Dia do Sorvete: chefs apostam na criatividade para se destacar no mercado

Mel Kolanian, da Mooi Mooi, e Janaína Rueda, da Sorveteria do Centro, buscam pensar fora da caixa na hora de empreender

(Foto: Bruno Geraldi)

A primavera é a estação de passagem entre o clima frio e seco do inverno e o quente e úmido do verão. Conhecida como a estação das flores, ela traz de volta as temperaturas mais quentes e anima os apaixonados pelo calor com a chegada do verão. Para a Abis (Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes), o período também é ideal para um bom e saboroso sorvete, e foi por conta disso que se cravou a data de 23 de setembro, um dia após o início da estação, como o Dia Nacional do Sorvete, como uma estratégia para impulsionar as vendas do setor.

 

Quando se observam os dados, no entanto, percebe-se que o Brasil já é um mercado acelerado no consumo de sorvetes. A iguaria chegou ao país em 1834, quando um navio vindo de Boston aportou no Rio de Janeiro com 200 toneladas de gelo em blocos para a produção da sobremesa. Hoje, de acordo com dados coletados pela Abis em 2020, cada brasileiro toma de 5,5 a 8 litros do gelado por ano, o que faz do Brasil o sexto país que mais consome sorvete no mundo. Quando se trata de empreendedorismo, são mais de 10 mil empresas ligadas ao setor, com faturamento acima de R$ 13 bilhões por ano.

 

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O cenário desenhado pelos dados leva a uma fácil conclusão: os sorvetes representam um mercado de alta concorrência – principalmente quando as temperaturas começam a subir. Diante de tantas opções, algumas sorveterias encontraram na criatividade e na inovação um caminho para se destacar. Mel Kolanian, sócia do chef Oscar Bosch no comando da sorveteria Mooi Mooi, conta que a ideia do estabelecimento nasceu a partir da vontade de apresentar uma proposta diferente para o mercado.

 

“Vemos muitas gelaterias clássicas com o mesmo estilo no mercado. Até o design é parecido. Então decidimos criar algo que se destacasse”, conta ela. A casa, inaugurada na região do Itaim Bibi no início de 2022, oferece a possibilidade de customização dos sorvetes com ingredientes da confeitaria. “A base dos nossos produtos é artesanal e feita com muita qualidade, mas o destaque fica para a tecnologia das nossas máquinas de trituração, que conseguem incorporar diversas receitas nas massas dos nossos sorvetes. Com isso, conseguimos criar sabores, texturas e crocâncias diferentes, de acordo com cada pedido.”

 

Embora o cardápio conte com sugestões de sabores produzidos pela Mooi Mooi, a escolha fica por conta dos clientes, o que gera uma diversão extra para a experiência. Mais do que isso, os sorvetes possuem uma apresentação marcante, o que faz com que a marca esteja sempre presente nas fotos e vídeos de usuários do Instagram. Para os dias atuais, esse potencial “instagramável” também é uma alavanca para o sucesso.

 

Entre os sorvetes mais famosos e procurados estão o Yallah – de pistache iraniano com sablé de pistache triturado e pistache caramelizado por cima – e o Pop My Corn – preparado com sorvete de leite, pipocas caramelizadas e flor de sal na massa e na decoração. “Hoje, quem não se diferencia acaba ficando para trás com tanta concorrência no mercado. Nossa base é toda artesanal, tem muita qualidade, mas também conta com esse aspecto da inovação”, reforça Mel.

 

Sorvete Yallah, da Mooi Mooi (Foto: Divulgação)

 

Janaína Rueda, chef à frente da famosa Casa do Porco, também é adepta do pensar fora da caixa. Embora seu nome esteja fortemente ligado ao restaurante premiado – considerado o sétimo melhor do mundo pela lista 50 Best –, ela também comanda a Sorveteria do Centro, que nasceu em 2018 com o intuito de mostrar que é possível fazer fast-food saboroso com ingredientes de verdade. Seu pensamento inovador foi se inspirar na cozinha popular brasileira para criar uma sorveteria de destaque.

