Comfort food: você tem uma relação saudável com a comida?
Procurar acolhimento nos alimentos não necessariamente significa um problema, mas é preciso estar atento aos sinais
Por Gabrielle Torquato
Quando passamos por momentos turbulentos, às vezes causados apenas pela rotina corrida, é normal buscar alternativas de escape para aliviar o estresse. Por vezes, pode ser em uma conversa com um amigo, exercícios físicos, maratona de séries. Mas com o isolamento social, uma alternativa que acabou ganhando destaque é o acolhimento por meio de comfort food.
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Se você não está familiarizado com o conceito, nós explicamos. São comidas com apelo afetivo, aquelas que proporcionam aconchego, conforto, seja por carregar uma memória particular ou por ter em sua composição substâncias que nos proporcionam prazer.
“São alimentos que nos dão quase a sensação de estarmos sendo abraçados, principalmente em momentos ruins. Pode ser algo que nos lembra alguém querido, lembranças de felicidade”, explica a nutricionista Camilla Estima.
Minha, sua, nossa comfort food
Alguns alimentos têm em sua composição características que por elas próprias já são suficientes para criar uma relação de conforto, mesmo que não carreguem nenhuma memória afetiva significativa.
Geralmente são alimentos com alto teor de gordura, como pizza, hambúrguer, chocolate. “As gorduras deles estimulam a produção de serotonina, que é um neurotransmissor muito relacionado a sensação de prazer e felicidade. Além disso, esses alimentos têm a característica de serem altamente palatáveis, portanto têm o sabor muito intenso, o que provoca respostas fisiológicas de prazer”, completa Camilla.
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Em um levantamento de dados recente feito pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, foi revelado que entre 2007/2008 e 2017/2018 o brasileiro reduziu consideravelmente o consumo de alimentos como arroz, feijão e frutas. A substituição foi feita por pizza e sanduíche que tiveram sua frequência aumentada de 10% para 17%.
Os números também podem ser explicados devido a popularização de aplicativos de delivery, que podem ser um fator agravante na construção de uma relação saudável entre o indivíduo e a comida. “Pedir refeição da rua faz com que a pessoa deixe de transitar por diversas etapas. A compra, organização de despensa, habilidades culinárias, tudo isso é eliminado a partir do momento que você pede”, alerta a nutricionista.
Como na cena de um filme…
Essa relação próxima com a comida pode ter mais de uma explicação, inclusive por aspectos culturais. Escolhemos nossas refeições, na maioria da vezes, com base na identidade do país em que vivemos, na comunidade que estamos inseridos e até no tipo de produções culturais que consumimos.
Por influência dos filmes, por exemplo, podemos criar significados para determinados alimentos. Pense nas comédias românticas, em que a protagonista sempre acaba com um pote de sorvete nas mãos quando está sofrendo por amor . Segundo, Camila, “isso cria uma identidade naquele alimento, uma caricatura da comida resolvendo emoções, trazendo acolhimento”. O que não necessariamente irá condizer com a realidade.
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Devo buscar ajuda?
Ter uma comfort food não significa estar passando por problemas alimentares. É normal sentir prazer ao consumir alimentos de que gostamos ou algo mais gorduroso de vez em quando. “Eu sempre digo que comer saudável é comer em paz”, comenta a nutricionista.
Porém, em algum momento, essa relação pode sair do eixo, e aí é preciso saber identificar os sinais. “Se a alimentação está desorganizada, te deixa apreensiva, com medo, já é um alerta de que tem alguma coisa errada”, explica.
Nestes casos, o ideal é buscar ajuda de profissionais como psicólogo ou nutricionista – não para iniciar uma dieta, mas para trabalhar o comportamento alimentar. “Identifique o problema e evite usar a internet para se autodiagnosticar. Começar uma dieta qualquer pode piorar a situação”, finaliza Camilla.