Zurique é pura arte: conheça a cidade suíça por meio de sua cena cultural e artística

Percorrer a cidade pautada pela arte é deleitar-se no encontro constante entre passado e presente

Kunsthaus, o museu de belas-artes (Foto: Giulianna Iodice)

É uma sexta-feira ensolarada, precisamente dia 9 de junho. Estou no terraço do Löwenbräukunst, um centro de arte contemporâneo, em Zurique. Na minha roda de conversa, estão dois italianos que acabo de conhecer: Elena DelCarlo, chefe de comunicação do Museu Rietberg, e Stefano Pirovano, diretor da Conceptual Fine Arts, organização sem fins lucrativos baseada em Milão. Eles já se conhecem, o que me transforma, neste momento, em novidade, principalmente por eu ser a única jornalista brasileira no local. Até que um grupo de jovens alemães, que estão expondo no Zurich Art Weekend – o motivo da minha ida até a cidade, a convite do Turismo da Suíça, o My Switzerland BR –, se aproxima. A menina superjovem, que não se apresenta, começa a conversa falando que Berlim, apontada nos últimos anos como epicentro descolado, à frente do tempo e com cena artística efervescente, “it’s over”, ou seja, “já era”. 

 

Pergunto rapidamente o porquê da afirmação. Ela diz que para ela, moradora da cidade alemã, “saturou”, justamente pelo excesso de novidades o tempo todo. Sabiamente, Pirovano pergunta: “Mas onde está, então, o próximo centro artístico efervescente da Europa para você?”. Ela responde: “Talvez, Zurique, ou até, com certeza, Zurique”. Tocada pelo comentário de uma pessoa, abro ainda mais os meus olhos para vivenciar este fim de semana e me atentar à tal efervescência que envolve todo um sistema: espaços alternativos, galerias de arte de proporções diversas, museus, e, claro, os artistas.

 

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O Zurich Art Weekend é um evento recente, que acontece desde 2018 e tem como objetivo promover a cena cultural da cidade. Na primeira edição, 34 espaços de arte participaram, e, na mais recente, 70. Um de seus objetivos é atrair o público para dentro deste universo, além de unir as variadas esferas que o compõem. “É sobre criar espaço para algo que precisa de espaço”, diz Charlotte von Stotzingen, diretora e fundadora do Zurich Art Weekend, que tem o apoio do Grupo Mirabaud. 

 

Após três dias imersa na cena artística de Zurique, consigo afirmar: a cidade é, sim, um destino para os amantes das artes. Não somente, é claro, mas há muito a se vivenciar e aprender culturalmente. Também é grande a facilidade de unir o destino a Basel, reconhecida globalmente pela Art Basel, graças ao sistema ferroviário impecável – e pontualíssimo – da Suíça. Numa cidade convidativa a caminhadas, percorri quilômetros e me deslumbrei diversas vezes. Num misto entre absorver e relatar, compartilho agora o “caminho das artes” de Zurique. 

 

Museus fundamentais

 

Museu Rietberg

 

Contemplating a Waterfall, folha do álbum Silent Poetry, de Shen Hao, da dinastia Ming ou Qing, por volta de 1640, no Museu Rietberg (Museum Rietberg/Rainer Wolfsberger)

 

Localizado num belo jardim, o museu é o terceiro maior da cidade e concentra em suas duas construções grande acervo de obras de arte asiáticas, africanas, americanas e oceânicas. A maior parte do que está exposto é proveniente de coleções particulares. 

 

Kunsthaus 

 

Quadro de Piet Mondrian, no Museu Kunsthaus (Giulianna Iodice)

 

O museu de belas-artes é emocionante. Uma das maiores coleções de artes da Suíça, ele possui dois prédios onde estão dispostas obras de arte oriundas do século 13 até os dias atuais. Nomes como Piet Mondrian, Andy Warhol e o suíço Alberto Giacometti compõem a coleção, entre muitos outros.

