Elegância nata: entenda a estética do old money

A volta do estilo vintage de herdeiros americanos e europeus contrapõe as tendências maximalistas com o resgate da sutileza e sofisticação

Atriz Emma Corrin, caracterizada como Lady Di, para a série The Crown
Atriz Emma Corrin, caracterizada como Lady Di, para a série The Crown (Divulgação Netflix)

Blazers, pérolas, cardigãs, coletes, alfaiataria, campos de golfe e mansões com quadros renascentistas: esses são elementos clássicos que compõem a estética do old money (dinheiro velho). O termo se refere a herdeiros de grandes linhagens tradicionais, com patrimônio valoroso, comum em famílias americanas e europeias, que acumularam riqueza a partir da Revolução Industrial. O estilo voltou à tona por meio das redes sociais, principalmente no TikTok, onde a hashtag “preppy”, que designa a maneira como esses jovens de elite se vestiam em colégios preparatórios para as melhores universidades nos anos 1970, já acumula mais de 4 bilhões de visualizações.

 

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“Até pelo nome, refletimos essa estética falando do dinheiro e da acumulação ao longo dos anos, mas ela é notada a partir de comportamentos que geram de fato essa fixação e admiração atuais. O old money reporta um estilo vintage rico, com foco em uma elegância discreta, tanto no modo de se portar quanto no de se vestir”, diz Manu Berger, especialista em mercado de luxo. Grifes como Chanel, Ralph Lauren e Lacoste, que apresentam peças atemporais e delicadas, são enquadradas no estilo.

 

Justamente por ter origens mais conservadoras, é curioso pensar que a geração Z teve um papel importante no resgate da estética. Isso pode ser entendido tanto como um movimento aspiracional, uma espécie de escapismo que deriva do sonho de uma segurança financeira, quanto como um contraponto às tendências fugazes e maximalistas que têm dominado as redes, como a Y2K (anos 2000).

 

“O old money é uma resposta a um comportamento atual da elite emergente que busca e promove a ostentação do dinheiro, das marcas, com grifes e serifas aparentes e que recorre ao uso excessivo da riqueza a favor do consumo e da acumulação”, diz Manu Berger. A ideia trazida pelo estilo é que aqueles que acumulavam e acumulam dinheiro não precisam evidenciá-lo, uma vez que possuem um patrimônio de berço e reconhecido pela sociedade. “É possível ver isso em suas atitudes, pelo modo como se vestem e se comportam, em sua postura, no olhar, na sobriedade”, diz.

 

Modelo veste peças da Tommy Hilfiger no estilo preppy

Modelo veste peças da Tommy Hilfiger no estilo preppy (Reprodução)

 

A estética atual não é somente uma reprodução do passado, até porque os herdeiros – primeiros detentores do estilo – constituem uma parcela mínima da população. A maior prova disso é a mistura do preppy com streetwear, vista em coleções de marcas como Tommy Hilfiger, assim como a Noah e Awake NY, duas empresas fundadas, respectivamente, pelos antigos diretores criativos da Supreme, Brendon Babenzien e Angelo Baque. “Enxergo uma redescoberta do old money pelas atuais gerações e grande admiração por uma realidade que se distancia daquela vivida hoje. Acredito mais numa adaptação do estilo e inspiração aplicada na forma de se vestir e de se comportar “, diz Manu. 

 

Apesar das novas vertentes dadas à estética clássica, o resgate do estilo que preza por elementos discretos, mas que evidenciam a riqueza, transmite uma mensagem sobre o verdadeiro significado do luxo: “Sua essência não é a ostentação. Não se trata de viajar com malas extensivas e grifadas, usar logo e serifas dos pés à cabeça e gritar ao mundo e nas redes sociais o que tem e quanto tem, na intenção de que isso traga algum tipo de posicionamento ou destaque e visibilidade. Luxo é comportamento, delicadeza, sutileza. É a apreciação pelo viver e pelo valor das coisas”, conclui Manu Berger. Não à toa, o icônico designer Karl Lagerfeld disse: “Meu maior luxo é não precisar me justificar para ninguém”. 

 

Cinema e música no old money 

 

Quando se trata do old money atual, o universo cinematográfico e das produções audiovisuais assume responsabilidade indiscutível na criação de referências atuais da estética para essa geração que é a maior consumidora de streaming. Séries e filmes antigos, assim como reboots, remakes e novas produções, refletem jovens carregando nomes tradicionais, reconhecidos pela sociedade e donos de fortunas triunfais. 

 

Para Manu, além dos figurinos marcantes no estilo preppy, o que torna os personagens tão “old money” são sua personalidade. “Eles carregam uma autoridade em seus papéis que deriva dessa herança, sem precisar fazer esforço algum para ter um posicionamento de destaque.” A especialista explica que essas características começaram a despertar curiosidade naqueles que nasceram em uma época de superaceleração digital e precisam se atualizar constantemente a fim de identificar qual carreira seguir e o que lhes trará estabilidade diante de um contexto tão instável.

