No backstage de Hollywood: o que acontece por trás das câmeras em um evento como o Globo de Ouro

Saiba mais sobre os bastidores das grandes premiações da indústria do cinema, descritos pelos olhos atentos de uma jornalista que adentra tais espaços

Jogue a primeira pedra quem nunca agradeceu à Academia com alguma escova de cabelo ou até um shampoo na frente do espelho fazendo alusão a ganhar um Oscar. Bom, não sei se muita gente faz isso, mas eu certamente já fiz mais de uma vez. Porém, o destino quis que Hollywood abrisse suas portas para mim, só que num papel diferente do das grandes estrelas – no caso, como repórter. Após anos de carreira, inúmeras entrevistas e matérias exclusivas sobre televisão e cinema, fui selecionada para fazer parte de um pequeno grupo de jornalistas que está por trás de uma das mais importantes premiações: o Globo de Ouro. 

 

Kim Novak com seu prêmio de atriz revelação em 1955 (Getty Images)

 

Breve contexto histórico: as premiações de cinema surgiram no fim dos anos 1920. Louis B. Meyer, do estúdio Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), criou a Academy Motion Picture Arts and Sciences em 1927, com o intuito de estruturar uma organização que juntasse todos os estúdios para formalizar a então nova indústria. Naquela época, o país enfrentava, além de reformas trabalhistas, uma grande crise econômica sem precedentes, e Hollywood não chamava a atenção do americano médio. Por isso, em 1929, a Academia criou uma premiação, hoje apelidada de Oscar, como uma solução unificada dos estúdios para ajudar a promover seus filmes, função que até hoje, quase 100 anos depois, cumpre com sucesso. 

 

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Na época, o foco de bilheteria era totalmente doméstico; não se imaginava uma indústria internacional como se tornou atualmente. Justamente por isso, em 1943, um grupo de jornalistas internacionais que viviam em Los Angeles se juntou para criar uma associação chamada de Hollywood Foreign Press Association, onde premiariam os melhores filmes com um Globo de Ouro. O símbolo foi claramente escolhido de forma que ilustrasse o intuito de facilitar o contato entre o cinema americano – e eventualmente a televisão – com o resto do mundo. Depois de algumas décadas, outras premiações surgiram no mercado; no entanto, as mais comentadas e prestigiadas seguem sendo o Oscar e o Globo de Ouro. 

 

Elizabeth Taylor e Michael Todd na 14ª edição do evento (Getty Images)

 

Enquanto o Oscar se tornou mais formal e tradicional, o Globo de Ouro teve a permissão de ser informal. O Oscar é apresentado em um antigo teatro, onde, após o longo e observado red carpet, as estrelas e os profissionais de cinema se sentam em silêncio, por horas, para assistir a cada uma das categorias que envolvem a produção da sétima arte com a mesma seriedade. Já o Globo de Ouro acontece após um jantar no salão principal do tradicional hotel Beverly Hilton, em Los Angeles, e a atmosfera é de uma grande festa onde todos realmente se divertem. 

 

Por ser uma premiação de jornalistas, as categorias muito técnicas de cinema acabam não fazendo parte, o que deixa toda a cerimônia mais rápida e leve. Além disso, o formato do salão permite que os convidados circulem e conversem entre eles. E, quando falamos convidados, queremos dizer as grandes estrelas de Hollywood. Assim, acontecem momentos memoráveis e que se tornam virais, como a fofoca entre Selena Gomez e Taylor Swift, que, ao que tudo indica, estavam discorrendo sobre o casal Timotheé Chalamet e Kylie Jenner na premiação deste ano. Por isso e muitos outros motivos, estar in loco na cerimônia é uma experiência verdadeiramente única.  

 

Lee Sung Jin, Ali Wong e Steven Yeun com seus prêmios por Treta (Getty Images)

 

Fora o glamour que podemos todos acompanhar na transmissão, estar lá é uma mistura emocionante de luxo e um pouco de bagunça – mas no bom sentido; afinal, nada mais interessante que um toque de imprevisibilidade. O ponto de partida, claro, é o tapete vermelho. De fora, vemos as estrelas desfilando em seus trajes deslumbrantes, parando para fotos e dando entrevistas. Mas estar lá torna tudo muito maior e mais agitado. Inúmeros veículos de imprensa estão por todos os lados, e existe um espaço separado específico para os fotógrafos, onde se pode ver de perto os looks de cada um. No caminho oficial do red carpet, existe serviço de bebidas e espaço para socializar. Entre os indicados e os apresentadores, é um nome de peso atrás do outro na chegada. Alguns acompanhados de grandes times, como Taylor Swift e Leonardo DiCaprio, e outros que andam praticamente sozinhos, a exemplo de Harrison Ford e Lenny Kravitz. 

 

Essa parte da premiação dura mais ou menos duas horas. Enquanto alguns param para falar com a imprensa presente, outros tentam passar o mais rápido possível para o salão. Mas muitos dos convidados acabam socializando entre si, como Steven Spielberg, que conversou por minutos a fio com Juan Antonio Bayona sobre suas impressões de A Sociedade da Neve. Ou Christopher Nolan e Bradley Cooper, que se encontraram a poucos passos dali e exatamente ao mesmo tempo. É tão lotado que, muitas vezes, você nem consegue perceber todos os que estão chegando no evento ou, até mesmo, esbarra sem querer em um de seus favoritos. 

 

Margot Robbie e Billie Eilish (Getty Images)

 

Uma vez dentro do local da cerimônia, antes mesmo do início da transmissão, a atmosfera é eletrizante. A decoração suntuosa do salão, com seus icônicos lustres, chega a desaparecer no meio da agitação dos convidados. A sensação é que você está fazendo parte de algo muito especial; afinal, é a festa mais exclusiva da indústria. O jantar é servido uma hora antes da premiação, mas muitos optam por pular a refeição para seguir circulando entre as mesas. Presenciamos novas ideias surgindo na conversa entre diretores e produtores e, muitas vezes, eles se tietando. Mas tudo se acalma um pouco uma vez que se começa a televisionar a premiação.  

 

Steven Spielberg, Harrison Ford e Kate Capshaw na festa da 81ª edição do Globo de Ouro (Getty Images)

 

É importante destacar que o salão é relativamente pequeno e quase todo mundo consegue se ver mesmo do palco, o que resulta muitas vezes em momentos totalmente espontâneos e imprevisíveis. Discursos improvisados como o de Ke Huy Quan em 2023 ao olhar Steven Spielberg na primeira fileira e ressaltar que foi ele quem lhe deu o seu primeiro emprego. Ou Jennifer Coolidge, que, apesar de estar recebendo a estatueta por White Lotus, agradeceu a Ryan Murphy por ter lhe dado um de seus primeiros papéis. Mike White, criador da série, brincou que muitos ali presentes o aplaudindo pelo prêmio tinham rejeitado o tal projeto. 

 

De fato, nunca se sabe o que pode acontecer em um evento ao vivo como este. E, claro, estes imprevistos são televisionados, o que deixa a premiação autêntica. Mas o que o público não pode imaginar é que os dois maiores points durante a premiação não são o palco nem as mesas perto dele, que estão sempre expostas na transmissão ao vivo, mas sim o corredor próximo ao banheiro e o bar, em um pequeno anexo do salão, ambos longe das câmeras. É nesse espaço que as grandes celebridades ficam à vontade. Áreas seguras, onde só estão os convidados e sem câmeras por perto. Podem agir casualmente, fugir da formalidade, dar risadas e até comemorar o tão sonhado Globo de Ouro.  

 

Por Miriam Spritzer  | Matéria publicada na edição 134 da Versatille

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