“As pessoas querem estar junto das marcas porque elas compartilham valores“, diz João Oliveira, CEO da JLR no Brasil

Em entrevista para a Versatille, o executivo discorre sobre mercado local, sustentabilidade e eletrificação

Foto: Divulgação

Faz menos de dois anos que João Oliveira chegou à inglesa JLR e assumiu a posição de CEO, após longa trajetória no segmento automotivo. Formado em engenharia mecânica pelo Instituto Mauá de Tecnologia, contabiliza pós-graduações e MBA em assuntos diversos: direito, administração e até mesmo filosofia. Com uma visão global e humanizada, como conta na entrevista a seguir, chegou à presidência da empresa no Brasil e pode se orgulhar de muitos feitos, entre eles o crescimento, que entre 2022 e 2023 foi de mais de 50%. Também atravessa um reposicionamento global, uma nova era, em que a JLR passou a ser uma house of brands: Range Rover, Defender, Discovery e Jaguar tornaram-se marcas.  

 

Confira, na sequência, a entrevista na íntegra.  

 

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Versatille: Como foi chegar à JLR?  

João Oliveira: Foram 19 anos de Volvo, e antes uma passagem pela Citroën, também, além da Scania. Estar na JLR é ainda mais especial, porque, quando converso com os clientes, percebo que as pessoas são apaixonadas pelos produtos e pelo estilo de vida que as marcas entregam. Aqui a gente tem produtos completamente diferentes entre si, mas que compartilham esse amor pelo universo das marcas.  

 

V: Quais características trouxe de sua vida pessoal para dentro da JLR?  

JO: É uma combinação da minha história como pessoa. Em termos familiares, meu pai é engenheiro e minha mãe, psicóloga; eu fiquei no meio deles. Sempre fui uma pessoa curiosa para entender como o mundo funciona, e por olhos diferentes, por diferentes pontos de vista. Sempre gostei muito de estudar, sou engenheiro, mas estudei outras áreas. Essa vontade de olhar o mundo por ângulos diferentes e totalmente antagônicos. Eu consigo ver que as pessoas pensam de formas diferentes e que não existe uma verdade única. Uma coisa que gosto de fazer é ir a lojas, conversar com clientes. Muitas vezes eu não me identifico e pergunto sobre pessoas que encontro e têm carros das marcas, para saber
se estão felizes.  

 

V: O que acredita que fez de mais relevante desde a sua chegada à JLR? 

JO: Para o universo interno, eu procurei trazer maior dinamismo, fazer com que as pessoas trabalhassem cada vez mais integradas. Isso foi uma das grandes medidas. Impus uma visão forte de gestão de pessoas e ambiente de trabalho, de forma que isso se traduza para fora da empresa. Um olhar para a qualidade de vida, segurança psicológica, tudo isso aliado. Externamente, um pensamento integrado, com o foco completo e irrestrito no cliente, independentemente da área, é algo que vem trazendo bastante resultado.  

 

Discovery saindo da fábrica (divulgação)

 

V: O que é o modern luxury para a JLR? 

JO: Ao notar o mundo se transformando, a gente percebe que as pessoas estão buscando coisas que antes não eram buscadas. Eu olho muito para o Zeitgeist, que é o espírito do tempo. Uma marca de luxo é muito legal porque ela é perene, tem um legado, e o cliente que a consome tem uma preocupação com isso. As pessoas, cada dia mais, querem estar junto das marcas e dos produtos porque elas compartilham valores. É nesse ponto que entra o modern luxury, com questões muito interessantes. Por exemplo, quando falamos de sustentabilidade, devo pensar desde a nossa operação. Como vou fazer para ter a menor pegada de carbono possível, que medidas eu vou tomar para me descarbonizar – a gente fala que até 2040 queremos ser carbono-neutro. Toda a jornada de eletrificação e dos produtos elétricos chegando ao Brasil são outros desafios, que entram nas medidas do modern luxury. A partir de 2025, a Jaguar se tornará totalmente elétrica. A questão de impacto social, de global citizenship, os posicionamentos corretos nas questões principais. 

 

V: Qual é a importância da eletrificação para a JLR? 

JO: A eletrificação é algo que eu defendo, não só aqui na JLR, mas também no cenário maior. A descarbonização dos veículos é fundamental se a gente quiser ter um futuro para chamar de nosso. Não existe planeta B, então temos que cuidar melhor dele. É um desafio gigante, porque tem muitos pontos a serem contabilizados. É uma prioridade enorme para a empresa, a validação SPTI, temos um board member que é o grande líder dessa agenda, o François Dossa. É um compromisso bastante sério. Aqui no Brasil, a gente é abençoado até nisto: a nossa matriz energética é uma das mais limpas do mundo, então acaba sendo mais fácil para nós.  

 

V: O que podemos esperar dos lançamentos elétricos? 

JO: A partir de 2025 a gente vai apresentar a nova Jaguar, 100% elétrica, não terá nenhum produto mais a combustão. Eu estou superansioso para ver a nova cara. São carros totalmente diferentes dos que temos hoje. A gente fala que é “copy of nothing”, ou seja, não tem nada parecido, é um resgate das raízes históricas da Jaguar, que sempre fez carros inesperados. A gente também já apresentou as primeiras informações do Range Rover elétrico, abrimos uma primeira lista de interessados em participar da pré-venda. 

 

V: Qual é a relevância do Brasil para a JLR? 

JO: O Brasil é sede para as operações da América Latina, e isso já demonstra que é muito importante, porque somos um hub. Nós também temos uma estrutura industrial: a primeira fábrica da JLR aberta fora da Inglaterra foi aqui, o que é de extrema importância estratégica para a JLR aqui no país. Outro ponto é muito bacana também: aqui também foi instalado o primeiro hub de inovação da JLR no mundo, e buscamos startups para nos ajudar. Temos alguns projetos implementados e bem-sucedidos. Um dos investimentos que a gente acabou de anunciar, do nosso fundo de corporate venture capital, foi na Energy Source, empresa que faz gestão de ciclo de vida de baterias de veículos no Brasil. É importante porque, no mundo inteiro, o cliente pergunta o que vai acontecer com a bateria. Quando a gente olha para o mercado brasileiro, a gente tem crescido bem. No ano passado crescemos mais de 50% em comparação ao anterior. A gente conseguiu crescer algo que é muito interessante, quando se fala de mercado de luxo, que é o share of wallet. Eu não olho só o mercado em geral, eu vejo o share de valor dos carros, porque os carros são posicionados onde o consumidor de luxo está. No Brasil, de cada 5 reais usado para comprar um carro premium, 1 real foi para a JLR.  

 

V: Quais são as metas em 2024? 

JO: Para este ano, não estamos olhando como um ano de crescimento de volume, é até uma característica secundária para nós. O grande mote é que conseguimos provar que somos supereficientes nessa ponta mais alta do mercado. O objetivo é usar então este ano para reforçar ainda mais essa experiência, para mostrar que vale realmente a pena ter uma JLR, é algo único em termos de experiência de marca, atenção, e isso com certeza vai nos ajudar nas etapas da nossa transformação no Brasil. 

 

V: O que os carros da JLR possuem de melhor que a concorrência? 

JO: Eu acho que o produto entrega o maior nível de refinamento para as pessoas mais exigentes que existem. Nenhum carro consegue entregar o nível de refinamento que a gente tem com a capacidade de utilização. Esse balanço é sem igual. Se você pega um Range Rover para dirigir, a sensação, você não encontra em outro lugar. 

 

Por Giulianna Iodice | Matéria publicada na edição 134 da Versatille