Conheça as aventuras da médica Karina Oliani

Além da medicina, ela atua em missões remotas, comanda instituto e realiza expedições quase que impossíveis

Karina posa em meio à natureza na África do Sul
Karina posa em meio à natureza na África do Sul (Divulgação)

A insaciável sede de aventura e de ajudar o próximo foi o que fez Karina Oliani unir suas duas paixões em uma só profissão. A médica, especialista em emergências e resgate em áreas remotas, apresenta um currículo extenso, no qual se destacam a fundação do Instituto Dharma, ong que presta assistência a pessoas carentes em locais afastados pelo mundo; além de títulos como os de bicampeã brasileira de wakeboard, brasileira mais nova a escalar o Everest em 2013 pela face sul, no Nepal, e única sul-americana a repetir a jornada pela face norte (no Tibete, em 2017). 

 

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Firme no propósito de manter todas as áreas de sua vida alinhadas a sua personalidade aventureira, Karina tem uma produtora de vídeos, a Pitaya Filmes, focada na geração de conteúdo de expedições. Sua atuação no campo midiático também inclui trabalhos para os canais SporTV, Multishow, Canal Off e Discovery Channel, além dos programas Fantástico e Esporte Espetacular, ambos da Rede Globo. 

 

Apesar do grande número de conquistas, sua lista de sonhos não para de crescer. Em entrevista à Versatille, Karina fala sobre sua trajetória e seus planos. Confira a seguir.

 

Versatille: Você sempre foi aventureira?

Karina Oliani: Sempre. Eu tenho duas irmãs e minha mãe conta que elas ficavam brincando de boneca dentro da casinha enquanto eu amarrava uma corda na chaminé e saltava de cima do telhado. Eu também pegava um rodo dela, uma boiazinha que a gente tinha e falava: “Estou indo cruzar o Atlântico!”.

 

V: Como iniciou sua jornada no mundo das expedições?

KO: Meus pais sempre me apoiaram muito para eu fazer o que quisesse. Com 15 anos, fiz um intercâmbio na Austrália, onde consegui virar parte do Surf Life Saving Club do bairro Surfers Paradise. Eu não queria mais voltar para o Brasil, mas meus pais disseram que gostariam de estar perto. Então voltei e fiz medicina. Mas não importava em qual área minha vida estivesse, tinha de estar relacionada a aventura e natureza. E não era aventura de andar de skate no parque urbano, mas sim no mar, na selva e na montanha.

 

Karina Oliani mergulhando com tubarões nas Bahamas

Karina Oliani mergulhando com tubarões nas Bahamas (Ale Socci – GreenPixel)

 

V: Por que escolheu medicina?

KO: Sempre amei ajudar as pessoas. E para mim sempre foi claro que, se tivesse uma profissão em que pudesse ajudá-las, certamente seria uma pessoa realizada. Dito e feito. Quando estava prestes a me formar, não me sentia 100% satisfeita porque ficava muito tempo fechada em hospitais, clínicas e centros cirúrgicos. Minha solução foi encontrar uma especialidade médica que misturasse a natureza e o atendimento em ambientes remotos. Foi por isso que fui aos Estados Unidos e me especializei em wilderness medicine, que não existia no Brasil. Fui a primeira médica da América Latina a tirar esse título; e, quando voltei, fundei a Sociedade Brasileira de Medicina de Áreas Remotas e Esportes de Aventura.

 

V: Como você se sente tendo sido em 2013 a brasileira mais jovem a escalar o Everest?

KO: Foi a realização de um sonho. Era para ter acontecido em 2010, só que eu não tinha a verba necessária para fazer a expedição. Precisei ficar indo atrás das marcas, mas era muito difícil fazer com que as pessoas acreditassem em mim. Mandei meu projeto para mais ou menos 300 empresas e três me responderam. Quando finalmente deu certo, pensei: “Caramba, eu posso qualquer coisa, é só trabalhar e eu mesma acreditar em mim antes de qualquer um”. Fiquei muito feliz, consegui subir de primeira – o que é bem complicado, normalmente os alpinistas tentam uma, duas, até três vezes.

 

Karina ao lado de companheiro de expedição no topo da montanha K2

Karina Oliani no topo da montanha K2 (Divulgação)

 

V: Qual foi a experiência mais difícil que já teve de enfrentar em suas expedições?

