“É desafiador manter seu DNA e ao mesmo tempo tornar as marcas fresh, jovens e atuais”, diz Adriana Bozon, diretora criativa da Ellus e da Salinas

Em entrevista, Adriana compartilha detalhes de sua trajetória e projetos em andamento

Foto: Luis Dóro 

Para quem é apaixonado por moda, não há trajetória profissional mais inspiradora do que a de Adriana Bozon. A atual diretora criativa da Ellus e da Salinas, bem como diretora de branding do grupo InBrands (que reúne as marcas Richards, VR Collezioni, Salinas, Bobstore, Tommy Hilfiger Brasil, Ellus e Ellus Second Floor), deu seus primeiros passos no mercado fashion logo após ter saído da escola, quando começou a trabalhar em uma loja de roupas. Depois, ingressou na graduação de desenho industrial na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), mas decidiu trancar a matrícula para morar por um tempo em Londres. Não à toa, a cidade multicultural, considerada uma das grandes capitais da moda, incitou ainda mais sua paixão por este universo e o desejo de construir uma carreira nele. “Era final dos anos 1980, estava no fim do movimento punk na Inglaterra, e eu fiquei apaixonada por aquilo. Foi quando eu descobri que eu queria trabalhar com moda”, conta. 

 

Durante seu período em Londres, Adriana conheceu Nelson Alvarenga, fundador da marca Ellus, além de cofundador e diretor-presidente do grupo InBrands. Quando voltou ao Brasil, o encontrou novamente e aproveitou a oportunidade para lhe contar sobre sua ambição profissional. “Nessa época, nem existiam faculdades de moda no Brasil. Nós conversamos, e então eu virei trainee na Ellus, aos 18 anos. Foi quando começou o meu processo”, relembra. Após esse primeiro período na marca, Adriana se tornou estilista da linha feminina e, depois, gerente de produto. Hoje, faz mais de 20 anos que ela ocupa o cargo de diretora de produto da Ellus e mais de cinco anos que atua como diretora de branding do grupo InBrands. 

 

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De fato, estar há tanto tempo em uma posição de tamanha responsabilidade envolve diversos desafios, e o principal deles, apontado por Adriana, é preservar e atualizar as marcas do grupo, que possuem mais de duas décadas de história. “É desafiador manter seu DNA e ao mesmo tempo tornar as marcas fresh, jovens e atuais, de modo a trazer um público além daquele que já as conhece e consome seus produtos ao longo dos anos. O desafio é trazer um novo consumidor, que vai ser o cliente do futuro também”, explica. 

 

Ao contemplar a trajetória de Adriana, é inevitável questionar-se quais habilidades foram necessárias não apenas para chegar ao cargo de liderança, partindo de sua experiência como trainee, mas para se manter na posição de diretora por tanto tempo. “Primeiro, muita dedicação e paixão pelo que faz”, comenta a executiva sobre o princípio-base a fim de alcançar uma carreira bem-sucedida. “Além disso, gosto muito de trabalhar com equipes. Ao longo do tempo, pesquisei bastante sobre novos estilistas e tive muito contato com as faculdades de moda. Também estou constantemente em busca de jovens fotógrafos, stylists, entre outros. Isso nos deixa sempre atuais, mais jovens e conectados.” Adriana ressalta justamente este trabalho em conjunto com profissionais que trazem frescor e novidade às marcas como uma prática adotada por ela no decorrer dos anos, responsável por garantir o sucesso perene da empresa e, consequentemente, de seu desenvolvimento profissional.  

 

 

 

Sobre a inspiração para as coleções da Ellus, a diretora criativa explica que está sempre alinhada à forte identidade da marca, que envolve ousadia, contemporaneidade e a atitude de uma mulher segura e forte, de modo a trazer ao guarda-roupa feminino diversos elementos masculinos. “A Ellus é também muito urbana. Então tem o lifestyle do jeanswear conectado ao universo da moda da cidade. Ao longo dos anos, a gente vai se reconectando e atualizando, mas tem vários códigos que estão superatuais que a gente trabalhou na marca há muitos anos. Um exemplo é a moda de rua, que veio muito para o prêt-à-porter”, esclarece. 

 

Já de forma geral, Adriana afirma que as marcas do grupo InBrands se destacam na moda nacional por sua consistência. “São poucas as empresas neste setor, no Brasil, que têm isso. Estamos muito acostumados com marcas centenárias internacionais de mais de 100 anos, como a Louis Vuitton. Acho que aqui no país você conta nos dedos quantas são sólidas como as do nosso portfólio.” Segundo Adriana, o tempo de existência de cada uma revela qualidade e know-how no desenvolvimento dos produtos. “Temos que valorizar cada dia mais as coisas feitas no Brasil, a moda e o design brasileiro. Às vezes, vejo que, aqui, as pessoas ficam muito presas ao pensamento de ‘qual é a moda do momento’. São justamente aquelas com história, solidez e qualidade.” 

