Conheça o Vila Cerrado, hospedagem sustentável na Chapada dos Veadeiros

Idealizado pelo casal Melina Menghini e André Cardinali, o empreendimento foi criado para ser um refúgio de bem-estar e cura para a alma

Vila Cerrado (Foto: Vitor Ugo)

Pela presença predominante de cores em tons terrosos e pelo singelo elixir de cristais oferecido logo no início do encontro, já foi possível entender um pouco sobre a essência do Vila Cerrado, que organizou um evento para a imprensa no início de junho. O objetivo era apresentar o hotel, que fica em Alto Paraíso (GO), na Chapada dos Veadeiros, e contar um pouco sobre a história por trás do empreendimento.

 

“Nós criamos o espaço como um refúgio de bem-estar, mas nem sabemos como chamá-lo. Segue o conceito de hotel-casa, porque cada quarto tem sua própria cozinha e estrutura, mas realmente não sabemos se é uma pousada, um hotel boutique ou um hotel mesmo. Deixamos para vocês, que são especialistas, definirem”, explica Melina Menghini, uma das idealizadoras do Vila Cerrado, entre risadas.

 

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Definições e rótulos sinceramente não são tão importantes assim, e é isso que ficou claro durante a apresentação. Melina e seu marido e parceiro de negócios, André Cardinali, não são do ramo do turismo. Ela é atriz e ele, engenheiro. Sendo assim, a acomodação nasceu de forma intuitiva, fruto do contato com a natureza da Chapada dos Veadeiros. Não foi nada pensado para revolucionar o mercado do turismo nacional — mas, algumas vezes, as ideias mais inovadoras nascem desses momentos despretensiosos.

 

Melina Menghini e André Cardinali (Foto: Rafa Marques)

 

Melina e André são paulistanos, mas sempre gostaram da Chapada, que chegou a ser palco do casamento dos dois. Foi durante a pandemia de Covid-19, no entanto, que a urgência de estar em um local em contato com a natureza se tornou mais barulhenta do que nunca. Eles tinham acabado de ter um bebê e ainda estavam lidando com o luto pelo falecimento da mãe de Melina, que passou por um longo tratamento contra o câncer.

 

No processo, a atriz mergulhou em questões como cuidados paliativos e terapias energéticas, que ajudavam no bem-estar de sua mãe. Mesmo após o falecimento, as memórias sobre como as terapias haviam ajudado na criação de um sentimento de paz e relaxamento em meio ao tratamento continuaram intrínsecas no dia a dia de Melina. Com meditações e práticas de energia vibracional, parecia ser mais fácil lidar com questões como dores, ansiedades e até mesmo as incertezas inflamadas durante a pandemia.

 

Juntando tudo isso a um contato intenso com a natureza, tudo fica ainda mais forte e simbólico. A Chapada dos Veadeiros já é um local historicamente ligado a movimentos energéticos. A região acolhe a maior placa de quartzo subterrânea do planeta — coincidentemente onde passa o paralelo 14 (que alinha o local com a lendária cidade peruana de Machu Picchu). Para algumas pessoas, essa é uma característica que propicia o aprofundamento no autoconhecimento pessoal.

 

Por essas e outras, o casal decidiu seguir para a Chapada com um bebê de três meses no colo. Parecia uma opção melhor que ficar trancafiado em casa em meio ao caos da metrópole. A família de André tinha uma casa na região, então esse parecia o plano perfeito para lidar com tantas questões que chegavam para balançar a vida do casal em tão pouco tempo. Após algumas semanas morando em Alto Paraíso, uma ideia surgiu para virar tudo de ponta cabeça novamente — dessa vez, de forma positiva: e se eles criassem uma hospedagem na região?

 

A resposta já conhecemos. Foi o início do Vila Cerrado.

 

DA IDEIA, UM NASCIMENTO

 

“Foram nove meses de projeto. Uma verdadeira gestação”, conta André. Além das questões de bem-estar mental, o engenheiro sempre se preocupou com a sustentabilidade, então o espaço foi desenhado com dois pilares principais: precisava ser conectado com a natureza em prol do Cerrado e também servir como um refúgio de bem-estar e cura para a alma.