KO: Cada expedição tem um tipo de desafio. A parte mais difícil do Everest, por exemplo, foi viabilizar financeiramente minha expedição e achar marcas que acreditassem em mim e colocassem em ação meu projeto. Foram 55 dias de expedição, aconteceram diversas dificuldades. Enfrentamos várias avalanches, tive broncoespasmo – asma induzida pelo frio extremo – e congelamento no pé. Também escalei em 2019 a montanha K2, considerada a mais mortal do mundo. São situações muito intensas e extremas.

 

V: Qual foi sua expedição favorita?

KO: Eu não tenho uma preferida porque já tive expedições no mar, vulcão, montanha, selva… cada uma é legal de um jeito. Eu gosto justamente da diversidade, de não ter de estar sempre no mesmo lugar, porque não gosto de rotina, e sim da beleza de cada hora estar em um ambiente, desfrutando algo novo.

 

Karina Oliani fazendo rapel na Cachoeira do Tabuleiro, em Minas Gerais

Karina Oliani fazendo rapel na Cachoeira do Tabuleiro, em Minas Gerais (Divulgação)

 

V: Que lições você aprendeu com todas essas aventuras?

KO: Primeiro me ensinaram a valorizar o lado bom das coisas, porque, quando se está na natureza, é preciso abrir mão de muitos recursos, inclusive do conforto. Existem duas maneiras de agir nesses ambientes, e eu escolhi justamente olhar para o que oferecem de bom: a beleza de um céu estrelado, as vistas das montanhas, a paz, o silêncio, o ar puro. A outra lição é resiliência, porque nessas experiências sempre vai dar algo errado: um desastre, avalanche, ou ficar preso no meio do mato até chegar o socorro. Eu aprendi a ter paciência, entender que as coisas acontecem no tempo delas, não no meu. Geralmente sou eu quem lidero minhas expedições e consigo fazer as pessoas se sentirem mais seguras e tranquilas e rirem um pouquinho da desgraça em vez de se desesperar.

 

Karina Olioni em área de atividade vulcânica na Etiópia conhecida como “Portão do Inferno"

Área de atividade vulcânica na Etiópia conhecida como “Portão do Inferno (Divulgação)

 

V: Você acredita que esses desafios prepararam você de alguma forma para enfrentar uma pandemia?

KO: Quando chegou a pandemia, mesmo se falando por FaceTime, Skype e telefone todos os dias, as pessoas diziam: “Eu não aguento mais esse isolamento”. Minha vontade era de rir, porque o isolamento é quando eu vou para a montanha e fico sem Internet, celular ou qualquer capacidade de ligar ou ver alguém por muitos dias. Estamos passando por um período desafiador, mas ainda temos contato humano e apoio das pessoas próximas. Como sou médica, comecei a trabalhar no hospital de campanha do Anhembi logo que ele abriu e usava o que tinha aprendido em minhas expedições, como a consciência de que pensamento negativo não ajuda em nada e preocupação não faz sarar mais rápido, além de contar histórias aos pacientes.

 

A médica em uma de suas ações humanitárias em Ruanda, na África

A médica em uma de suas ações humanitárias em Ruanda, na África (Divulgação)

 

 

V: Nos próximos anos, pretende focar em uma área específica?

KO: Hoje o que mais quero é fazer medicina voluntária por meio do Instituto Dharma. Desde que me formei na Faculdade de Medicina do ABC em 2007, dedico 30 dias do meu ano para atuar em lugares muito carentes. Fui para Ruanda, Etiópia, Amazônia, Piauí, várias regiões do Brasil e do mundo… Comecei a levar médicos amigos comigo e, quando vi, já tinha virado uma ong, só que não oficialmente. Então meu amigo Andrei Polessi fundou o Instituto Dharma comigo em 2016. Estávamos fazendo pelo menos 12 expedições por ano. Com a pandemia, tivemos de adaptar tudo, mas estamos voltando.

 

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V: Que aventura você ainda quer realizar em sua vida?

KO: Tem tantas… Quanto mais tiro os sonhos do papel, mais sonhos surgem; e, em vez de minha lista diminuir, ela cresce. É meio viciante. Eu quero fazer uma expedição para a Antártica, a qual estou tentando realizar há alguns anos.  

 

Por Laís Campos

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