Como a casa noturna mais famosa de Nova York ajudou Ian Schrager a entrar no mercado hoteleiro

Do Studio 54 ao hotel Edition Madrid, para Ian Schrager o prazer dos negócios está em inovar

Ian Schrager (Divulgação)

Ian Schrager ficou famoso por criar o Studio 54, a casa noturna nova-iorquina mais famosa da história, frequentada pelos maiores nomes do entretenimento, arte e moda nos anos 1970. Hoje o empresário é um dos principais nomes do ramo hoteleiro, e, junto a Steve Rubell, que também era seu sócio na mítica discoteca, criou o conceito de hotel-butique nos anos 1980, transformando a indústria em algo muito mais sofisticado, que ultrapassava a hospedagem usual até então, exclusivamente voltada aos visitantes. O que eles se propuseram – e executaram – foi tornar o hotel um ponto de encontro para os locais.  

 

Conversar com Schrager nos permite entender por que seus projetos fazem tanto sucesso com o público. Curioso por natureza, bem-humorado e extremamente falante, parece estar sempre em busca de novos empreendimentos desafiadores. Sua última “conclusão” foi o hotel Edition Madrid, o qual a Versatille visitou no mês de maio. Diretamente da inauguração, tivemos a oportunidade de conversar com ele e entender quais elementos norteiam suas propostas. Confira. 

 

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Versatille: Você é um dos criadores do conceito de hotel-butique. Por que o formato funciona bem no mercado de luxo?  

 

Ian Schrager: A gente inventou o hotel-butique, Steve (Rubell) e eu. De fato, foi ele quem usou o termo pela primeira vez. Enquanto os hotéis, as lojas de departamento e outros serviços tentavam ser tudo para todos, nós fazíamos o oposto. Tínhamos uma visão específica, um foco, uma atitude única, e queríamos transmitir isso. É como uma butique de roupas. Não tem nada a ver com tamanho, pode ser grande ou pequena. É sobre o foco. Também o fato de que interação entre os hóspedes é o que um hotel deveria fazer. Há 100 anos era assim. As pessoas iam ao Ritz em Paris porque fazia parte do tecido social da cidade, ele era frequentado pelos parisienses. O mesmo no Plaza, em Nova York, onde aconteciam grandes eventos. As pessoas se encontravam lá para almoçar e ir a reuniões. Nós apenas nos demos conta de que aquela era uma grande ideia e que deveríamos voltar a ela. Tornar o hotel algo além do que um lugar para dormir. E isso o torna um acontecimento, um evento – e esse é o objetivo em tudo o que fazemos, e também, devo dizer, a razão pela qual continuo fazendo. 

 

V: Você sempre fala que o Edition é uma coisa viva, e, quando se está nos hotéis, isso fica nítido. Como isso acontece? 

 

IS: Criar uma conexão emocional é ter um diálogo com as pessoas. Ao entrar no hotel, você precisa ter essa intimidade, porque é o contato pessoal que marca. Acho que é assim com tudo. Qualquer coisa inanimada que seja capaz de fazer essa conexão tem uma oportunidade de se tornar um grande sucesso. É fora da caixa, e a maioria das pessoas está dentro. As pessoas são estimuladas por coisas que elas não veem todos os dias. É um conjunto de ideias muito óbvias, autoevidentes, que todo mundo vê, porém passa batido. 

 

V: O Studio 54 teve constantes transformações no espaço, bem como seus hotéis, que se destacam pela decoração e arquitetura. Quais elementos aprendeu com o Studio 54 e transpôs para a hotelaria?  

 

IS: Uma boate é um treinamento perfeito para entrar no mercado hoteleiro. Não há nada diferente a ser oferecido entre uma casa noturna e outra. É a mesma música, a mesma bebida, é tudo igual. A única coisa que pode diferenciar o que você está fazendo dos outros é a magia que você cria: aquela eletricidade, animação, aquele relâmpago que está no ar que é difícil de definir, mas todo mundo sabe quando sente. Esse foi o nosso produto do Studio, a sensação eletrizante de uma energia especial. Não dá para ter certeza como ela é criada, mas você coloca tudo nela. Então, quando migrei para o ramo hoteleiro, bem, eu tinha uma cama, mas não conto apenas com ela. Também não confio apenas no design. Ainda quero criar essa magia. E essa é a diferença que nos distingue dos outros hoteleiros. Não estamos interessados na “receita por quarto disponível”, estamos falando de energia, entusiasmo, espírito e atitude. É um vocabulário diferente. 

 

(Divulgação)

 

V: Madrid é seu mais novo desafio, no qual traz uma nova experiência a uma cidade antiga e com muita tradição. Qual impacto espera que o hotel cause na cidade? 

 

IS: Perturbar o status quo, isso é algo que me faz feliz. Esse espírito de trazer algo especial que nunca se viu antes. Você se sente confortável no hotel, mas nunca o viu. É provocativo, mas não muito provocativo. Quebra as regras, mas não a ponto de fazer você se sentir desconfortável. É um equilíbrio delicado. Sempre volto para o entretenimento, porque, de certa forma, me vejo mais nele do que no ramo hoteleiro. É muito evasivo, etéreo. O que é que faz as pessoas se conectarem a algo? Não são os detalhes individuais. É quando tudo se junta. A totalidade de todos os detalhes é muito mais do que a soma das partes individuais. 

 

V: Podemos esperar um projeto seu no Brasil?  

 

IS: Eu adoraria fazer algo no país. Um dos meus arquitetos favoritos, que, aliás, influenciou tantos outros no mundo todo, é Oscar Niemeyer. Eu sou muito inspirado pelo Brasil e tudo o que ele representa, as pessoas e o espírito delas. É um país dedicado à boa vida. 

 

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V: Você já se aventurou como empreendedor em tantas áreas diferentes com muito sucesso. Qual é o próximo desafio? 

 

IS: Eu amo o que faço, e isso tem diferentes manifestações. Podem ser mais hotéis, ou residenciais. Quem sabe espaço para trabalho? Talvez faça algo de teatro imersivo no Studio 54 – e devemos anunciar em breve. Eu sou um curioso incurável. Qualquer coisa que apareça que bata comigo, eu estou disposto a fazer. Eu sou extremamente. motivado, nasci assim e amo o que faço. 

 

Por Miriam Spritzer | Matéria publicada na edição 126 da Versatille