 

Museum für Gestaltung Zürich

 

Museum für Gestaltung Zürich (Georg Aern)

 

É o museu de design de Zurique. Fundado em 1875, possui atualmente um acervo de 500 mil peças. Todos os anos eles realizam cerca de cinco exposições. Para os amantes de Le Corbusier, há uma exibição temporária (até o fim de novembro deste ano) que aborda a temática de dimensões e proporções. 

 

Além dos museus e instituições

 

Há muito a ser visto e, caso seja seu objetivo, a ser adquirido nas galerias de arte da cidade. Confira, na sequência, alguns destaques:

 

Galerie Eva Presenhuber

Galerie Peter Kilchmann

Galerie Gmurzynska  

 

Exposição de Marjorie Strider, na Galerie Gmurzynska (cortesia Galerie Gmurzynska)

 

Passado artístico 

 

Zurique tem história conectada com a arte, e isso fica claro ao descobrir o destino. O Cabaret Voltaire é um exemplo perfeito. Foi neste local que o primeiro manifesto dadaísta foi lido, em 1916, pelo alemão exilado Hugo Ball, um dos fundadores do movimento. Também foi lá que o público se chocou com o caráter disruptivo do dadá, numa apresentação em 5 de fevereiro de 1916 que entrou para a história. Após mais de 100 anos, o local está aberto para visitações, exposições e apresentações, além de possuir um café agradável. 

 

Cabaret Voltaire (Giulianna Iodice)

 

A Igreja de Fraumünster tem cinco vitrais de autoria de Marc Chagall, que aceitou o desafio aos 80 anos, em 1967. Augusto Giacometti também possui vitral dentro da igreja, ainda mais antigo, dos anos 1940. O órgão e o teto do altar, oficialmente chamado de Abside, também são admiráveis.  

 

Igreja de Fraumünste (Getty Images)


Como se locomover, o que comer, onde se hospedar

 

Em viagem à Suíça, é altamente recomendável a aquisição do Swiss Travel Pass, que facilita não somente toda a locomoção – inclui trens, ônibus e barcos, além do transporte público –, mas também garante entrada gratuita em diversos museus, acesso a excursões e descontos diversos. Pessoalmente, achei incrível me locomover de transporte público dentro de Zurique, principalmente pela pontualidade (fato já conhecido, eu sei). Os trens que ligam as cidades também são extremamente cômodos, e o Swiss Travel Pass garante assentos na primeira classe, que costuma ser bem vazia e silenciosa. 

 

Zurique é repleta de restaurantes que oferecem desde comidas e ambiente típico até propostas mais moderninhas. Os tradicionais Zeughauskeller e Zunfthaus Zur Waag são altamente recomendáveis: o primeiro tem mais ambiente de taberna, e o segundo é sofisticado, com vista linda para a Fraumünster, citada na página ao lado. Os bares La Stanza, que tem sotaque italiano, e Gamper Bar, com uma carta repleta de vinhos e vermutes, também valem a visita. Não menos importantes, os estabelecimentos Bar Sacchi e Bar Lupo compõem a nova cena da gastronomia da cidade, mais jovem e informal. 

 

Gamper Bar (Reprodução)

 

Apesar da facilidade de locomover-se, a hospedagem em hotéis centrais facilita a vida do turista, que também pode andar para chegar aos principais pontos de interesse. O superluxuoso Bar au Lac tem localização privilegiada, próximo a Burkliplatz, além de vista exuberante. O hotel em que me hospedei, Ruby Mimi, agrada pelo endereço e também pela praticidade do autosserviço, que inclui o self-check-in e check-out. E, já que o foco deste relato é arte, não posso deixar de mencionar o Park Hyatt Zurich, repleto de obras e instalações; Adler, que tem exemplares de Rudolf Koller e Heinz Blum; e as duas unidades do 25hours, uma delas em Zurich West, região do momento.  

 

O salão do tradicional Zunfthaus Zur Waag (Reprodução)

 

Por Giulianna Iodice | Matéria publicada na edição 131 da Versatille

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