Londres é uma cidade de várias facetas e muitas histórias. Dos castelos medievais ao que há de mais moderno e ousado na arquitetura. Das ruas cinzas ao redor de Bank Street às casinhas coloridas de Chelsea. Dos clássicos de Shakespeare às desventuras amorosas de Bridget Jones. Dos Beatles às Spice Girls e até um pouco de Caetano Veloso (sugestão: escute a música London, London).

 

São tantas as referências que é um desafio escolher no que focar ao escrever sobre a cidade, mas definitivamente o contraste entre tradição e ousadia é presença constante. Como explicar que o mesmo local que foi o berço do movimento punk é também onde sobrevive uma das mais sólidas monarquias? 

 

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É justamente a contradição que a torna tão fascinante. Ao mesmo tempo que inspira a magia e o romance, também dá espaço ao suspense e ao mistério. De um lado Mary Poppins, do outro Jack, O Estripador. Porém, mesmo aqueles menos criativos não conseguem resistir a lembrar os voos de Peter Pan ao lado do Big Ben ou o carro voador de Harry Potter ao ver a cidade à noite. Muito menos a caminhar pelas ruas de Notting Hill e passar por aquela livraria com a fachada azul sem lembrar o romance entre Hugh Grant e Julia Roberts.

 

Realmente, não há uma forma simples de descrevê-la, apenas aceitar que, como já diz o título, apropriado de uma canção do musical Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, “there is no place like London” – não há lugar como Londres.

 

Hospedagem

 

Entre o moderno e o histórico, a estadia em Londres foi dividida em dois novos hotéis, bastante centrais, mas que fogem do óbvio: The Twenty Two e The Londoner.

 

 

O The Twenty Two foi inaugurado em abril de 2022. É uma mansão eduardiana destinada aos curiosos e criativos, localizada no coração de Mayfair, bem ao lado do parque Grosvenor Square. No passado, o bairro tranquilo e tradicional concentrava membros da aristocracia inglesa, hoje muito bem retratada na série Bridgerton, da Netflix. Ao subir as escadas e passar pelo hall de entrada todo espelhado, pode-se perceber que o design de Natalia Miyar aproveitou o que há de melhor da construção original. A mansão foi totalmente reformada por dentro, mas brinca com os interiores opulentos e maximalistas junto a acessórios e obras de arte inusitados. Do telefone para chamar o serviço de quarto aos pompons de “do not disturb/please do”, cada canto do hotel enche os olhos e os detalhes divertem os hóspedes. O serviço é extremamente personalizado, uma vez que são apenas 31 acomodações, sendo uma deles uma mew house (um estábulo com um quarto no andar de cima). Além do restaurante, que remete a uma grande casa francesa do século 18, The Twenty Two é também um clube privado para londrinos que buscam um local discreto e exclusivo. O hotel e o clube têm a proposta de ser um espaço cultural dedicado à arte de permanecer. E posso atestar: minha vontade era morar lá para sempre.

 

 

Já o The Londoner é a perfeita contraproposta. Se há um local para sentir a energia pulsante de Londres é lá. Localizado na Leicester Square, no meio do agito e dos teatros, basta passar a porta de entrada para ser transportado a outra realidade banhada a champanhe. No hall de entrada você pode se perder nos diversos detalhes da decoração com referência de filmes, peças e obras de arte. Os quartos são extremamente bem pensados, com minúcias que remetem a atividades da cidade – inclusive um guarda-chuva de pato. A tecnologia também é um dos diferenciais do hotel: praticamente tudo pode ser pedido por botões no quarto ou até mesmo na televisão. Os banheiros também são algo à parte, equipados com o que há de mais moderno nos chuveiros e toaletes japoneses. Além dos quatro restaurantes abertos ao público, o hotel oferece uma área exclusiva para hóspedes chamada The Residence. São três locais: The Drawing Room, uma sala tradicional britânica; The Y Bar, espaço para socializar onde são oferecidas bebidas e petiscos; e The Whisky Room, um bar com um acervo inacreditável de uísque.

 

 

A nova Londres

 

Há alguns novos hotspots em Londres que merecem ser destacados. São bairros e regiões revitalizadas que mudaram a cara da cidade com restaurantes, bares, espaços públicos e até mesmo edifícios residenciais superdescolados, como é o caso do bairro Paddington, próximo ao rio. A região de Kings Cross também, no passado industrial cerca de uma das principais estações de trem da cidade, foi totalmente reestruturada, com novas ruas, parques, espaços culturais e até escolas. No verão, há atividades quase todos os dias, como espetáculos e cinema a céu aberto.

 

Outras duas regiões que merecem destaque, pois estão aos poucos ganhando cada vez mais moradores e visitantes, é Battersea Park, uma antiga usina termelétrica que será transformada em um espaço de lojas e restaurantes, e o bairro Greenwich, hoje chamado de Design District, pois está cheio de instalações e obras de arte, bem como edifícios comerciais e residenciais novos. A região fica a apenas uma parada de metrô de Canary Wharf, outra área recentemente desenvolvida que há alguns anos tem se tornado um novo centro financeiro da cidade.

Dicas de uma Londres fora do óbvio

Há algumas áreas de Londres pouco exploradas por turistas, mas frequentada por locais. Confira:

 

1. Michael Nadra

 

 

Se há algum lugar para um sunday feast de respeito é esse. Localizado em Primrose Hill, um dos zip-codes mais nobres da cidade, o restaurante é frequentado principalmente por londrinos. E aviso: não estranhe se seus vizinhos de mesa conversarem, pois todos ali se consideram vizinhos. 

 

2. Mercato Mayfair 

 

 

A poucos passos do Twenty Two e similar ao TimeOut Market, presente em alguns outros países, o Mercato traz diferentes restaurantes de altíssima qualidade em quiosques. O interessante dessa localização é que fica em uma antiga igreja.

 

3. Booking Office 1869’s

 

 

É localizado dentro do Renaissance Hotel da estação St. Pancras. A construção e decoração são tão majestosas que parecem o cenário de alguma grande produção de Hollywood. O menu de drinques segue totalmente o estilo britânico. Aproveite que já está dentro do hotel para conferir a escadaria onde as Spice Girls filmaram o clipe de Wanna-Be, na parte residencial do edifício.

 

4. St Christopher’s Place

 

 

Ainda em Marylebone, não deixe de visitar essa ruazinha escondida cheia de lojas e cafés com instalações de arte. 

 

5. Monty’s Bar

 

 

O típico bar inglês é a casa de algumas das mais importantes obras de street art de Shoreditch, que se tornou uma das regiões mais descoladas de Londres. Vale a pena se perder pelas ruas da região.

 

6. 108 Brasserie

 

 

Bar e restaurante perfeito para sentar na rua e ver o movimento de Marylebone, no almoço ou à noite. Foi uma descoberta ao acaso, ao tentar uma mesa no famoso Chiltern Firehouse sem sucesso.

 

7. The Stage 

 

 

O bar é localizado no lobby do novo hotel The Londoner e totalmente pensado para os Champagne Lovers, pois apresenta uma das maiores seleções da bebida na cidade, para não dizer do país. Há uma curadoria especial para a degustação em qualquer horário e com todas as refeições do dia. Champanhe no café da manhã? Sim, por favor. 

 

 

Por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 127 da Versatille