Avanços tecnológicos impulsionam o turismo espacial
Para o jornalista especializado em ciência, Salvador Nogueira, é possível que turistas deem voltas ao redor da Lua, antes que a década termine
A narração de abertura de Star Trek decretou a última fronteira da humanidade: o espaço. Embora a declaração seja fictícia, a verdade é que já começamos a cruzar coletivamente a divisa interplanetária com o turismo espacial. Desde o primeiro voo tripulado por Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961, passos consideráveis foram dados.
LEIA MAIS:
- Veja 3 dicas de passeios em Zurique, na Suíça
- Accor apresenta novo portfólio de hotéis boutique e resorts de luxo
- Fasano Boa Vista completa uma década de hospitalidade
Em 2001, Dennis Tito pagou 20 milhões de dólares para ir ao espaço e tornou-se o primeiro turista espacial. Após anos de negociações com os russos, o empresário viajou à Estação Espacial Internacional. Na mesma época, surgiu o Prêmio X Ansari, que ofereceu 10 milhões de dólares à primeira organização não governamental a lançar uma nave reutilizável, tripulada por dois passageiros, duas vezes no período de duas semanas. A vencedora foi a Scaled Composites, de Burt Rutan, com sua SpaceShipOne. Essa tecnologia serviu como base para a fundação da Virgin Galactic, de Richard Branson, que iniciou o desenvolvimento da SpaceShipTwo.
“Ninguém imaginou que fosse levar tanto tempo para que a SpaceShipTwo iniciasse seus voos com tripulação completa, o que só veio a acontecer em julho deste ano”, afirma Salvador Nogueira, jornalista especializado em ciência e sócio-fundador da Associação Aeroespacial Brasileira (AAB). O início dos anos 2000 foi marcado por um boom no setor, que também assistiu à fundação da Blue Origin, de Jeff Bezos, e da SpaceX, de Elon Musk.
A discussão sobre turismo espacial foi possível graças à capacidade de reutilização das espaçonaves, com o retorno ao solo. “Foguetes até então haviam sido desenvolvidos como veículos de um único voo. Não só porque recuperá-los era extremamente complexo, mas também porque seu uso militar previa apenas o transporte de ogivas”, conta o especialista. Segundo ele, outro avanço foi a rapidez entre voos, para agilizar idas e vindas. “Com o desenvolvimento de novos motores e materiais, a coisa começou a se tornar realidade. E, a essa altura, parece ser um caminho sem volta.”
As empresas assumiram como missão abrir o caminho da humanidade para o espaço e transformá-la numa civilização multiplanetária. O objetivo declarado da SpaceX, por exemplo, é colonizar Marte. Richard Branson afirma já ter vendido 600 passagens espaciais no valor de 250 mil dólares cada (mesmo sem a previsão de voos oficiais). Diferentemente de 1961, o preço da viagem espacial está caindo e democratizando a iniciativa, antes restrita a governos, mas ainda há muita pesquisa e desenvolvimento pela frente para que seja de fato acessível. “Não acho impossível que se torne relativamente comum, talvez um pouco mais cara do que a aviação comercial, em um horizonte de 20 a 30 anos.”
Ao que tudo indica, haverá diferentes tipos de turismo espacial, segundo o jornalista. Voos suborbitais, mais baratos e rápidos, proporcionarão alguns minutos de imponderabilidade (sensação de ausência de peso) e uma vista espetacular do planeta azul e do céu escuro do espaço. Já voos orbitais, como o que a SpaceX conduziu em setembro com a missão Inspiration4, oferecerão uma experiência mais completa. “Vários dias no espaço, em órbita, vendo o nascer e o pôr do Sol múltiplas vezes ao dar voltas ao redor da Terra, e lançamentos e pousos tão perigosos e energéticos quanto os experimentados pelos astronautas profissionais”, comenta.
Para que tudo isso seja realidade, Nogueira enumera dois últimos obstáculos a serem superados: regulação e custo. Os voos serão operados por diversas empresas em locais diferentes, com uma frequência muito maior, exigindo, portanto, uma regulamentação que comporte o tráfego espacial. Os indícios apontam ainda para uma queda gradual de custos e preços, favorecendo o setor.
LEIA MAIS:
- Hotel Fasano Angra dos Reis lança programa de experiências ao ar livre
- Enoturismo paulista: Vinícola Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal
- Conheça o Seven Seas Grandeur, novo cruzeiro da Regent
A corrida pelo espaço tem sido tão acirrada que os próximos anos podem surpreender as previsões. “Não é inconcebível que, antes que a década termine, turistas estejam dando voltas ao redor da Lua e, quem sabe, até pousando nela. Uma vez que a tecnologia atinge um custo aceitável, comercialmente viável, o céu é literalmente o limite”, diz o jornalista. Para ele, é preciso ter, no entanto, consciência de que devemos proteger o único planeta de fato hospitaleiro a nós: a Terra.
Por Mattheus Goto | Matéria publicada na edição de 122 da Versatille