“Uma colaboração, para os mestres artesãos, é como um presente”, diz Ilaria Resta, CEO da Audemars Piguet

Relógio desenvolvido junto ao norte-americano KAWS é a prova de onde a marca suíça mira chegar

A mais que centenária Audemars Piguet, que tem sede em Le Brassus, na Suíça, e produz todos os seus relógios no país, com a excelência da manufatura local, vem demonstrando, nos últimos anos, uma sede por colaborações de cunho mais pop.

 

Sem abrir mão dos processos primorosos de desenvolvimento e produção das peças, o que está em seu DNA desde a fundação, parte dos relógios que lançaram recentemente é voltada a públicos específicos e produzida em edições limitadas.

 

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No mês de novembro de 2024, a convite da Audemars Piguet, fui a Suíça, com o intuito de desvendar in loco o novo Royal Oak Concept Tourbillon Companion, feito em colaboração com o artista americano KAWS (Brian Donnelly).

 

A programação, repleta de horas marcadas, incluía uma visita à manufatura de Le Locle. Sinceramente, quando cheguei ao local, debaixo de uma chuva persistente de inverno, me senti no futuro, num ambiente claro, com luzes direcionadas e uma arquitetura interessante – a instalação, revelada em 2021, foi projetada pelo escritório suíço Kunik de Morsier. Naquela manhã, ainda não sabia o que desvendaria e como todas as peças e complicações – me perdoem o trocadilho – se encaixariam perfeitamente até o desfecho da história. 

 

 

Recepcionada pelo time e devidamente vestida com jalecos AP, comecei um pequeno tour pelos departamentos que desenvolvem materiais, juntam as peças e dão vida aos relógios, em processos que, muitas vezes, se estendem por várias e várias horas. Vi, também, a preocupação com a perpetuação do feitio, quando observei jovens numa sala envidraçada, aprendizes de um programa da AP. 

 

Impedida de tirar fotos ou gravar vídeos, contei com a minha memória para registrar ao máximo até mesmo as pecinhas diminutas que habitam os mostradores, e, quando encaixadas, dão vida ao tempo – já pararam para pensar que, sem relógios, nunca saberíamos que horas são e, dessa forma, talvez parássemos de contar as horas? 

 

A verdade é que um relógio pode ser bem mais do que um marcador de horas funcional. Desde muito tempo, mestres relojoeiros se empenham em desenvolver modelos que combinam arte com funcionalidade, com criações que impressionam especialistas, até mesmo atualmente. Caso de mostradores pequenos que possuem um cachorro latindo – uma prova de que, com empenho, pode caber muito dentro de um pequeno espaço. 

 

Quebra de paradigmas

 

Foi numa sala reservada a isso, dentro da manufatura localizada em Le Locle, que pude conferir, antes do anúncio oficial, o relógio. Primeiro, fui apresentada aos processos que se alongaram por dois anos, num constante diálogo entre o time de inovação da AP e do artista. Apenas pelos desenhos e protótipos apresentados entendi que havia algo profundamente especial, feito com bem mais que “quatro mãos”. 

 

o processo de montagem do relógio

 

Com a ideia de “prender” um Companion – uma das criações icônicas do artista – dentro da caixa do relógio, algo nunca antes feito pela AP precisou ser desenvolvido: encaixar os mecanismos dentro da obra, de forma que ela fosse não apenas um adorno, mas parte fundamental do funcionamento.

 

“Nós desafiamos nossos limites em termos de tecnologia de fazer relógios para criar um mostrador especial, com o personagem ao centro, rodeado por um novo display de horas e minutos, localizado na parte periférica do movimento”, declarou Lucas Raggi, diretor de pesquisa e desenvolvimento da AP.

 

 

Num diálogo constante entre os times e o artista, foi possibilitado justamente isso: um Companion dentro de uma caixa robusta, de 43 milímetros. A escolha do material, titânio, e das cores, tons de cinza, num visual bem monocromático, chegou em um segundo momento. Uma forma “sóbria” – e em minha opinião, uma escolha acertada – de interpretar os universos que colidiram. 

 

Visto a collab em meu pulso, que é nitidamente grande para a minha proporção. Mas é leve, graças ao titânio, com certo brilho que me encanta. Ao total, serão disponibilizadas apenas 250 unidades do modelo (que talvez, até a publicação desta reportagem, já estejam garantidas a compradores).

 

A grande noite

 

Em uma noite fria e festiva, diretamente da sede em Le Brassus, onde também está localizado o incrível museu da marca, Brian Donnelly e Ilaria Resta, CEOs da Audemars Piguet, receberam uma pequena audiência de mídias internacionais para contar o processo de elaboração: “Eu me aproximei da marca e do que eles fazem, que são relógios incríveis, há dois anos. Eu entendo de volumes, mas era algo totalmente diferente para eu trabalhar”, começou KAWS.

 

“Normalmente artistas são peculiares e específicos com os materiais, mas ele foi aberto de uma forma generosa, para saber o que a gente tinha a oferecer. Quando você se aproxima de um artista, é possível ver um universo de criações de perto. Para mim, foi bem emocionante”, comentou Ilaria. 

 

Falando sobre a criação, em si a CEO respondeu ao que afirmo no começo do texto: a sede por collabs da AP aumentou. Mas o que as motiva?

 

“Nós queremos puxar a dificuldade de construção dos nossos relógios, e esse é o principal motivo por que chamamos criativos para as colaborações. Claro que estar próximo da cultura pop é importante, mas não é o que buscamos em primeiro plano. Uma colaboração, para os mestres artesãos, é como um presente, que os desafia a desenvolver algo novo”, concluiu.

 

Perguntas respondidas, chegou a hora de ver, de longe, a grande instalação localizada no telhado da sede da Audemars Piguet. Pertencente à série KAWS: Holiday, que insere objetos de grande dimensão em lugares icônicos, o público e até mesmo os passantes na estrada conseguiram avistá-la até 20 de dezembro de 2024.

 

Por Giulianna Iodice | Matéria publicada na edição 137 da Versatille

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