouca maquiagem. “Muitos grupos expressam seu comportamento por meio do consumo, e vemos que movimentos ligados à arte, ou mesmo aos conceitos de sustentabilidade, se expressam pelo lema do ‘menos é mais’, que favorece produtos mais simplificados na estética e no uso de matérias-primas’’, diz Aline. Apesar de o clean look transmitir essa ideia de luxo por meio de poros imperceptíveis e nível de polimento aparentemente alcançado apenas com inúmeros tratamentos e cosméticos, o skinimalism é a alternativa ideal para chegar ao mesmo resultado por meio de um consumo reduzido e bem pensado.  

 

De maneira prática, a estética clean pode ser atingida a partir do uso de produtos e técnicas que promovam, principalmente, o efeito glow e de umidade. Alguns aliados que contribuem para esse objetivo são soros, hidratantes, protetores solares que aumentam o brilho da pele, bem como iluminadores líquidos. A maquiagem minimalista inclui geralmente corretivo ao redor dos olhos; um bronzer para contornar o nariz e as maçãs do rosto, linha do cabelo e mandíbula; e blush cremoso nas bochechas, esfumado para cima. Nos lábios, tons mais rosados e avermelhados, que lembrem a cor de boca e com efeito de gloss ou lip balm.  

 

 

Apesar de a beleza protagonizar essa estética, a moda também está presente, com uma composição até que bastante específica: “Cores neutras nas roupas, looks às vezes geometrizados, pouca sobreposição e grande valorização dos acabamentos e materiais nobres”, diz Aline. Argolas e colares de ouro, com pingentes minimalistas ou estrutura de riviera, bem como um perfume marcante, são o toque final do clean look. A partir desses elementos, também é possível traçar um paralelo entre o clean look e a estética de coastal grandmother, também sucesso no TikTok e abordada pela Versatille no início deste ano. Nessa tendência quase naturalista, sem excessos, tanto no visual quanto no estilo de vida, os tons neutros, materiais nobres e o ouro são grandes destaques. Segundo Aline, marcas como Calvin Klein, Adidas – principalmente sua linha Original – e as brasileiras Glória Coelho,  Osklen e Leveza do Ser são algumas referências do clean look. 

 

Em meio a mais uma estética emergente do TikTok, é importante observar a relação da geração Z com as premissas de minimalismo e o contato com o natural, uma vez que, apesar do crescimento constante da plataforma, ela ainda representa 60% dos usuários, segundo o relatório mais recente da Wallaroo Media. “Essa geração já cresceu conhecendo diversas ferramentas,  gadgets e apps que facilitam a vida, mas também podem nos distanciar da realidade. Ela está mais atenta a isso, a se manter conectada ao que é real, apesar de ser usuária ativa de tecnologias. Talvez consiga compreender melhor a importância desse contato com o real para formar um equilíbrio, e, com isso, a busca por expressões que sejam mais naturais”, diz Aline. Para a especialista, a mensagem positiva que fica dessa tendência é a de que há beleza em se mostrar como se é e que não é preciso excesso para estar bem vestido e saudável. É possível, então, alcançar um consumo equilibrado e ser autêntico. 

 

Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 129 da Versatille