Famoso por uma estética que foge do óbvio, Alexandre Pavão conta a história de sua marca homônima

Com bolsas adornadas por cordas náuticas, mosquetões e argolas, o designer nascido em Marília, no interior de São Paulo, aos poucos conquista o mundo

Bolsa Izabel (Foto: Divulgação)

O escritório do designer Alexandre Pavão fica na Avenida Paulista, em um daqueles prédios antigos com nomes de advogados e dermatologistas estampados na parede da recepção. Pessoas de terno passando e um clima um tanto quanto cinza no ar. Mas basta uma curta viagem de elevador até o quinto andar para que tudo mude. Alexandre nos recebe em um espaço vivo. Paredes e teto em tom de azul, um tapete laranja vibrante com ondas vermelhas e diversos quadros e decorações com acessórios da marca.

 

“Aqui é tudo muito Alexandre Pavão” – essa é a frase que usamos enquanto fazemos um breve tour pelo local, que engloba todo o funcionamento da marca. Em uma das salas, a produção acontece. Há presilhas, mosquetões, cordas e fitas para a personalização de bolsas, carteiras, chaveiros e afins. Também há um depósito repleto de caixas, visto que todas as compras da marca saem dali diretamente para a casa dos consumidores.

 

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A sala dos publicitários e assessores funciona a todo vapor, assim como o estúdio, que tem fundo verde e uma estrutura completa pensada para a criação de campanhas. “A importância desses espaços vai ficar mais clara após eu contar a história da marca. Isso aqui que você está vendo é recente. Muito recente”, adianta o designer, antes de começarmos a entrevista.

 

Foto: Divulgação

 

Para a conversa, entramos em uma de suas salas, a clássica “sala do chefe”, mas que Alexandre não enxerga assim. Quase não fica ali. Acha muito isolada e prefere colocar a mão na massa na área de produção. Nesse dia, no entanto, ficamos acomodados ao redor de uma mesa redonda por um bom tempo. Tinha bolo, café e uma história muito boa sendo contada sem pressa.

 

DA AVENIDA PAULISTA PARA O INTERIOR

 

Neste texto, vamos fazer o caminho contrário na linha do tempo de Alexandre Pavão. O presente já sabemos: a marca é um sucesso. As coleções são lançadas se esgotam rapidamente. Alexandre conseguiu construir uma comunidade sólida, que acompanha, consome e valoriza o trabalho manual e a autenticidade de suas criações. Hoje, o empresário tem um negócio próprio com uma boa estrutura “in-house” tanto para confecção como para o marketing.

 

Vimos tudo isso na visita ao seu escritório, que também deixou clara outra característica de seu trabalho: tudo foge do óbvio. Os designs, a maneira de trabalhar e até mesmo sua trajetória, que começou no interior de São Paulo, na cidade de Marília, ao lado de sua mãe, Débora Alves (empresária nata).

 

Alexandre Pavão (Foto: Divulgação)

 

Quando Alexandre ainda era pequeno, Débora, que já gostava de moda e trabalhava revendendo peças de grife, investiu pela primeira vez na área de customização. Bolsas e chinelos eram o principal foco. Ela comprava as peças prontas e colocava a sua essência no produto. “Eu era bem novo, mas já ajudava ela nessa produção”, conta o designer.

 

Mais do que um ajudante, ele era apaixonado por esse processo. Uma paixão que sua mãe reconhecia e valorizava. “O negócio de customização tinha demanda, então ela achou que era hora de criar uma marca e um logotipo para divulgar pela cidade. Como achava meu nome forte, decidiu que seria ‘Alexandre Pavão’, com um desenho de pavão ao lado. Andava com sacolas personalizadas com o meu nome para todo canto, o que gerava curiosidade. Ela sempre foi muito marqueteira.”

 

Naquela época, tudo fazia parte de um sonho. Aos 18 anos, Alexandre cursou desenho industrial em Franca – a graduação mais próxima ao que ele almejava, em uma cidade que era conhecida como a “capital nacional do sapato masculino”. O curso não era nada voltado para moda, mas ele dava um jeito de encaixar suas ideias nas atividades. Além da graduação, começou a trabalhar como estilista em uma fábrica de calçados e fez cursos e oficinas para modelagem de sapatos e bolsas.