 

“Oferecemos experiências que permitem ampliar a consciência sobre a manutenção de hábitos diários saudáveis, tanto para nós quanto para o planeta. Desde o princípio, tivemos o objetivo de criar um lugar para acolher pessoas e inspirá-las”, completa Melina. Com inspiração no Cerrado — o segundo bioma brasileiro mais devastado atualmente —, o espaço possui cinco unidades de hospedagem (três casas e dois chalés) que foram batizados com nomes que remetem a árvores e frutos da região.

 

Foto: Vitor Ugo

 

As casas-boutique, por exemplo, possuem 70 metros quadrados e são chamadas de Copaíba, Jatobá e Buriti. Cada um delas dispõe de cozinha gourmet, deck com vista para o jardim e banheiros privativos ao ar livre com banheira de imersão esculpida em pedra natural. Na arquitetura e no design, são diferentes detalhes e texturas que resgatam técnicas milenares dos quilombolas, como o pau a pique, revisitando a expressão cultural dos kalungas — nome dado aos produtores do Cerrado —, que possuem um conhecimento ancestral na construção com barro e bambu.

 

“Achavam que eu estava louca quando propus a ideia de fazer uma estrutura com pau a pique. Mas dava certo. Eu já estava na região a bastante tempo para entender que funcionaria”, recorda  a atriz. Com a ajuda de uma equipe de profissionais da comunidade, tudo realmente funcionou e serviu como um diferencial para a hospedagem. Esse apoio da comunidade local, na realidade, foi essencial para que as idealizações saíssem do papel.

 

Internamente, a decoração recorre a trabalhos manuais assinados por escultores e artesãos locais e nacionais, como trançado de palha, cerâmica e macramê, em uma mescla harmoniosa do rústico com o contemporâneo. Cada quarto é decorado de uma forma. São almofadas, cobertores e quadros diferentes e a ideia é realmente não ter uma padronização. “Não compramos do varejo. É algo para valorizar o talento que temos na região, então cada hospedagem é única. Para mim, isso é muito especial”, diz Melina.

 

Foto: Maira Torres

 

Quanto aos chalés, batizados de Baru e Pequi, ambos têm 36 metros quadrados de área privativa e remetem a um espaço loft com ambientes integrados entre si, possuindo deck com vista para o jardim e copa compacta com os principais utensílios de cozinha e mesa bistrô gourmet. Eles seguem a mesma proposta de décor, design e arquitetura das casas-boutique.

 

A valorização das riquezas locais também está presente na gastronomia. A todos os hóspedes, é oferecido um café da manhã caseiro e regional com iguarias servidas em estilo colonial. Outra possibilidade é o Café Sensus, uma experiência gastronômica sensorial inspirada no movimento Slow Food e na medicina Ayurveda, que promove uma maior apreciação da comida. Servido à la carte, esse serviço tem o propósito de inspirar a reconexão com a natureza e com o bioma por meio da comida. “Temos, inclusive, hortas disponíveis para que os hóspedes colham os temperos e as ervas medicinais que desejam”, conta o casal.

 

Foto: Vitor Ugo

 

Já para quem almeja uma experiência mais energética, há o espaço Salvia – Centro de Reconexão, que oferece diversas terapias holísticas para quem busca relaxar, conectar-se consigo mesmo ou potencializar processos específicos. Massagens e aulas de yoga também são atividades possíveis na propriedade. Uma alternativa ideal para curtir a hospedagem entre os passeios pelas trilhas e cachoeiras da região.

 

Quando se trata de sustentabilidade e natureza, ainda há uma expedição de turismo regenerativo para hóspedes: a Salve Cerrado, realizada em parceria com a Associação Cerrado de Pé,  que contribui para a autonomia de 80 famílias da região. O objetivo é criar uma conexão entre o turista e o bioma a partir do plantio de sementes junto de produtores locais, que elucidam a importância da conservação e da biodiversidade nativa.

 

Com um caramelo do cerrado em mãos e uma essência de pequi na bolsa, foi possível sair do encontro sentindo um pouco do propósito do Vila Cerrado. Com tantas iniciativas, realmente é difícil encontrar uma definição para o empreendimento, mas Melina termina a apresentação resumindo bem o que significa para ela. Os nove meses de construção foram mais que simbólicos. “Realmente é um segundo filho”, brinca.

 

Por Beatriz Calais

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