“Meu objetivo é me multiplicar até deixar de ser exceção e virar regra”, diz Sauanne Bispo

Atuantes em áreas de trabalho distintas, Bia Figueiredo, Sauanne Bispo, Camila Achutti e Daniela Ota possuem uma questão em comum: o sucesso profissional

Sauanne Bispo (Fotos: Rodolfo Custorio)

Ana Beatriz Caselato Gomes de Figueiredo, mais conhecida como Bia Figueiredo, é piloto de automobilismo e se tornou a primeira mulher a vencer uma prova da categoria Indy Lights. Já Sauanne Bispo é especialista em África e executiva do Google. Imersa na tecnologia, Camila Achutti é CEO da escola Mastertech e criadora do projeto “mulheres na computação”. Grande nome do universo corporativo, Daniela Ota é diretora-geral da Christian Dior no Brasil.

 

Essas mulheres possuem uma característica essencial que aproxima suas histórias: todas são referência de sucesso profissional. Além disso, elas fazem parte da comunidade Mulheres Inspiradoras, liderada pela empresária Geovana Quadros. Há sete anos no mercado, o grupo é considerado o primeiro movimento de união entre lideranças femininas de diversos segmentos, hoje com mais de 600 CEO’s e empresárias participantes. Um dos objetivos do projeto é a geração de networking e a troca de experiências. De certa forma, suas trajetórias são ferramentas de inspiração.

 

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“No grupo, temos mulheres em carreiras majoritariamente masculinas, então em alguns momentos elas são as únicas em uma sala de reunião. É uma liderança muito solitária. Unidas, elas conseguem compartilhar suas vulnerabilidades e inspirar umas às outras”, explica Geovana sobre a importância da comunidade. Mais do que um impacto interno, no entanto, o objetivo é ter voz diante a sociedade.“Ter representatividade em cargos de liderança de diferentes áreas é primordial para a igualdade de gênero. As mulheres inspiram mudanças reais e são capazes de grandes transformações sociais.”

 

Em conversa com a Versatille, Bia Figueiredo, Sauanne Bispo, Camila Achutti e Daniela Ota compartilharam momentos importantes de suas carreiras. Confira a seguir:

 

Sauanne Bispo – Especialista em África e executiva do Google

 

Rodolfo Custorio

 

Versatille: Você sempre sonhou com a carreira que possui atualmente? Ou ela surgiu ao longo de sua trajetória?

 

Sauanne Bispo: Definitivamente surgiu ao longo da minha trajetória. Quando comecei a trabalhar com educação internacional, meu foco era uma agência de intercâmbio tradicional. Eu não pensava em focar na África. Foi por meio da minha formação acadêmica em estatística, fazendo pesquisas e analisando, que eu entendi uma fragilidade no mercado brasileiro e resolvi apostar. No decorrer da minha vida como empreendedora, também comecei a ter acesso a outras oportunidades. Passei a falar muito sobre inclusão racial nos espaços e assim surgiu a minha conexão com as corporações. Estar atuando hoje em uma multinacional de tecnologia não era algo que passava pela minha cabeça, mas é algo que me possibilita explorar minha expertise de trabalhadora. Hoje, Sauanne, apesar de atuar em duas instituições distintas, é a mesma pessoa porque explora a mesma visão e os mesmos propósitos. 

 

V: Qual foi o maior desafio que enfrentou até o momento em sua trajetória profissional?

 

SB: Como empreendedora, ter visão de negócio e me posicionar em relação ao que aquela empresa significa. Defender isso e valorizar a raiz e a origem de um negócio não é uma coisa muito fácil. As pivotagens são muito comuns, mas a África é o meu foco e precisa continuar sendo. Além disso, meu outro desafio foi voltar ao mundo corporativo após quase 10 anos empreendendo. 

 

V: E a sua maior conquista profissional?

 

SB: O que eu mais tenho orgulho é poder exercer a minha competência e ter a recompensa na mesma proporção. É poder olhar para a minha trajetória e ver que a Sauanne quatro anos atrás estava em Salvador sem imaginar que a sua empresa estaria com a exposição e visibilidade que tem hoje. Eu me orgulho muito disso. Acabo sendo referência e inspiração para outras pessoas, principalmente mulheres negras, que muitas vezes não conseguem enxergar quais são os espaços que elas podem ocupar além daqueles que a sociedade disponibiliza. É uma terceira função. Sauanne empreendedora, executiva e referência para a geração do futuro. 

 

V: Em quem se inspira?

 

SB: A pessoa que mais me inspira nesse mundo é a minha mãe. Eu poderia me embasar em grandes referências midiáticas, mas fui criada por uma investigadora da Polícia Civil alocada na Delegacia da Mulher. Uma mãe solo que à noite dava aula de português para o supletivo em uma escola tradicional, que foi onde eu pude estudar como bolsista. E nos finais de semana, ela ainda fazia grupos com esses alunos do supletivo para trabalhar a autoestima deles e agregar outros conhecimentos além do português. Como não vou considerar essa mulher uma inspiração? Eu costumo falar para ela: eu me tornei a mulher que a senhora me criou para que eu fosse. 

 

V: O que ambiciona realizar nos próximos cinco a dez anos?

 

SB: Em cinco anos, como uma pessoa capricorniana que sou, imagino crescimento financeiro (risos). Mas, pessoalmente, me vejo em uma posição que inspire mais pessoas. Apesar de obviamente sonhar com o crescimento da minha empresa, quero maturar um programa de mentoreamento de jovens negros para o mercado corporativo. Meu objetivo é me multiplicar até deixar de ser exceção e virar regra. Esse é o propósito. 

 

Rodolfo Custorio

 

V: O que te dá mais prazer no seu trabalho?

 

SB: Poder vir com a minha essência, identidade e bagagem e poder agregar. Às vezes, bate a insegurança, uma síndrome de impostora, mas ela não pode durar muito tempo para quem reconhece a sua potência. Não abrir mão da minha identidade é o que eu mais gosto no trabalho. 

 

V: Qual conselho daria para mulheres que almejam sucesso profissional?

 

SB: Como mulher, temos uma jornada muito pesada e carregamos bagagens que são duras. Eu só estou na minha posição hoje porque precisei dar uma pausa e contar com ajuda e acompanhamento terapêutico para entender quem sou, o que quero e o que mereço. Muitas vezes, seguimos no automático e não paramos para nos ouvir. Se eu não me respeitasse, qualquer coisa agora seria muito bem-vinda, mas eu me conheço o bastante para saber o que mereço. Não aceito qualquer coisa porque sei o meu valor. Isso não é fácil, é um processo, e por isso eu digo que rede de apoio é tão importante. Essa Sauanne comunicativa nem sempre foi assim. A calculadora já foi a minha melhor amiga, mas eu fui aceitando ajuda e me relacionando com novas pessoas. Aprendi a vender a minha potência, porque se você não contar a sua história em primeira pessoa, alguém vai falar por você. 

 

Por Beatriz Calais

Fotos: Rodolfo Custodio

Make: Pablo Felix

Hair: Kaique Marques

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Tratamento de imagem: Everaldo Guimaraes

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