 

Mas foi apenas em 2015 que a primeira criação com a essência Alexandre Pavão foi apresentada ao mundo. Na época, ele tinha contato com estudantes de moda de São Paulo, que pediam sua ajuda para a criação de produtos para atividades curriculares. “Um desses alunos trabalhava com um estilista que gostou das minhas ideias e pediu para que eu criasse algum acessório para ele. Nesse dia, eu fui até uma loja de ferramentas do lado de casa e comprei cordas, mosquetões e argolas. Fiz várias pulseiras diferentes”, recorda.

 

Foto: Divulgação

 

Em poucas semanas, para a sua surpresa, essas pulseiras foram usadas pela modelo Fiorella Mattheis em uma revista de moda. “Quando meu nome apareceu na publicação, eu comecei a receber pedidos.” Era o começo da marca.

 

SUCESSO NADA IMEDIATO

 

Ter o seu nome e a sua criação estampados em uma revista de moda foi um belo pontapé, mas isso não o levou ao sucesso imediato. Com a exposição, Alexandre decidiu se mudar para São Paulo para aumentar a sua rede de contatos. Enquanto isso, trabalhava como designer contratado em grandes empresas “Eu não conseguia me sustentar apenas empreendendo, então fazia isso paralelamente com outras atividades”, explica.

 

Foto: Divulgação

 

Em 2016, ele lançou a sua primeira coleção, chamada Not Just a Sackpack – “não é apenas uma mochila”, em português. O modelo tinha diferentes cortes e fechamentos, destacando-se pela versatilidade. Era mais do que uma bolsa comum, segundo o próprio nome da coleção indicava.

 

No ano seguinte, mais uma virada de chave: Alexandre lançou uma série de cintos (This Is Not Just a Strap) adaptados a partir de uma alça de bolsa. “Um amigo que trabalhava como estilista da Anitta me pediu dez peças. Um dia acordei e o burburinho já estava formado. Ela tinha usado o acessório em um show e iria continuar usando ao longo dos seis meses de turnê. Comecei a receber muitos pedidos. Mais do que conseguia atender”, conta. Foram mais de 500 cintos costurados à mão e vendidos pelo Instagram.

 

A partir daí, lançou mais coleções e decidiu focar 100% em seu negócio, principalmente em bolsas. “Não foi um início fácil. Eu ainda passei por uma fase apenas customizando peças sem marca que encontrava no centro de São Paulo até conseguir começar a produzir do zero.” Mesmo sem tanta estrutura, suas criações encantavam personalidades como Bruno Gagliasso e Sasha Meneghel, que utilizavam os acessórios e faziam uma divulgação espontânea de seu nome. O que gerava fascínio era a personalidade dos produtos, sempre com cores vibrantes e adornos criativos. Para Alexandre, até um fio de telefone ou um cabo de celular poderia contribuir para a construção de uma bolsa. “A ideia é repensar nossa noção de beleza. Isso não é feio. É muito ‘cool’, na verdade”, afirma. 

 

Foto: Divulgação

 

“Fui aumentando a produção aos poucos, de acordo com o dinheiro que entrava. Fazia tudo sozinho, do design à campanha. Lançava poucas unidades, o que gerava um interesse genuíno por conta da exclusividade. A pessoa queria comprar, mas tinha esgotado. Isso fazia com que ela acompanhasse para não perder a próxima novidade.”

 

Por mais que seja uma boa estratégia de marketing, essa característica também tem relação com os processos internos da marca. “Utilizamos couro de reúso, que nada mais é do que sobra de material de outras indústrias. Se temos 150 metros de um tipo de couro, vamos fazer quantos produtos forem possíveis com ele. Quando acabar, realmente acabou. É sustentável. Eu não tenho estoque parado”, explica.

 

Foto: Divulgação

 

A exclusividade, assim como a estética única, fez com que a Alexandre Pavão se tornasse uma marca-desejo. As coleções foram sendo lançadas e, após a pandemia de Covid-19, o empresário teve a oportunidade de expandir e investir no espaço que visitamos na Avenida Paulista. Para ele, é emocionante relembrar a sua trajetória e perceber que sua essência é o que mantém a marca viva e relevante – seja nas paredes do escritório, nas fotos de campanha ou em suas peças. “Se um dia eu cair no óbvio, deixo de ser estilista”, conclui.

 

Por Beatriz Calais | Matéria publicada na edição 138 da Versatille

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