Conheça Hanayrá Negreiros, nova curadora-adjunta de moda do Masp
A pesquisadora e escritora se alia a sua conexão ancestral com a moda para estruturar a nova fase do museu
Em maio deste ano, a pesquisadora e escritora Hanayrá Negreiros foi anunciada como nova curadora-adjunta de moda do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).
LEIA MAIS:
- Bulgari convida artistas a criar interpretações de “metamorfose”
- Afonso Cruz fala sobre seu livro “Vamos Comprar um Poeta”
- NFT movimenta o mercado artístico e traz novos olhares para a arte
Em entrevista exclusiva, ela falou sobre sua relação com a moda, sua trajetória profissional e o que esperar da nova fase do museu. Confira a seguir.
Versatille: Quem era a Hanayrá Negreiros antes de explorar o mundo da moda?
Hanayrá Negreiros: A moda está em minha vida há muito tempo. Eu venho de uma família que tem uma relação muito forte com o vestir. Minha avó materna era costureira e modista, e minha mãe guardou várias coisas dela, como joias, roupas e máquina de costura. Costumo dizer que é uma herança de família. Desde os 7 anos eu já desenho, sou autodidata e faço croquis.
V: Como iniciou sua trajetória profissional nesse universo?
HN: Eu me formei em moda, na Universidade Anhembi Morumbi, sete anos atrás. Durante a faculdade, fiz alguns estágios e acho que talvez isso tenha mudado, mas, naquela época, era bem difícil a inserção de pessoas negras no mercado. No meio tempo, percebi que adorava fazer pesquisa, e, depois de me formar, elaborei um projeto de mestrado sobre a indumentária do candomblé e a importância da roupa para o espaço afro religioso. Foi na pós-graduação que tive uma virada profissional e descobri uma paixão pela pesquisa acadêmica e a possibilidade de compartilhar meus conhecimentos como professora. Foi assim que eu cheguei ao Masp.
V: O que representa para você assumir o compromisso de contribuir com a curadoria de moda do Masp?
HN: Representa a possibilidade de pensar curadoria em um espaço para compartilhar ideias e obras com os artistas e estilistas. Eu venho depois de duas temporadas com a Patrícia Carta e Lilian Pacce. Meu perfil é um pouco diferente do delas – que já é mais conhecido, mais in na moda. Eu tenho um perfil acadêmico, que, querendo ou não, tem um olhar mais direcionado para questões afro-brasileiras.
V: Você pode dar algum spoiler sobre o que podemos esperar dessa nova fase do Masp?
HN: A ideia é pensar fora da caixa e, a partir desses encontros dos artistas e estilistas, gerar discussões importantes e contemporâneas. Acho que o museu é um espaço que gera reflexão e um espaço de educação.
V: Você enxerga uma conexão entre a moda e a espiritualidade?
HN: Sim! Meu encantamento veio quando participei de uma festa pública aberta de candomblé no Redandá – que é o meu terreiro – e fiquei muito fascinada pelas mulheres negras, as roupas e como tudo ali tinha muito significado. Ao terminar minha pesquisa, percebi que, para essa comunidade tradicional que estudei – e da qual também faço parte –, a vestimenta não é só para cobrir o corpo, mas também tem toda uma função ritualística.
LEIA MAIS:
- Makoto Azuma: o artista que fotografa flores no espaço
- ArtRio 2021: galeristas e curadores falam sobre destaques da feira
- Entenda a relevância da Broadway, clássico teatro de Nova York
V: Qual é sua década da moda favorita?
HN: Eu gosto muito do século 19, sou apaixonada pelas formas e saias rodadas. É isso que a gente entende por indumentária baiana, mas que se manifesta em todo o Brasil. Me interessa entender como aquelas mulheres, em um contexto de escravidão, subvertiam um sistema e criavam as próprias modas.
V: Qual sonho você ainda quer realizar?
HN: Conhecer Cabo Verde. Eu me conecto muito com a cultura, a musicalidade e a relação com os tecidos de lá.
Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 121 da Versatille