Chega de saudade: saiba tudo sobre a reabertura do Metropolitan Museum of Art

Nossa repórter foi à reabertura do MET, museu ícone de Nova York que volta a receber visitantes (com criteriosas regras de segurança) para festejar seus 150 anos de existência.

ARTE por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 116 da revista Versatille.

 

Nenhum dos grandes momentos históricos mundiais ocorridos nos últimos 100 anos fez o Metropolitan Museum of Art passar mais de três dias fechado. Nem a crise provocada pela quebra da bolsa de valores, em 1929, nem a Segunda Guerra ou os atentados de 11 de Setembro de 2001. Pois a passagem do coronavírus manteve esse ícone cultural de portas cerradas por mais de seis meses. Coisa do passado, felizmente.

 

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Em 29 de agosto, o imponente prédio, localizado na Quinta Avenida, incrustado no Central Park, voltou a receber pequenas levas de visitantes. A data marcou a inauguração da exposição comemorativa de seus 150 anos, antes prevista para abril, propriamente batizada de Making the Met 1870-2020.

 

Meu coração bateu mais forte quando surgiu a oportunidade de estar entre os felizardos que pisariam no museu após tantos meses. Afinal, depois de dez anos morando em Nova York, a gente passa a ser considerado um legítimo “new yorker”, embora meu amor por esta cidade tenha se consolidado há bem mais tempo. Lá fui eu, de máscara e com meu álcool em gel na mão. As visitas, que antes eram feitas de forma espontânea e gratuitas para os residentes da cidade, hoje são com hora marcada e limite de tempo – o Met pode receber apenas 25% de sua capacidade normal.

 

Se o trânsito pelas salas e corredores era livre, agora há controle do número de pessoas circulando, além de marcações no chão para indicar as distâncias nas filas, nos elevadores e até nos bancos. Todos têm a temperatura medida na entrada. Mas, por mais inibitório que isso possa parecer, em questão de segundos eu já estava com os olhos hipnotizados pela beleza desse que é um dos mais encantadores museus do planeta.

 

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Já na chegada, algo inédito: o espaço da fachada, antes usado para anúncios das exposições, está ocupado por uma obra de arte. Trata-se do mural Dream Together, de Yoko Ono, criado como uma resposta à crise da covid-19 e que oferece à cidade (e ao mundo) uma mensagem de otimismo, unidade e resiliência. A exposição, que fica em cartaz até 3 de janeiro próximo, é o presente ideal para dar boas-vindas aos fãs e habitués.

 

Sua narrativa, diferentemente das tradicionais exposições de arte, utiliza as obras para contar a história e o desenvolvimento do museu por meio de uma linguagem imersiva e sugerindo interatividade nas redes sociais. A seleção de 250 peças de praticamente todos os tipos de artes, tesouros e artefatos históricos forma uma espécie de melhores momentos da instituição.

 

 

A exibição, em ordem cronológica, mostra as diferentes fases de posicionamento artístico do Met, abordando as obras adquiridas, quando e por quê. Isso ajuda a entender de que maneira o museu criou uma das maiores coleções de todos os tempos, bem como o papel que teve em transformar Nova York no destino cultural que é hoje. Tudo é feito com o contraponto das obras-chave selecionadas para representar cada momento junto a um acervo inédito de fotografias e vídeos de registro em exposição e disponível no site. Há ainda novo material adicional de áudio, com histórias inéditas sobre os bastidores do museu narradas pelo ator Steve Martin, entrevistas com artistas, especialistas e curadores.

 

No entanto, uma das maiores peculiaridades é a pluralidade de fases em uma mesma área, criando uma mistura inusitada de objetos do Egito ao lado de peças de arquitetura medieval francesa ou do movimento modernista americano, por exemplo. Os curadores certamente brincaram com a ideia de comparar artefatos históricos posicionando-os perto de joias e roupas que os tiveram como inspiração. O mesmo vale para o impacto do molde para roupas e acessórios do Exército Americano na Segunda Guerra Mundial exposto junto a roupas icônicas de Yves Saint Laurent e Balenciaga.

 

O senso de humor também está presente nas pequenas placas de descrição, que, em vez de apenas conter informações técnicas sobre a obra e o artista, incluem curiosidades relacionadas ao museu e à obra em si. Por exemplo, para a famosa escultura de Degas La Petite Danseuse de Quatorze Ans (1880), elas mostram o passo a passo do processo de restauração, com alguns comentários de escolhas questionáveis relacionadas ao tecido utilizado para a saia na década de 1960 – aparentemente, era um tom de rosa muito forte para o que fora proposto pelo artista originalmente. Há também uma história sobre a versão em cera da bailarina que chocou – e até assustou – o público, por ser extremamente realista.

 

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Outro destaque é o Retrato de Gertrude Stein, de Pablo Picasso. A placa conta sobre a dificuldade enorme que o artista teve ao pintar o rosto da autora. Os dois eram amigos e tiveram 80 encontros para a criação da obra, que foi refeita à exaustão, sem que ele se desse por satisfeito. Meses depois, usando somente sua memória, Picasso fez o que temos como a versão final, deixando a face da escritora com um aspecto de máscara.

 

As imagens de restauração da obra, hoje expostas, mostram algumas possíveis versões que o artista chegou a testar. Outra informação curiosa: essa foi a primeira obra de Picasso no museu, pois os diretores da época não acreditavam que o cubismo cabia dentro do Met – e ainda destacam que, por sorte, tal opinião mudou rapidamente. Hoje há uma extensa coleção do movimento no acervo, principalmente do artista espanhol.

 

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