Você tem tido sonhos angustiantes ultimamente? Ou tem conseguido, ao acordar, se lembrar do que sonhou, fato que não ocorria com facilidade antes da pandemia? Se a resposta for sim, fique tranquilo, você não está sozinho.

Desde o início do isolamento social, as redes sociais estão repletas de relatos e questionamentos sobre os sonhos intensos, diferentes e até assustadores que os internautas estão vivenciando ultimamente. Para nossa sorte, a psicanálise sugere respostas para entendermos o que passa em nossas mentes e assim, nos sentirmos um pouco mais aliviados.

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gente, vocês estão tendo sonhos estranhos também nessa quarentena?

— dj darge (@dargeira) May 14, 2020

“Os sonhos são a passagem para o inconsciente, ou seja, uma amostra de como o avesso da consciência funciona”, explica Luciana Saddi, psicanalista e membra docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Os sonhos atuam como uma forma de realização de desejos e prazeres do inconsciente, com a função de descarga para relaxar a mente e equilibrar a saúde mental. A tarefa de evasão da realidade dos sonhos é quebrada quando o inconsciente está superlotado de pensamentos angustiantes.

Em tempos de pandemia, a psicanalista afirma que estamos vivenciando traumas duplos e coletivos. Além da ameaça do coronavírus em si, pois não há vacina, cura ou remédio, a falta de uma linguagem comum de liderança vinda dos responsáveis resulta também em traumas de desproteção e desamparo. Os medos que habitam o inconsciente se libertam, e todo o terror aparece em forma de sonho. Cada pessoa enxerga essa sensação de uma forma diferente, seja com tsunamis, queda de avião, fogo ou a morte de entes queridos. “Os pesadelos são a representação da pior forma de morrer ou de maior desamparo: tortura, sofrimento e medo, cada pessoa tem uma”, completa.

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“A vida diurna exige uma concentração e atenção que nos afasta de diversos pensamentos que a mente considera como ‘proibidos’, como os traumas. O inconsciente organiza esses fragmentos de pensamentos para que eles apareçam de forma amigável de lidar nos sonhos. Quando há muita incerteza e apreensão, essa censura da mente falha e a angústia toma o lugar”, explica a psicanalista. O medo vem à tona, nos apavora e acordamos, seja com com ataque de ansiedade, suando frio, coração acelerado e até mesmo gritando.

Por isso é normal acordarmos cansados, já que a alienação das preocupações não acontece. O sistema psíquico em alerta não libera energia. “De dia as notícias nos deixam aterrorizados e de noite também. A libertação do prazer, que é principal função do sonho,  não acontece, pois a mente não encontra vazão”, finaliza Luciana.

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Por Maria Alice Prado

Foto: Freepik