Exposição Topografia da Memória, da artista Sallisa Rosa, vive seus últimos dias na Pinacoteca de São Paulo

Comissionada pela Audemars Piguet, a instalação conta com mais de 100 peças de cerâmica únicas e moldadas à mão

Algum dia você já imaginou como seria adentrar a cabeça de alguém e se deparar com as suas memórias? Grandes ou pequenas; centrais ou mais afastadas; definidas ou abstratas. Será que poderíamos identificar que memórias são essas e quão importantes são? Provavelmente, a sensação de estar ali, observando a mente alheia, seria como estar em outro planeta. 

 

Mesmo sendo um cenário fictício e construído pela artista Sallisa Rosa, é mais ou menos a sensação que temos ao entrar e andar em sua mais recente obra, batizada de Topografia da Memória. A instalação imersiva, comissionada pela Audemars Piguet Contemporary, braço de comissionamento de obras da relojoeira, conta com mais de 100 peças de cerâmica únicas e moldadas à mão, que foram distribuídas cuidadosamente em um espaço fechado com baixa iluminação, criando um ambiente totalmente diferente, em que os visitantes podem caminhar entre as peças que estão por todos os lados: no chão, sobrepostas em cima de outras e algumas até suspensas no teto. As esferas quase perfeitas contrastam com formas abstratas, algumas remetem a formações geológicas encontradas em cavernas. 

 

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A proposta da artista goianiense é explorar como nos lembramos dos fatos e a possibilidade de reprogramar lembranças. A inspiração surgiu quando sua avó foi diagnosticada com Alzheimer, momento que gerou uma autorreflexão sobre a própria ancestralidade. As avós são figuras centrais para contar as histórias de suas famílias. Ao acompanhar o declínio da capacidade de recordar, a artista começou a refletir sobre o tema. 

 

Sallisa Rosa (Cortesia da autora e da Audemars Piguet)

 

A escolha do material, a argila, também tem um significado, porque ela representa uma conexão entre a erosão da terra e a debilitação da capacidade de lembrar, algo central no trabalho de Sallisa Rosa. A temática da conexão humana com a terra é sempre presente no seu trabalho, por meio da fotografia, dos vídeos, das performances ou de instalações.  

 

Mesmo que Sallisa tenha familiaridade com a cerâmica, essa é a sua primeira grande instalação feita totalmente do material, o que resultou num espaço único e impactante. Sem limitações, os visitantes podem simplesmente passar e se impressionar com a maestria artesanal da artista, mas também se perder pelos inúmeros caminhos e possibilidades criados ali dentro e, quem sabe, até revisitar algumas de suas memórias. 

 

Topografia da Memória foi apresentada pela primeira vez na Rotunda do Collins Park durante o Miami Art Basel de 2023. Atualmente, está em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, onde ficará exposta até 28 de julho de 2024. 

 

Por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 134 da Versatille

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