Uma das melhores formas de realmente conhecer um lugar é observando e conversando com as pessoas que ali residem. É por meio de interações simples e cotidianas que muito se descobre sobre uma cultura local – e, acredite, mesmo os destinos mais comuns e populares reservam novidades. Orlando, nos Estados Unidos, já um velho conhecido dos brasileiros, é capaz de provar essa teoria.  

Famosa por ser a terra dos parques de diversão, a cidade é amada globalmente e possui alto movimento turístico, principalmente quando se trata de viagens em família. Basta entrar num voo para perceber a presença de muitas crianças, de todas as idades, empolgadas para chegar logo, e também adultos nostálgicos. É também “fácil” afirmar que a maioria dos passageiros está com um roteiro específico: visitar os parques temáticos da Disney e da Universal.  

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O objetivo da Versatille, ao passear pelo local, era diferente. A convite do Visit Orlando, a ideia era conhecer o destino além do clássico. Após desembarcar, passar pela imigração e se afastar um pouco do clima que se alastrava pelo avião, as primeiras impressões começaram a surgir. No trajeto entre o Aeroporto Internacional de Orlando e o complexo hoteleiro SpringHill Suites at Marriott Village, a conversa com o motorista Mr. Phanord foi reveladora. Imigrante do Haiti e apaixonado por diversos idiomas, ele falou sobre sua mudança para o país e sobre seus estudos na área de negócios em uma escola local.  

Trocar experiências e saber um pouco mais sobre a visão de um estrangeiro residente a respeito da cidade foi uma ótima maneira de começar a visita por Orlando. No dia seguinte, em mais trajetos em carros de aplicativo, foi possível conhecer outros imigrantes com experiências de vida variadas, como Guido, da Colômbia, que havia chegado a Orlando naquela mesma semana em busca de novas oportunidades de trabalho e estudo. Com a mistura entre inglês e espanhol um tanto cômica, essa conversa foi decisiva para a primeira impressão sobre a cidade: é um destino multicultural.

 Claro, já é sabido que o estado da Flórida possui muitos imigrantes e visitantes latinos. Mas, ainda assim, é importante ressaltar quanto outros países influenciam o clima, o entretenimento e até a gastronomia do local. Segundo um estudo feito pelo site de finanças WalletHub, divulgado em 2018, Orlando está entre as cidades americanas com maior diversidade étnica dos Estados Unidos.  

A pesquisa comparou as 500 maiores cidades do país em três quesitos: diversidade étnico–racial, linguística e de nascimento. Orlando ficou em 26º lugar entre todas as cidades e em 10º considerando apenas os territórios de porte médio. Basta observar a cidade com um pouco de paciência para comprovar essa estatística. Festivais como o Orlando’s Hispanic Heritage Month e o Festival Calle Orange celebram a herança cultural hispânica na região. Já a comunidade Mills 50 District representa a população asiática local, com diversas opções de restaurantes, lojas e mercados típicos com placas escritas em vietnamita, chinês, tailandês e coreano. 

Talvez a gastronomia seja o setor mais favorecido por essa diversidade – e, embora o Epcot, famoso parque da Disney, ofereça uma volta ao mundo por meio de atrações e restaurantes temáticos, também é possível fazer uma viagem por outras culturas sem nenhum ingresso em mãos. Basta um bom roteiro pela cidade para vivenciar sabores que remetem a países distantes.  

NAS MESAS DE ORLANDO, UM POUCO DO MUNDO  

Cada vez mais Orlando se destaca como um destino gastronômico. Só em 2023, a cidade teve 46 restaurantes reconhecidos pelo Guia Michelin, incluindo os quatro restaurantes estrelados (todos receberam as estrelas em 2022, na primeira edição do guia da região da Flórida), 11 Bib Gourmands e 31 recomendados. Confira algumas casas que valem a visita:  

Capa: a steakhouse é espanhola, mas a chef confeiteira é brasileira  

(Divulgação)

Localizado no 17º andar do Four Seasons Resort Orlando, que faz parte do complexo da Disney, o Capa Steakhouse & Bar possui uma estrela Michelin e oferece o melhor da fusão cultural em seu ambiente e cardápio. Estabelecido na cobertura do hotel de luxo, ele possui vista para os parques da Disney, o que faz com que os comensais consigam assistir aos fogos do Magic Kingdom de longe. Já a decoração tem inspiração espanhola, com uma arte fluida no teto que faz referência ao movimento da saia das dançarinas típicas do país.  

No menu, as tapas são destaque, como as croquetas e as patatas bravas – menção honrosa também para as tâmaras envoltas em bacon, uma combinação inusitada e surpreendentemente saborosa. Na categoria dos principais, os pratos variam de grelhados a frutos do mar frescos. A cozinha é aberta, então também é uma ótima experiência observar de perto o preparo dos pratos. Quando chega a hora das sobremesas, uma boa surpresa: a chef confeiteira, Gabriella Eller, é brasileira.  

“É desafiador, com certeza”, diz ela quando questionada sobre a rotina em um restaurante estrelado. “Estamos sempre tentando entregar o melhor do melhor para os clientes, então sinto que estamos evoluindo e aprendendo muito para aprimorar a cada dia. Basicamente, sou responsável pelo grand finale da experiência gastronômica no Capa. Quero que minhas sobremesas se tornem boas memórias e também quero me sentir uma artista todos os dias.”  

Prato: italiano em plena cenografia americana  

(Reprodução)

Não é tão simples encontrar uma típica casa italiana em Orlando. Grande parte das opções é de restaurantes em estilo de franquia que oferecem pratos um pouco mais americanizados. No Prato, no entanto, é possível achar um cardápio aconchegante, saboroso e moderno em seu perfeito equilíbrio – e é por isso que ele faz parte dos recomendados do Guia Michelin. No centro de Winter Park, onde tudo parece ter saído de um clássico filme americano, o restaurante é uma escolha imperdível para os apaixonados por uma boa massa ou pizza sem o american style.  