 

A posição de diretora criativa e de branding exige não somente criatividade, mas também um pensamento estratégico. Para Adriana, estar atento às demandas do consumidor é essencial quando se trata de consistência. “Não adianta fazer algo que amamos, mas que não vende. Temos que prestar atenção no que o cliente quer e ter essa proximidade.” Para a equipe obter insights precisos sobre qual tipo de produto tem sido mais consumido, o perfil dos consumidores, sua faixa etária, entre outros, a executiva revela ter o apoio de um banco de dados, uma ferramenta de CRM (Customer Relationship Management) e até das redes sociais. “Cada dia mais, buscamos essa informação 360º para estar perto do cliente, tentar fidelizá-lo e conhecê-lo mais de perto, a fim de atender às suas necessidades”, diz. 

 

O novo desafio de Adriana está na direção executiva da Salinas, posição que assumiu em novembro deste ano. Ela já era responsável pelo branding da empresa brasileira focada em moda praia, mas atualmente tem liderado a marca em geral. “Eu estou fazendo um trabalho 360º, incluindo os pontos de venda, a loja, a arquitetura, o visual merchandising, a embalagem, esse novo olhar e a parte de criação do produto”, explica. O conceito desenvolvido pela executiva para a Salinas é baseado no encontro do luxo com a praia, trazendo sofisticação com elementos naturais. “A ideia é remeter a viagens aos melhores lugares de praia do mundo, como Ibiza, Saint Tropez ou Trancoso.” 

 

 

Essa identidade já está presente na loja-conceito da marca no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, inaugurada em novembro, e na do Shopping Higienópolis, em São Paulo, aberta no dia 5 de dezembro. No ambiente, com arquitetura assinada por Adriana, há um mix de materiais e objetos como madeira, palha e ripas de biriba. “Eu estou trazendo também alguns elementos de ouro. A assinatura do logo é dourada e a embalagem é kraft, então tem essa mistura do natural com hot stamping dourado. A ideia é ter esse contraste entre o rústico e o ouro”, diz.  

 

O artesanato é um destaque tanto no novo projeto arquitetônico quanto nas novas peças da marca. Além disso, colaborações com artesãos têm sido o foco da diretora-executiva. Na vitrine da loja do Shopping Leblon, por exemplo, há uma cadeira criada a partir de uma técnica exclusiva chamada de “reclipaché”, que mistura reciclagem, papietagem e papel machê, desenvolvida por André Menezes, de Recife. Além disso, a marca tem vendido colares de Juão de Fibra, reconhecido no estado de Goiás como Mestre Artesão de Referência Cultural. “Ele tinge o capim e faz bijuterias que são todas trançadas, os dois processos à mão, e tingidas com tintas orgânicas. É um trabalho muito rico, muito precioso”, ressalta Adriana. 

 

 

Para a próxima estação, a executiva tem desenvolvido estampas corridas com a designer carioca Tóia Leman. “Ela desenha a mão e depois a equipe de design escaneia a fim de transformá-las em produto”, explica. Adriana também vai convidar a designer Teresa Steuer, que tem um ateliê de cerâmica em São Paulo – e, inclusive, é sua professora –, para criar uma linha de estampas. Por fim, entre os novos planos, está a parceria com Samuray Martins, do Projeto Akra, no desenvolvimento de bolsas. “Já estou em processo com ele. O Samuray faz bolsas todas de palha, meio espetadas. Nós vamos fazer peças exclusivas para disponibilizar na Salinas.” 

 

De fato, Adriana Bozon respira moda, e em sua mente borbulham ideias a todo momento. Questionada sobre o que este universo significa para ela, a executiva traz a ideia de expressividade e amor pelo que faz: “Moda para mim é a liberdade de expressão de cada um; e, como profissão, é paixão”, conclui.   

 

texto: Laís Campos | Matéria publicada na edição 133 da Versatille

direção e styling: luis fiod 

fotos: luis dóro 

beleza: saulo fonseca 

produção de moda: zeca ziembik 

produção executiva: bona / vega 

assistentes de fotografia: pedro saad e renan martins

tratamento de imagens: brenno pagioro 

looks: salinas

joias: herchcovitch, alexandre e nart