De uma hospedagem, uma cidade: a história do The Beverly Hills Hotel
O estabelecimento foi o grande responsável pelo surgimento da cidade homônima. No ano em que completa 110 anos, relembramos sua história
O que pode ser mais icônico do que um hotel que surgiu antes mesmo da cidade onde ele está localizado? Esse é o caso do The Beverly Hills Hotel, que completa 110 anos em 2022. O estabelecimento, projetado pelo arquiteto Elmer Grey, foi construído com um orçamento de 500 mil dólares e inaugurado em 12 de maio de 1912 como um “meio caminho entre Los Angeles e o mar”. A ideia da proprietária e fundadora original, Margaret Anderson, era criar um hotel para hospedar aqueles que pretendiam comprar imóveis na área durante a busca por uma propriedade. Até então, apenas seis casas haviam sido construídas na região. Foi somente em 1914, quando a hospedagem estava firmemente estabelecida, que Beverly Hills se tornou oficialmente uma cidade incorporada.
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O município cresceu em torno do hotel, e, a partir de 1920, ele passou a ser um destino atrativo para celebridades. Naquele ano, Douglas Fairbanks, ator americano bastante popular durante a era do cinema mudo, e sua esposa, Mary Pickford, atriz e produtora, se mudaram para Pickfair, uma mansão construída em um terreno de 18 acres (aproximadamente 4 mil metros quadrados de terra acima do hotel. Já na década de 1930, foi criado um dos espaços mais emblemáticos da hospedagem, símbolo de “power dining” em Los Angeles: o restaurante Polo Lounge, local preferido de estrelas e negociantes de Hollywood. Ele foi inaugurado na década de 1930 e batizado em homenagem aos jogadores de polo que lá brindavam às vitórias após as partidas.
Desde sua inauguração, o Polo Lounge tem sido, de fato, um ambiente para ocasiões excepcionais. Os lendários favoritos do Oscar, por exemplo – do passado e do presente –, faziam lá as comemorações pós-premiação. Nomes como Charlie Chaplin, Marlene Dietrich e Elizabeth Taylor também eram presenças frequentes. A história do restaurante oferece aos visitantes uma rara experiência de olhar para o passado e o futuro ao mesmo tempo: é possível se conectar com os primeiros dias de Hollywood, sua era de ouro e um porvir intrigante.
Um ponto curioso é que o Polo Lounge apresenta zonas com uma atmosfera especial, que são lugares tradicionalmente considerados os melhores para se sentar e ser notado. O bar é um deles, onde a foto de Will Rogers e Darryl Zanuck jogando polo está exposta, uma vez que os atletas ficavam no bar quando não estavam praticando.
Outra curiosidade gastronômica é a história da famosa Salada McCarthy. Seu nome é uma homenagem ao hóspede frequente e jogador Neil McCarthy, que foi capitão de uma equipe de polo local na década de 1940. Um dia, no Polo Lounge, ele pediu uma lista muito específica de ingredientes para uma salada, e assim surgiu o prato homônimo. A receita permaneceu inalterada por décadas. Quase 600 saladas McCarthy são vendidas por semana, contando os restaurantes do hotel e as refeições do serviço de quarto.
Nos anos seguintes, a estrutura do The Beverly Hills foi se ampliando e dando origem a outros elementos icônicos. Em 1938, foi inaugurada a área da piscina nomeada The Sand and Pool Club, que contava com areia para torná-la semelhante a um verdadeiro clube de praia. O tom de rosa característico do hotel foi escolhido em 1948, a fim de combinar com o pôr do Sol e o estilo campestre, popular na época. Desde então, recebeu o apelido de Palácio Rosa. Já o papel de parede de folha de bananeira Martinique foi criado em 1942 pela empresa têxtil CW Stockwell e selecionado pelo famoso designer Don Loper, em 1949, como adorno das paredes do hotel recém-reformado e redesenhado. O logo, por sua vez, foi criado na década de 1950 por Paul R. Williams, que desenvolveu uma fonte sob medida que foi registrada para impedir a cópia de seu estilo distinto.
Embora fosse destino de inúmeros artistas, uma, em particular, teve o hotel como um cenário de extrema relevância em sua trajetória. Desde sua infância, Elizabeth Taylor frequentava as instalações do The Beverly Hills Hotel, visto que seu pai, Francis – responsável por inspirar sua paixão pela arte –, tinha uma galeria na calçada da propriedade. Após seis de seus oito casamentos, a atriz se hospedou nos famosos bangalôs do hotel. Além disso, jantava com frequência no Polo Lounge, onde seu favorito splurge de frango frito com purê de batata, acompanhado por muito molho, ainda é servido. Celebrou na hospedagem também sua vitória no Oscar pelo filme Butterfield 8 (intitulado, em português, O Número do Amor). Após seu falecimento, em 2011, sua família organizou um memorial privado no Bangalô 5, favorito da estrela, que foi recentemente renomeado como Bangalô 5 de Elizabeth Taylor.
Em 1992, o The Beverly Hills Hotel fechou para uma reforma e, em 1993, tornou-se oficialmente uma hospedagem da Dorchester Collection. Após uma grande restauração, reabriu em 1995. Em 2012, quando completou seu centésimo aniversário, a propriedade foi oficialmente nomeada como o primeiro marco histórico da cidade de Beverly Hills. Já entre 2016 e 2019 os amados bangalôs foram completamente reformados, sem perder seu apelo nostálgico de “home away from home”. Vários deles, inclusive, homenageiam seus hóspedes mais notáveis, como Marilyn Monroe, Howard Hughes, além de Elizabeth Taylor. Já em 2020 e 2021, o spa foi relançado com inspiração na flora e na fauna da Califórnia.
Neste ano, o estabelecimento recebeu um novo gerente-geral, John Scanlon, e está dedicado totalmente à celebração de seu 110º aniversário, de modo a oferecer experiências exclusivas. Do início de agosto a 30 de setembro, haverá uma rara exposição de Elizabeth Taylor e a comissão do hotel será destinada à fundação da atriz.
Até dezembro, os hóspedes que jantarem no Polo Lounge terão a oportunidade de degustar a tradicional Salada McCarthy reinventada, por 1.920 dólares, preço que homenageia o ano em que o hotel foi inaugurado. Os garçons chegarão à mesa com luvas brancas e a salada será guarnecida com flocos de folha de ouro, lagosta e caviar e harmonizada com uma garrafa de Dom Pérignon. A tigela na qual será servida, com design inspirado no papel de parede icônico, foi feita pela Bernardaud, especialista em porcelana francesa desde 1863, e poderá ser levada para casa pelos hóspedes. Uma parte da renda será destinada ao LA Conservancy, em homenagem ao lendário arquiteto do hotel, Paul Revere Williams.
Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 127 da Versatille