Avanços tecnológicos impulsionam o turismo espacial

Para o jornalista especializado em ciência, Salvador Nogueira, é possível que turistas deem voltas ao redor da Lua, antes que a década termine

Visão do planeta Terra do primeiro voo suborbital com tripulação completa feito pela Virgin Galactic, de Richard Branson, em julho de 2021(Divulga
Visão do planeta Terra do primeiro voo suborbital com tripulação completa feito pela Virgin Galactic, de Richard Branson, em julho de 2021(Divulgação Virgin Galactic)

A narração de abertura de Star Trek decretou a última fronteira da humanidade: o espaço. Embora a declaração seja fictícia, a verdade é que já começamos a cruzar coletivamente a divisa interplanetária com o turismo espacial. Desde o primeiro voo tripulado por Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961, passos consideráveis foram dados.

 

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Em 2001, Dennis Tito pagou 20 milhões de dólares para ir ao espaço e tornou-se o primeiro turista espacial. Após anos de negociações com os russos, o empresário viajou à Estação Espacial Internacional. Na mesma época, surgiu o Prêmio X Ansari, que ofereceu 10 milhões de dólares à primeira organização não governamental a lançar uma nave reutilizável, tripulada por dois passageiros, duas vezes no período de duas semanas. A vencedora foi a Scaled Composites, de Burt Rutan, com sua SpaceShipOne. Essa tecnologia serviu como base para a fundação da Virgin Galactic, de Richard Branson, que iniciou o desenvolvimento da SpaceShipTwo.

 

Jeff Bezos e tripulação a caminho da New Shepard, nave desenvolvida pela Blue Origin, também em julho deste ano, para o primeiro voo civil sem piloto ao espaço

Jeff Bezos e tripulação a caminho da New Shepard, nave desenvolvida pela Blue Origin, também em julho deste ano, para o primeiro voo civil sem piloto ao espaço (Getty Images)

 

“Ninguém imaginou que fosse levar tanto tempo para que a SpaceShipTwo iniciasse seus voos com tripulação completa, o que só veio a acontecer em julho deste ano”, afirma Salvador Nogueira, jornalista especializado em ciência e sócio-fundador da Associação Aeroespacial Brasileira (AAB). O início dos anos 2000 foi marcado por um boom no setor, que também assistiu à fundação da Blue Origin, de Jeff Bezos, e da SpaceX, de Elon Musk.

 

A discussão sobre turismo espacial foi possível graças à capacidade de reutilização das espaçonaves, com o retorno ao solo. “Foguetes até então haviam sido desenvolvidos como veículos de um único voo. Não só porque recuperá-los era extremamente complexo, mas também porque seu uso militar previa apenas o transporte de ogivas”, conta o especialista. Segundo ele, outro avanço foi a rapidez entre voos, para agilizar idas e vindas. “Com o desenvolvimento de novos motores e materiais, a coisa começou a se tornar realidade. E, a essa altura, parece ser um caminho sem volta.”

 

As empresas assumiram como missão abrir o caminho da humanidade para o espaço e transformá-la numa civilização multiplanetária. O objetivo declarado da SpaceX, por exemplo, é colonizar Marte. Richard Branson afirma já ter vendido 600 passagens espaciais no valor de 250 mil dólares cada (mesmo sem a previsão de voos oficiais). Diferentemente de 1961, o preço da viagem espacial está caindo e democratizando a iniciativa, antes restrita a governos, mas ainda há muita pesquisa e desenvolvimento pela frente para que seja de fato acessível. “Não acho impossível que se torne relativamente comum, talvez um pouco mais cara do que a aviação comercial, em um horizonte de 20 a 30 anos.”

 

Yuri Gagarin rumo ao céu, em 1961

Yuri Gagarin rumo ao céu, em 1961 (Getty Images)

 

Ao que tudo indica, haverá diferentes tipos de turismo espacial, segundo o jornalista. Voos suborbitais, mais baratos e rápidos, proporcionarão alguns minutos de imponderabilidade (sensação de ausência de peso) e uma vista espetacular do planeta azul e do céu escuro do espaço. Já voos orbitais, como o que a SpaceX conduziu em setembro com a missão Inspiration4, oferecerão uma experiência mais completa. “Vários dias no espaço, em órbita, vendo o nascer e o pôr do Sol múltiplas vezes ao dar voltas ao redor da Terra, e lançamentos e pousos tão perigosos e energéticos quanto os experimentados pelos astronautas profissionais”, comenta.

 

Para que tudo isso seja realidade, Nogueira enumera dois últimos obstáculos a serem superados: regulação e custo. Os voos serão operados por diversas empresas em locais diferentes, com uma frequência muito maior, exigindo, portanto, uma regulamentação que comporte o tráfego espacial. Os indícios apontam ainda para uma queda gradual de custos e preços, favorecendo o setor.

 

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A corrida pelo espaço tem sido tão acirrada que os próximos anos podem surpreender as previsões. “Não é inconcebível que, antes que a década termine, turistas estejam dando voltas ao redor da Lua e, quem sabe, até pousando nela. Uma vez que a tecnologia atinge um custo aceitável, comercialmente viável, o céu é literalmente o limite”, diz o jornalista. Para ele, é preciso ter, no entanto, consciência de que devemos proteger o único planeta de fato hospitaleiro a nós: a Terra. 

 

Por Mattheus Goto | Matéria publicada na edição de 122 da Versatille

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