 

“O plano era seguir na nossa missão de oferecer comida de verdade, preparada de maneira artesanal, com qualidade e a preços justos para mais e mais pessoas, da maneira mais democrática possível”, explica Janaína. “O nosso caminho para isso, em todos os nossos negócios, sempre foi a valorização da cozinha popular brasileira, o uso de ingredientes naturais provenientes de uma cadeia produtiva justa e a criatividade para reinterpretar o que temos de melhor no nosso país em algo original, autêntico e com a nossa cara.”

 

Se o objetivo era valorizar a cozinha brasileira, claro que as sobremesas típicas do país não ficaram de fora do cardápio. Brigadeiro, bolo gelado de coco e torta de limão são alguns dos sabores da Sorveteria do Centro. Mas, para quem busca um pouco da Casa de Porco no empreendimento, também há opções. “Até o porco, protagonista da comida caipira, virou sorvete”, brinca a chef ao falar do sorvete “leitão”, que leva bacon e porcopoca.

 

Sorvete Porcopoca, da Sorveteria do Centro (Foto: Bruno Geraldi)

 

Mel e Janaína concordam em um conceito: não há fronteiras para a criação de sorvetes. Com confeitos, frutas, flores ou iguarias curiosas, sempre é possível fugir do tradicional sorvete napolitano e encontrar sabores surpreendentes. “O Julieta sem Romeu, por exemplo, é feito de goiabada cascão triturada dentro do sorvete de leite. Fica espetacular, porque você encontra pedacinhos de goiabada na massa”, conta Mel. “Criar algo do zero é um processo que exige dedicação e demanda, mas vale muito a pena.”

 

Assim como as chefs e empreendedoras, outras sorveterias paulistas apostam na criatividade para se destacar no mercado. Confira a seguir.

 

San Lorenzo Gelateria

 

 

A San Lorenzo Gelateria é a prova viva de que a união entre qualidade e criatividade resulta em sucesso. Localizado no bairro do Morumbi, o estabelecimento apareceu no ranking das 50 melhores sorveterias do mundo em mais uma edição do Festival Mundial do Gelato. A premiação, lançada há dez anos, revelou os vencedores de 2022 em Roma, na Itália, com a presença de dois nomes brasileiros: Cairu, em Belém do Pará, e San Lorenzo Gelateria, em São Paulo. Na posição 37 da lista, a casa paulista possui cerca de 50 sabores e se destaca pela receita de gelato de ricota e variegato de mel com alecrim e pinholes.

 

Smoti Sorvetes

 

 

Famoso na culinária japonesa, o moti é um bolinho feito de arroz glutinoso moído e depois moldado. É usado em diversas sobremesas asiáticas, mas foi apenas em uma viagem a Nova York que a empresária Emília Tayra viu a iguaria como recheio de sorvete. Para ela, a descoberta abriu um mundo de possibilidades. Assim que voltou ao Brasil, começou a pesquisar a viabilidade de um sorvete de moti. Após muitos testes, em 2019 Emília criou a Smoti Sorvetes, que usa o moti como base para todos os sabores do sorvete artesanal.

 

Albero dei Gelati

 

A Albero dei Gelati se define como uma loja de gelato agrícola que preza por matérias-primas naturais, orgânicas e frescas, adquiridas diretamente da mão de pequenos produtores rurais. Para o Dia do Sorvete de 2022, a casa lançou os minipicolés agrícolas nos sabores de uvaia, fruta nativa da mata atlântica fornecida pela produtora orgânica Asmussen; morango orgânico da Toca da Mantiqueira com alecrim; maracujá fornecido por Luciana do Ceasa com gengibre; e amora da rede de agroecologia Ecovida. Respeitando a sazonalidade dos ingredientes, o cardápio de gelatos muda frequentemente e já contou com vários sabores fora do convencional, incluindo queijo da Canastra com castanha de caju e mel e vagem com vinagre de maçã e menta.

 

Por Beatriz Calais