Alquimia franco-italiana

A história por trás do encontro entre um produtor e um vigneron que resultou em vinhos esplêndidos da Bodega Chacra

Bodega Chacra (Foto: Divulgação)

Quando Piero Incisa della Rocchetta, neto do Marchesi Incisa della Rocchetta, criador do Sassicaia, o primeiro supertoscano do mundo – tintos elaborados na região da Toscana com uvas como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Syrah, chamadas “internacionais”-, descobriu o pinot noir argentino feito na Patagônia, numa degustação em Nova York em 2001, ficou intrigado. Teve vontade de fazer vinho naquela região. 

 

Pinot Noir é uma uva querida para Piero porque bebia vinhos feitos com ela ao lado de seu avô, que tinha grande apreço pelos pinots feitos na Borgonha. Então, Piero desembarcou na região do Rio Negro a procura de terras para realizar a sua vontade: vinhos sustentáveis, que expressassem o terroir de Mainqué. Encontrou vinhas centenárias, que não tinham sido extintas com a Filoxera (praga que arruinou vinhedos que tiveram que ser arrancados em várias partes do mundo, no início do século XIX), trazidas por imigrantes espanhóis e italianos. 

 

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Assim nasceu a Bodega Chacra, na Patagônia Argentina, de onde saem alguns dos mais elegantes pinot noir e chardonnays fora da Borgonha. Na língua local, chacra significa pedaço de terra dedicado ao cultivo de frutas. E na cultura oriental, é energia vital, que conecta com o universo. 

 

Foi num almoço em 2016, na casa de Guillaume D’Angerville, produtor referência em Volnay, na Borgonha, que Piero encontrou Jean- Marc Roulot, icônico vigneron da região de Meursault, de onde saem os mais espetaculares brancos do planeta.  

 

Com tom jocoso, Jean-Marc, segunda geração dos vinhos do Domaine Roulot, disse a Piero que adoraria elaborar os vinhos brancos da Bodegas Chacra. Piero não levou o francês a sério, mas logo depois encontrou um amigo que ouviu a história e disse a ele que não é todo dia que um produtor borgonhês, do naipe de Jean- Marc, se oferece para uma parceria. 

 

A primeira visita a Bodegas Chacra aconteceu em agosto de 2016 e foi amor à primeira vista. A primeira safra das duas cuvées dos chardonnay feitos pelo francês com o italiano, na Patagônia, foi a de 2017. “Minha ideia não é fazer um vinho estilo borgonhês”, conta Jean-Marc, em recente passagem pelo Brasil ao lado de Piero. “Gosto de fazer vinhos diferentes a cada safra, isso me diverte”, completa. 

 

Os vinhos do Domaine Roulot também podem ser encontrados no Brasil. O cultivo e elaboração dos vinhos é orgânico, com práticas biodinâmicas, agricultura criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, nos anos 20. Preparados naturais, feitos com vegetais e minerais, são usados no tratamento do solo e as etapas da produção do vinho- plantio, colheita e engarrafamento é feita conforme o calendário lunar. O resultado? Vinhos mais puros e limpos. Sou fã. 

 

“Preservamos a biodiversidade dos vinhedos. Sem adição de química nas vinhas temos o retorno dos pássaros, insetos e animais locais”, conta Piero. A fermentação é espontânea, ou seja, com leveduras, fungos do bem que fazem o açúcar da uva se tornar álcool, nativas, encontradas nos vinhedos, nas cascas das uvas e na adega. Não são leveduras compradas de laboratórios. E a intervenção na elaboração dos vinhos é mínima. 

 

“Não extraímos o suco da uva. Fazemos infusões com elas”, conta Piero. As cápsulas de plástico que abraçam o gargalo das garrafas foram substituídas por cera de abelha. Uma vinícola 100% sustentável que faz vinhos lindos. Um privilegio participar deste encontro com os produtores, a convite da Clarets, importador dos vinhos da Bodega Chacra e Domaaine Roulot no Brasil. 

 

Após a degustação, meus preferidos:  

 

Bodega Chacra by Jean-Marc Roulot Mainqué Chardonnay 2021: 

“Salino, guloso, complexo e gastronômico”. 

 

Foto: Divulgação

 

Bodega Chacra Sin Azufre Pinor Noir 2021: 

“Projeto pessoal de Piero, um experimento onde o que conta são os sentidos, sem qualquer ciência. Limpo, macio e cheio de energia”.

 

Foto: Divulgação

 

Bodega Chacra Barda Pinot Noir 2021: 

“Mineral, puro e muito fresco”. 

 

Foto: Divulgação

 

Domaine Roulot Meursault 1er Cru Clos des Bouchères Monopole: 

“Elegante, fino e complexo”.  

 

Foto: Divulgação

 

Por Fernanda Fonseca