Vinhos brasileiros são o foco da adega de Jack Vartanian
O negócio já conta com mais de 90 rótulos, entre tintos, brancos, rosés e espumantes, disponíveis em e-commerce
Desde dezembro de 2020 Jack Vartanian expõe uma nova faceta, que vai além de seu trabalho habilidoso com pedras esplêndidas: uma curadoria de vinhos brasileiros, que são verdadeiras joias. Sua adega é composta exclusivamente de produtos nacionais que são vendidos pelo e-commerce e no novo espaço da joalheria, inaugurado recentemente na Rua Bela Cintra, em São Paulo. Prestes a completar um ano, o negócio já conta com mais de 90 rótulos, entre tintos, brancos, rosés e espumantes, bem como três de cachaça e um de azeite.
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Para Vartanian, é inevitável enxergar uma conexão entre joias e vinhos: “É o mesmo olhar de curadoria que tenho com as pedras: seleciono apenas aquelas bonitas, bem lapidadas. Eu brinco que é quase como garimpar mesmo, sair em busca do que há de mais atrativo e que tem mais a ver com o nosso lifestyle e o do nosso cliente. É muito mais do que simplesmente escolher vinhos famosos”, diz.
Segundo o joalheiro, os rótulos são pensados para o tipo de comida consumida no Brasil, a fim de garantir a harmonização ideal. “Se a gente estivesse em um lugar mais frio, a minha seleção seria um pouco diferente”, relata. A vantagem das opções oferecidas por ele é justamente a facilidade de combinarem com a gastronomia brasileira diversa.
“Aqueles que gostam de beber rótulos famosos insistem em escolher vinhos de difícil harmonização. É como você andar com o carro certo, na hora certa. Não que o outro não vá levar e agradar você, mas tem um momento que se encaixa mais perfeitamente no seu estilo de vida. O vinho cresce e a comida cresce se você tiver essa harmonização bem-feita. A experiência fica melhor”, explica.
Em entrevista para a Versatille, o joalheiro compartilhou sua relação com os vinhos e detalhes sobre o processo de curadoria da Jack Vartanian Adega. Confira a seguir.
Versatille: Como e quando surgiu sua paixão por vinhos?
Jack Vartanian: Começou em 1992. Eu não sei por qual motivo, mas eu tinha uns 20 e poucos anos naquela época. Comecei a me interessar por vinho, fui pesquisar, passei a conhecer, comprar e estudar um pouco o assunto. Sempre convivi, bati muito papo com sommelier e já fiz muitas viagens para diferentes regiões de vinícolas, sempre com a cabeça aberta em um caminho de experimentar. Em 2014, eu fiz uma viagem para Gramado e tinha bebido poucas vezes vinhos brasileiros. Na volta, parei em uma loja, comprei 12 vinhos diferentes e levei para São Paulo. Eu comecei por um pinot noir, que chamou muito minha atenção, então contatei o produtor Lidio Carraro, perguntando se ele queria fazer uma parceria para colocar nas nossas lojas, já que fazemos muitos coquetéis.
V: Como decidiu criar a adega?
JV: Os clientes foram gostando, eu sempre recebia
feedbacks positivos quando fazia eventos. Também percebi uma deficiência no mercado porque não tinha ninguém comercializando e divulgando esses produtos brasileiros, havia sempre muito foco no produto internacional. Era bastante desorganizada a questão de inventário, então eram achadas poucas garrafas para vender. Hoje, na adega, praticamente todos os vinhos vão ter no mínimo de 12 a 24 garrafas no nosso estoque. Como já tinha esse público de mercado de luxo, pensei que poderia apresentar a eles, que são na maioria bebedores de vinhos, principalmente dos importados.
V: Por que manter apenas rótulos nacionais?
JV: Primeiro, eu estava gostando demais do vinho brasileiro. Segundo, tenho uma marca que exporta joias para o exterior, e gosto de apoiar sempre a indústria nacional. O vinho brasileiro tem uma característica que estou ajudando a desvendar para o consumidor, que é o fato de ser mais fácil, agradável e leve para o nosso clima e estilo de vida. A curadoria que faço é de vinhos sofisticados, mas, ao mesmo tempo, não difíceis de tomar. Existem muitos vinhos que exigem que você se prepare para beber, precisam de uma comida muito específica. Não que não tenha um ou outro vinho mais exótico, mas, dos nossos quase 100 rótulos, 80 ou mais são vinhos com bastante frescor.
V: Como funciona o processo da curadoria dos vinhos?
JV: Visito, ouço falar de uma vinícola por algum motivo, elas próprias muitas vezes nos enviam, ou a gente pede amostras. Faço as provas, que, em geral, acontecem duas vezes. É a mesma história com a pedra. Nenhuma pedra entra no nosso inventário sem passar por mim ou por algum tipo de controle de qualidade que eu consiga monitorar. Hoje em dia, no vinho, sou 100% eu.
V: Quais desafios você teve de enfrentar nesse novo negócio?
JV: O principal está sendo o preconceito contra o vinho brasileiro, principalmente por parte daqueles que se colocam como entendedores de vinho, os quais justamente deveriam ter menos dessa visão. Se entendem, teriam de estar abertos a expandir o conhecimento sobre vinho. Nesse universo, eles são os chamados “tomadores de rótulos”. É igual com roupas, aqueles que só vestem marca. Muitas vezes, não ficam bem-vestidos.
V: Como você lida com essa situação?
JV: Eu percebo, ao mesmo tempo, bastante gente aberta, principalmente o público feminino. Acho que isso acontece porque as mulheres têm mais sensibilidade, experimentam mais. Os homens compram mais quantidade e opções mais caras; já elas são mais abertas, se arriscam mais.
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V: Quais são seus vinhos favoritos da adega?
JV: O Leone di Venezia Palazzo Ducale 2018, um tinto com uvas de varietais italianos muito versátil; o branco sofisticado Dom Bernardo Chardonnay 2020; e o tinto também refinado Lidio Carraro Quorum Grande Vindima 2012.
Por Laís Campos | Matéria publicada na edição 123 da Versatille