 

Confira, a seguir, algumas produções das indústrias audiovisual e musical com personagens icônicos e estéticas do antigo e atual old money.

 

Gossip Girl

 

Talvez essa seja a série de TV que melhor representa o old money para as gerações atuais. Transmitida originalmente pela rede americana The CW, entre 2007 e 2012, a narrativa, baseada na série literária homônima, é centrada em um grupo de privilegiados ex-estudantes de uma escola preparatória do Upper East Side de Manhattan. Ao mesmo tempo que embarcam para o futuro, os jovens precisam lidar com uma blogueira anônima que expõe constantemente os escândalos de suas vidas. Blair Waldorf, uma das protagonistas, não se tornou icônica apenas por seus looks preppy, mas principalmente por sua personalidade forte e autoconfiante. Em julho de 2021, a produção ganhou um reboot transmitido atualmente pela HBO Max.

 

Blair Waldorf, de "Gossip Girl"

Elegância nata: entenda a estética do old money (Reprodução)

 

As Patricinhas de Beverly Hills 

 

Lançado no cinema há 26 anos, o longa fez tanto sucesso em 1995 que virou série de TV e até livro. A trama é do gênero comédia romântica e conta a trajetória de Cher, interpretada por Alicia Silverstone, uma adolescente rica, popular e aparentemente fútil. Quando Josh (Paul Rudd), o enteado de seu pai, a critica, ela decide fazer boas ações para provar que ele está errado. O estilo preppy não poderia faltar na Beverly Hills High School – escola onde a produção é filmada –, e Cher o incorpora completamente. Uma curiosidade fashion é que o filme mostra 53 tipos de xadrez, estampa trend da época em que foi lançado.

 

Cher, de "As Patricinhas de Beverly Hills"

(Getty Images)

 

The Crown 

 

Lançada em 2016, a série de TV britânica produzida para a Netflix acompanha a rainha Elizabeth II e os primeiros-ministros que, juntos, deram forma à Grã-Bretanha após a Segunda Guerra Mundial. A produção narra histórias que acontecem dentro dos icônicos Palácio de Buckingham e 10 Downing Street (residência oficial e o escritório do primeiro-ministro britânico). Para quem tem curiosidade sobre os bastidores da realeza, a série inclui intrigas, romances e esquemas por trás dos eventos que marcaram a segunda metade do século 20. Na moda, um dos destaques é o estilo preppy de Lady Di, que se tornou um ícone fashion em escala global.

 

Atriz Emma Corrin, caracterizada como Lady Di, para a série The Crown

(Reprodução)

 

Dinastia

 

A produção é uma nova versão de uma das novelas de maior sucesso dos Estados Unidos, exibida originalmente em 1980 e que teve sua primeira temporada lançada em 2017, na Netflix. A trama gira em torno da riquíssima família Carrington e conta com muito drama, traições e assassinatos. Apesar de a moda não ser o tema da série, com certeza é o que dá seu charme e prende ainda mais atenção – sem contar as mansões, jardins e festas que despertam aquele desejo de escapismo para essa realidade suntuosa. O figurino é repleto de peças da Chanel, Dior e Louboutin em composições bem modernas, sofisticadas e marcantes para cada personagem.

 

Fallon e Cristal, de "Dinastia"

(Divulgação)

 

Lana Del Rey 

 

Ao pensar na cantora e compositora Lana Del Rey, a estética do old money pode ser facilmente imaginada. A artista insere elementos vintage e sofisticados na identidade visual de seus álbuns com frequência, e em Chemtrails over the Country Club (“Rastros de Aviões sobre o Clube de Campo’’), seu sétimo álbum de estúdio, lançado em março de 2021, não foi diferente. O casarão com piscina em meio aos jardins verdejantes, o Mercedes-Benz vintage vermelho dirigido por Lana e o figurino com cores neutras, golas polo, luvas de renda e acessórios de pérolas dão o tom old money.

 

Lana del Rey

(Divulgação)

 

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Tyler, the Creator

 

Tyler Gregory Okonma, mais conhecido por seu nome artístico, Tyler, the Creator, é um rapper, compositor, produtor musical e de videoclipes e designer americano. Desde seu álbum Igor, vencedor do Grammy de melhor álbum de rap de 2020, o artista tem explorado o estilo preppy. Em Call me if You Get Lost, seu mais recente disco, lançado em junho do ano passado, Tyler adotou por completo a identidade visual do old money, unindo cenários de montanhas e laranjais com carros vintage e baús de viagem. Já o figurino, composto de tons pastel, cardigãs, coletes de malha e golas redondas, inspirou a última coleção de sua marca, Golf le Fleur, lançada em dezembro do ano passado. 

 

Tyler, The Creator

(Divulgação)

 

Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 124 da Versatille

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