“Minha medalha no peito é saber que somos responsáveis pela alfabetização de milhões de brasileirinhos”, revela Mauricio de Sousa

Aos 88 anos, o criador da Turma da Mônica fala sobre o sucesso duradouro de sua marca e revela seus planos infalíveis

Foto: Divulgação

Apaixonado por quadrinhos desde a infância, foi apenas na década de 1970, após mais de dez anos de sua primeira tirinha publicada em jornal, que Mauricio de Sousa conseguiu realizar o grande sonho de lançar o próprio gibi. A novidade fez sucesso. Logo na primeira leva, cerca de 200 mil exemplares da Turma da Mônica foram impressos e vendidos pela Editora Abril. Desde então, os personagens criados pelo cartunista fizeram parte da vida – e da alfabetização – de diversas gerações de brasileiros.

 

Ao longo das décadas, mais de 1 bilhão de revistas foram impressas, o que fez com que a Turma da Mônica se tornasse uma marca com mais de 150 contratos de licenciamento – a partir disso, é possível encontrar produtos alimentícios, brinquedos e roupas com as imagens dos personagens. A MSP (Mauricio de Sousa Produções) se tornou uma empresa mais do que consolidada, sendo capaz de manter o sucesso mesmo com as mudanças do tempo.

 

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Aos 88 anos, Mauricio compartilhou com a Versatille alguns segredos sobre a evolução e a durabilidade de sua marca, além de revelar projetos. Confira.

 

Versatille: Como é assistir à evolução e ao sucesso contínuo da Turma da Mônica ao longo das décadas?

Mauricio de Sousa: Acabamos de lançar um livro que tenta explicar um pouco esse caminho. É o Crie de Manhã, Administre à Tarde, pela Editora Maquinaria. Essa foi a frase de meu pai quando soube que eu queria mesmo seguir como desenhista. Eu levei a sério e procurei criar meus personagens, mas, ao mesmo tempo, tinha que sair para vendê-los e conseguir publicação. Um filme que conta essa primeira fase de minha vida estará nos cinemas neste ano, aí poderão observar que tive momentos bem difíceis e que é preciso gostar muito do que faz para superar os obstáculos da vida.

 

V: Qual o segredo para manter os personagens relevantes e pertencentes às novas gerações?

MS: São mais de 64 anos que publicamos nossas histórias e conseguimos manter um público crescente pelas gerações que passamos. Para isso, sempre estamos aprimorando nosso diálogo com a linguagem atual, para não perdermos as rápidas mudanças que acontecem na comunicação.

 

Foto: Claudio Belli

 

V: Você teve um papel importantíssimo na introdução da leitura na primeira infância de muitas pessoas. Como enxerga esse impacto?

MS: Minha medalha no peito é saber que nestes anos de trabalho somos responsáveis pela alfabetização e pelo estímulo à leitura de milhões de brasileirinhos pelo país. A linguagem dos quadrinhos é mágica para atrair crianças para a leitura. Tive a felicidade de ser homenageado pela Unesco, que reconheceu essa qualidade em nosso trabalho com as crianças. Mas ouvir, em eventos, pais contando que aprenderam a ler com nossas revistas e agora são seus filhos que estão aprendendo é o maior reconhecimento para um autor.

 

V: Quanto ao cinema, como você enxerga a importância das telinhas para a Turma da Mônica atualmente?

MS: Demoramos para realizar os live- actions e só produzíamos desenhos animados para o cinema. Foi em 2019 que começamos com a produção de Lições, e o sucesso foi tão grande que, mesmo com uma pandemia no meio do caminho, estamos produzindo muitos filmes. Em 2024, lançamos o filme Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo, e ainda lançaremos o filme do Chico Bento e o filme de minha vida.

 

V: Sobre o filme da sua vida, o que podemos esperar dessa produção?

MS: Só posso dizer que o filme está lindo e tive o prazer de ver meu filho, Mauro Sousa, me interpretando quando jovem. Ele tem a minha cara e é um grande ator. É sua estreia no cinema após trabalhar em musicais no teatro e ser diretor da nossa área de shows ao vivo. Muitos veem o sucesso, mas se esquecem de que, para alcançá-lo, há um longo caminho. Principalmente para pessoas que, como eu, nasceram em famílias com poucos recursos.

 

V: Ao longo da vida, qual foi o seu grande “plano infalível”? (Que realmente tenha dado certo, diferentemente dos planos do Cebolinha.)

MS: Ser feliz! (risos) Fazer o que se gosta nem parece trabalho. O Cebolinha mesmo tem ʽʽplanos infalíveisʼʼ que dão muito certo, porque ele também é feliz.

 

Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 135 da Versatille

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