Jeff Nichols e Jodie Comer revelam detalhes exclusivos do filme “Clube dos Vândalos”
O longa estreou nos cinemas no dia 21 de junho e é inspirado no livro de fotos "Bikeriders", lançado por Danny Lyon em 1967
Há filmes que nos transportam para outra era – e isso é a coisa mais próxima de uma viagem no tempo que podemos fazer, por meio da estética, dos figurinos e da trilha sonora, durante aquelas duas horas. Pelo menos, esse é o caso de Clube dos Vândalos, o novo drama de Jeff Nichols (que também dirigiu Midnight Special). Com ele, somos levados ao pulsante período da contracultura americana dos anos 1960, de motoqueiros do meio oeste em busca de liberdade e identidade.
O filme é inspirado no livro de fotos de 1967 de Danny Lyon, Bikeriders, o mesmo título do filme em inglês. O jornalista acompanhou e documentou por meio de fotos e entrevistas a vida dos membros do Outlaws MC, um clube de motociclistas do estado de Illinois, Estados Unidos, entre os anos de 1963 e 1967. Em sua versão, Nichols constrói uma história fictícia pela perspectiva de observadores, mais algumas anedotas pessoais de membros do grupo. A mistura resulta em um retrato emocional e extremamente autêntico, estrelado por Austin Butler, Jodie Comer, Tom Hardy, Mike Faist, Michael Shannon e Norman Reedus.
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Jeff Nichols e Jodie Comer conversaram com a Versatille sobre a produção. Confira a entrevista na sequência.
Versatille: Você escreveu e dirigiu o filme. O que o motivou a querer contar essa história no cinema?
Jeff Nichols: As pessoas que estavam no centro dela. Danny Lyon é um fotógrafo incrível e, mais do que isso, ele é um jornalista. Foi alguém que realmente quis e retratou esse movimento. E, quando coloquei junto as entrevistas com as fotografias do livro, tive todos os detalhes para trazê-la de volta à vida. Eu só tive que criar um enredo.
V: Uma coisa que chama atenção ao assistir ao filme são os monólogos, as anedotas de cada membro do grupo. O que fez você escolher esse formato?
JN: O estúdio queria que a gente ficasse só no enredo principal de Benny, Kath e Johnny. Mas cada um dos motoqueiros é tão singular. Acho que isso foi uma das maiores surpresas que eu tive lendo o livro. Porque já chegamos com um prejulgamento sobre motoqueiros, seu mundo e estilo de vida. Mas, quando você começa a ler essas entrevistas, em que eles falam abertamente sobre a vida deles e como a cabeça deles funciona, é surpreendente. Com o Zipko (Michael Shannon), que fala dos Pinkos e de quando foi rejeitado pelo Exército. Ou a filosofia do Bruce e outros explicando por que eles são um grupo. Todas essas histórias resultam num perfil psicológico deles. E, se você tira isso do filme, você perde a sensação de que o movimento era maior do que os três personagens.
V: A estética da época também tem um grande papel na narrativa. Qual foi a coisa que você mais gostou de desenvolver para o filme?
JN: É um empate entre as roupas e as motocicletas. O figurino é extremamente importante: se você olha as fotografias originais, cada detalhe que eles colocavam nos coletes e jaquetas, é impressionante. Acho que, às vezes, as pessoas nem notam, por conta de um aspecto sujo e largado, mas há muita atenção para empregar o estilo certo e mostrar quão único cada personagem é.
V: A maquiagem e o cabelo são um show à parte, alguns atores ficaram irreconhecíveis. Qual visual mais surpreendeu você?
JN: Norman Reedus. Ele queria ficar o mais diferente possível de Daryl Dixon, seu personagem da série The Walking Dead. Jogamos os cabelos, barba, óculos, mas os dentes eram o destaque. Ele topou todas as ideias loucas ou os exemplos malucos que encontrávamos em fotografias. Norman foi o ímã que atraiu a todos. Ele se divertiu no processo e foi ótimo de trabalhar.
V: E qual foi a sua parte favorita de filmar?
JN: A resposta vai ser meio sem graça, mas eu amo atores. Amo assistir aos diálogos que escrevi e adaptei do livro criarem vida nos rostos e corpos deles. E a gente teve um elenco espetacular, em cada quadro tinha um ator excelente fazendo algo. Podia apontar a câmera para qualquer lado que algum trabalho fascinante estava sendo feito. As motos também. Elas eram um personagem na história. Tenho muito orgulho em dizer que todas eram da época mesmo. Mas claro que foi trabalhoso, porque elas têm 60, 70 e até 80 anos, então só o fato de conseguir ligá-las já era um milagre.
V: Kathy é quase que a visão feminina dentro da história. Como você escolheu Jodie Comer para a personagem?
JN: Eu preciso admitir que não conhecia tanto o trabalho dela antes. Mas a nossa diretora de elenco, Francine Maisler, só me disse: ʽʽFaça com que ela aceite o papel’’, e a última vez que isso aconteceu com outro ator que eu não conhecia era o Adam Driver, então faço o que ela manda. A gente deu uma hora do áudio original da pessoa que inspirou a personagem para a Jodie aprender e fazer o teste. Quando ela enviou um primeiro clipe, ficou tão igual que eu fiquei na dúvida se era ela ou a própria.
V: Jodie, qual foi a sua reação quando se deparou com a personagem?
Jodie Comer: Eu li o roteiro e depois ouvi o áudio da entrevista dela com o Danny. Na hora, pensei: nossa, a honestidade dessa mulher. Notei a força dela, um calor que senti vindo dela. Era como se fosse uma tia ou uma conhecida, sabe? Alguém com quem eu gostaria de ter passado um tempo. Eu ouvia aquela gravação e sentia como se estivesse falando diretamente para mim naquela sala.
V: Como você lidou com a posição de quase uma narradora da história?
JC: Ela entrou lá de uma forma diferente. Estava no grupo porque tinha um relacionamento com Benny e por isso estava sempre na periferia deles. E isso a fez ter um ponto de vista distante. Fiquei tão encantada por ela quando a ouvi. Acredito que ela também não tinha medo de dizer o que pensava. Era uma contadora de histórias incrível e de uma essência tão particular que logo pensei que queria muito fazer esse papel. Do jeito que me deixei levar ouvindo o áudio, eu queria que o público fizesse o mesmo quando ela abrisse a boca na câmera, sabe? Tipo: ʻʻOk, quem é essa? Vamos nessa jornada juntos’ʼ.
V: O que mais ajudou você a entrar no personagem?
JC: As várias características e os trejeitos dela. Só o ato de fumar era como se fosse um personagem à parte. Ela sempre tinha um cigarro aceso nas fotos e, no áudio da entrevista, pude ouvi-la constantemente pegando o cigarro, acendendo e fumando. Então isso se tornou algo muito importante, especialmente porque direcionava a atuação. Assim que eu colocava um cigarro na mão, meu corpo mudava, eu me sentava de forma diferente, e era como se ela entrasse na sala. Foi algo crucial.
O Clube dos Vândalos estreou nos cinemas no dia 21 de junho.
Por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 135 da Versatille