Soseki Modern Omakase: refeição japonesa “à escolha do chef” 

 Com uma estrela Michelin, o Soseki Modern Omakase também está localizado em Winter Park. Intimista, ele possui apenas dez lugares e trabalha sob o conceito do omakase, quando o menu segue a “escolha do chef” e serve os ingredientes mais frescos do dia. No quesito bebidas, a casa também é reconhecida por oferecer uma ótima harmonização de saquês e vinhos.  

Bombay Street Kitchen: frescor indiano 

(Reprodução)

Anunciado na categoria Bib Gourmand, o Bombay Street Kitchen tem ambiente e cardápio tipicamente indianos. O restaurante conta com uma extensa variedade de pratos típicos do sul da Índia – feitos de forma criativa e inovadora. Para os vegetarianos, há diversas opções sem origem animal, como o kathal masaledar, que é feito de carne de jaca.  

 UMA DOSE DE AMERICAN DREAM  

Além da multiculturalidade, Orlando pode oferecer um roteiro tipicamente americano para quem quer se aprofundar na cultura dos Estados Unidos. Para aqueles que possuem vários dias disponíveis na cidade, vale intercalar e conhecer um pouco de tudo: parques, restaurantes e passeios. Winter Park, por exemplo, é mais do que uma região gastronômica. Reconhecido como um distrito de Orlando, o local já é atraente apenas por suas ruas e casas charmosas, que parecem fazer parte de uma cenografia. Quando sua história entra em jogo, tudo fica ainda mais interessante.  

 Isso acontece porque foi na região de Winter Park que a cidade de Orlando realmente começou a ser formada. Até 1880, a comunidade era chamada de Lakeview por conta da cadeia de lagos que a rodeia e era muito procurada pelas famílias ricas do norte dos Estados Unidos, que fugiam dos invernos rigorosos para as temperaturas mais amenas do centro da Flórida. Com o investimento e a popularização da região, o nome acabou mudando para Winter Park (um perfeito Parque de Inverno para os mais abastados).  

Mesmo sendo uma cidadezinha antiga, até hoje Winter Park possui incontáveis mansões. É possível conhecer essas casas e entender um pouco mais a história local no Scenic Boat Tour, um passeio de barco que dura cerca de uma hora e passa pelos lagos e canais onde tudo começou. Para completar a experiência, vale andar pela Park Avenue para curtir as lojas e apreciar um pouco o ambiente arborizado do Central Park – sim, um nome curioso para uma praça intimista, embora rica em atrações.  

Charles Hosmer Morse Museum of American Art (Beatriz Calais)

Aos fins de semana, o Farmer’s Market, uma feirinha de produtores locais, toma conta do espaço. Já para os apaixonados por filmes, a programação mais interessante é o Popcorn Flicks, um cinema ao ar livre que acontece toda segunda-feira do mês. Uma vez por ano, também acontece o Sidewal Art Festival, um dos mais tradicionais e importantes eventos de arte dos Estados Unidos, que chega a receber quase 400 mil visitantes em cada edição.  

Mais do que um evento pontual, arte é um tema recorrente quando se trata de Winter Park. Há alguns museus na região que valem a visita, como o Albin Polasek Museum & Sculpture Gardens, o Cornell Fine Arts Museum e o Hannibal Square Heritage Center. Um dos mais famosos e tradicionais, no entanto, é o Charles Hosmer Morse Museum of American Art, que abriga uma rica coleção das obras de Louis Comfort Tiffany. Embora seja pequeno, o espaço tem uma curadoria dedicada e surpreende pelos clássicos abajures, vitrais e pinturas do fim do século 19. É possível fazer uma visita guiada para entender melhor toda a história da criação do museu.  

(Beatriz Calais)

UM MINUTO PARA APRECIAR A NATUREZA  

Entre uma arte e outra, ou na pausa entre a correria do parque de diversão ou um jantar especial, Orlando também oferece opções para quem busca respirar ar puro. Da janela do avião, é fácil notar que a cidade conta com vários espaços arborizados. Para quem se interessa por roteiros de natureza, há diversas alternativas de parques, reservas naturais e lagos para a prática de pedalinho ou paddle boarding.  

No caso da Versatille, o passeio foi um paddle boarding no Lake Ivanhoe, que fica ao lado de prédios, grandes avenidas e pontes gigantescas. Inicialmente, o cenário pode parecer nem combinar com a expectativa de uma paisagem natural, mas após algumas remadas tudo muda. A água cristalina reflete o verde das árvores e das gramíneas do entorno do lago, fazendo com que tudo se torne uma imensidão verde capaz de transportar qualquer pessoa para uma sensação de paz e calmaria. O passeio dura cerca de duas horas, e o tempo passa voando.  

Passeio de paddle boarding feito pela Versatille (Beatriz Calais)

No famoso Lake Eola Park, em Downtown Orlando – centro financeiro da cidade –, o cenário também mistura o urbanismo dos prédios com a natureza do lago. Na região, há diversão para todos os gostos: passeio de pedalinho, trilhas, espaço para piquenique, área para corridas e até um espaço acústico para apresentações artísticas, chamado Walt Disney Amphitheater.  

Orlando é uma cidade grande – o que também se torna perceptível do alto da The Wheel, uma roda–gigante de 120 metros de altura que fica no Icon Park, um centro de entretenimento construído na área central da cidade. No topo da atração, fica mais claro do que nunca: ainda há muito para conhecer. 

Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 131 da Versatille