“A minha obra sou eu, e eu sou a minha obra”, diz Eduardo Lima, artista brasileiro que teve suas obras expostas no Louvre

Em entrevista para a Versatille, Eduardo Lima conta sua trajetória até a chegada ao famoso museu francês

Eduardo Lima (Foto: Divulgação)

Na pequena cidade de Capim Santo (BA), Eduardo Lima se apaixonou pela arte. Com apenas 8 anos, já acompanhava o que o pai fazia em sua olaria com muita atenção e, principalmente, com encanto.  

 

Na adolescência, a paixão pela arte ficou adormecida, mas tudo mudou quando ele sofreu um acidente, momento em que os dias ociosos reacenderam o interesse. Após se recuperar, voltou para o posto de gasolina, como frentista, mas continuou usando seu tempo livre para pintar.  

 

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Sua primeira tela vendida foi a representação da Igreja Católica da cidade.“Estava trabalhando quando meu companheiro avisou que minha esposa [Cida Lima] estava ligando no orelhão. Quando atendi, ela perguntou se podia vender a tela para a amiga.” Assim, decidiu que vender era uma boa escolha, porque poderia comprar mais materiais e continuar pintando. “O boca a boca correu pela cidade, e assim se deu. As pessoas começaram a comprar e encomendar minhas telas”, conta o artista, em um tom alegre.   

 

As vendas começaram de forma despretensiosa. Quando alguém levava os quadros para serem emoldurados, eles ficavam expostos na loja de molduras e chamavam atenção. “Quem pintou?”, perguntavam os passantes. “Ah, o Eduardo frentista”, respondiam. Receber as pessoas que iam ao posto apenas para fazer encomendas de quadros o motivou.  

 

“Um dia, saí do emprego e disse para a minha esposa: ‘Eu vou pedir demissão e vou viver da arte’. Ela me respondeu: ‘Estou com você’. Cida sempre foi meio doidinha (risos). Compramos um carro velho, o enchemos de telas e saímos viajando pela região. Nessa trajetória de ‘andanças’ pelo sertão, o sofrimento, a má alimentação e, às vezes, os dias seguidos sem vendas me davam tristeza, mas minha esposa estava sempre me apoiando, sempre dizendo ‘Vamos em frente’.”   

 

Em um desses episódios de desânimo, foi convidado a viver no oeste da Bahia, e, quando chegou a Barreiros – cidade em que mora até hoje –, seu carro pegou fogo, o que impossibilitou as viagens. O artista tentou trabalhar em construções civis, mas o amor pela arte falava mais alto. “Quando comecei a postar nas redes sociais, a pandemia chegou. Achei que a crise faria com que as pessoas não quisessem fazer negócio, até porque muitos acham que a arte é um supérfluo, que fica em segundo plano, então fiquei com muito medo.”  

 

O contrário aconteceu. Durante a quarentena, as pessoas começaram a conhecer seu trabalho. Com sua esposa, ele criou o projeto Raízes do Sertão Nordestino. Saíram Brasil afora. Salvador, Brasília e São Paulo receberam a exposição, o que auxiliou na divulgação. 

 

Com a movimentação, galerias começaram a encontrá-lo, e uma delas estendeu o convite para expor no Louvre. “O agente me disse: ‘Seu trabalho tem a cara do Brasil, representa muita gente, tem espaço para você aqui’. Fiquei muito animado e, quando chequei que era de verdade, mandei as obras”, conta, com muita emoção. “Quase desisti de ir para a França, mas cheguei lá. Travei na porta, passou um filme pela minha cabeça, e, quando finalmente consegui colocar o pé dentro do museu, chorei mesmo. Para mim, é uma realização de um sonho, algo que quero contar para os meus netos.” 

 

Para ele, esse é um grande momento de sua história. “A minha obra sou eu, e eu sou a minha obra. A arte tem a capacidade de mudar a vida de qualquer um que acredite.” 

 

Por Marcella Fonseca | Matéria publicada na edição 132 da Versatille