Raio-X
O colunista Nelson Spritzer fala sobre como a experiência prática leva à naturalidade e sabedoria em várias atividades profissionais
Quando estudante de medicina, nos anos 1970, eu ficava fascinado com a capacidade que alguns professores tinham em desvendar mistérios através do exame de radiografias. Recentemente faleceu um estimado professor, Darcy Ilha, um dos grandes radiologistas que o estado do Rio Grande do Sul produziu. Conheci muitos outros luminares de igual talento.
Naquele tempo, diagnósticos por imagem eram praticamente só por radiografias (não havia ressonância magnética, PET Scan, tomografias, ecografias). Pois estes célebres professores olhavam para uma radiografia e viam ali coisas que só eles conseguiam ver. Me encantava notar que outros médicos haviam passado os olhos pela mesma radiografia e não viram o que estes senhores conseguiam ver. Como faziam isso? Como conseguiam ver sutilezas (que depois se confirmavam por coleta de material, biópsia ou cirurgia corretiva)?
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O mais engraçado é que, depois que eles viam, aí outros médicos começavam a ver também. Por último, alguns de nós, pobres estudantes, também conseguíamos ver alguma coisa. Nunca ouvi, de nenhum colega estudante ou médico, a simples pergunta: “Professor, como é que o senhor vê tanta coisa e nós não?”. Acho que é porquê ninguém queria passar vergonha. Mas a pergunta segue válida. A resposta não é acúmulo de conhecimento. Havia outros médicos tão experientes (tempo de serviço) e/ou eruditos (conhecimento teórico) que estes, só que não conseguiam os mesmos resultados na experiência prática direta.
Depois de muitos anos praticando a Programação Neurolinguística (PNL), um dia um aluno meu tomou coragem e me perguntou: “Dr. Nelson, como é que o senhor consegue perceber tanta informação sutil quando conversa com um cliente de mudanças, através dos olhos, gestos, posturas, forma da linguagem e respiração? Como o senhor consegue, e nós temos tanta dificuldade?
De fato, ali lembrei dos meus velhos professores de radiologia. Como é que eu fazia? Para mim parecia tão simples, era natural, sem esforço. Era como se eu estivesse estabelecendo um diálogo direto com o inconsciente do cliente. Logo me surgiu a resposta que me pareceu a mais apropriada.
Primeiro, disse ao aluno que sem dúvida é o tempo de experiência prática. Nada pode substituir a experiência. A prática leva à naturalidade em várias atividades, e tanto a radiologia como a PNL – por serem fundamentadas em observação de sinais sutis – requerem. Além disso, e tão importante quanto, é o tipo de atenção que os mestres faziam e fazem quando observam algo, em PNL chamamos este estado de atenção de “Up Time”. É estar totalmente voltado para fora, para o observado. É cessar qualquer distração, é estar concentrado totalmente no seu foco. Afinal, agora eu sei: era isso que os meus mestres de radiologia faziam quando olhavam radiografias!
Por Nelson Spritzer, médico cardiologista