“Tudo o que é mais poético, mais sensível, me atrai”, diz Maria Fernanda Cândido, capa da Versatille
Vivendo em Paris há sete anos, a atriz vem dando forma a uma bonita trajetória artística fora do Brasil. Junto a isso, existe ainda a paixão por Clarice Lispector

Quando se mudou para Paris, em 2018, Maria Fernanda Cândido arrumou as malas acreditando que faria um intervalo na sua carreira. Corta para 2022, com a atriz aplaudida no palco do espaço L,Accord Parfait, em Montmartre, na capital francesa, após encerrar o espetáculo Balada Acima do Abismo, no qual é a protagonista. A peça foi criada a partir de textos da grande escritora Clarice Lispector e passeia pela sua vida e pelo seu universo literário, mesclando elementos cênicos e musicais. E esse é só um dos muitos trabalhos feitos em solo estrangeiro que Maria Fernanda soma nesta importante carreira que vem construindo na Europa.

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O start foi em 2019, com O Traidor, filme italiano dirigido por Marco Bellocchio, indicado ao Palma de Ouro de Cannes e que abriu caminho para outros longas na Itália, na Inglaterra, em Portugal e na França. Além disso, a artista, nascida em Londrina, no Paraná, é a primeira brasileira a gravar um audiobook em francês de um livro de Clarice na Biblioteca das Vozes, coleção da editora Éditions des Femmes, em que recita contos da obra Felicidade Clandestina. Entre os nomes presentes na coleção estão Isabelle Huppert e Catherine Deneuve.
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A estreia de Clarice na vida de Maria Fernanda se deu na escola com A Hora da Estrela e, aos 29 anos, leu A Paixão Segundo G.H. “ Foi um abalo sísmico”, contou. Pudera. Essas décadas de conexão com a escritora atravessaram a atriz, impulsionando sua carreira rumo a um mergulho profundo em sua vida e obra. Anos depois, o livro seria adaptado para o cinema pelo diretor Luiz Fernando Carvalho com Maria Fernanda no papel principal. Desde a estreia, em 2023, o filme e a atuação da atriz têm sido dignos de ótimas críticas e muitos prêmios, como o de Melhor Atriz no Festival de Siena em 2024.

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Em janeiro de 2025, Balada Acima do Abismo ganhou versão brasileira para a reabertura do Teatro-D-Jaraguá, em São Paulo, sob direção de Gonzaga Pedrosa e com a pianista Sonia Rubinsky. Atualmente, Maria Fernanda se prepara para a estreia francesa da peça, dirigida por Maurice Durozier, com abordagem e concepção diferentes. Voilà!
Confira, na sequência, a conversa com Maria Fernanda.
VERSATILLE: Na bio do seu Instagram está escrito: “Me movimento através da arte”. Que movimento é esse?
Maria Fernanda Cândido: A relação que essa frase evoca é relacionada a uma maneira de existir no mundo. O meu olhar para a existência, para a vida, para as pessoas, que tem essa lente da arte. Não só as artes dramáticas, mas a arte como um todo. Tudo o que é mais poético, mais sensível, me atrai. Talvez essa frase esteja relacionada a isso, ao meu jeito de estar no mundo.

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V: Sua trajetória é marcada pela conexão entre cinema, teatro e literatura, como na adaptação de Paixão Segundo G.H. para o cinema; Balada Acima do Abismo, para o teatro; ambos livros de Clarice Lispector.
Em 2008, você foi Capitu em minissérie da Globo inspirada na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. Como é dar vida a personagens tão complexos?
MFC: Essa interface de gêneros me fascina muito. Hoje, por exemplo, estou ensaiando a montagem francesa de Balada Acima do Abismo, que vai ser uma montagem totalmente diferente, com outra concepção, outro diretor, outra equipe. A estreia está prevista para junho. Então, eu não estou somente nesse trabalho de trazer a literatura para o teatro, como também estou trazendo a literatura para o teatro de uma montagem brasileira e fazendo essa concepção na língua francesa, com uma equipe francesa, um diretor francês, que, por sua vez, tem outra interpretação desse mesmo texto. Então, o resultado vai ser diametralmente oposto, porque o ponto de partida e os pilares que ele está utilizando são diferentes dos que o Gonzaga Pedrosa, meu diretor brasileiro, usou. É realmente uma grande oportunidade de verticalização, e isso tem me dado muito prazer.
V: Como você se preparou para A Paixão Segundo G.H?
MFC: Embora eu tenha feito uma preparação muito específica para o filme, digo que minha preparação foi a minha vida toda, toda uma existência, foi tudo o que eu li, vi, assisti e todas as pessoas que encontrei. Mas a preparação formal foi bastante intensa. Tinha trabalho físico, prático, com a voz, e uma preparação teórica com a presença de especialistas que fizeram um workshop com a gente. Em um determinado ponto desse laboratório, o texto entra. Primeiro começa com o movimento de se despojar desse cotidiano, dessa linguagem do dia a dia que a gente tem para poder ter um corpo mais neutro e, assim, começar a receber todas essas informações acerca dessa personagem que será feita. É um trabalho de tirar esses automatismos que temos no corpo para ele estar pronto para receber as escolhas que o ator vai fazer para seu personagem.
V: Imagino que todo esse aprofundamento atravesse você.
MFC: Esse livro é potente! Não tem como não atravessar você de alguma maneira, não transformar você. Não tem como fazer um filme como esse e depois simplesmente perguntar qual a próxima coisa que vou fazer. E que bom!

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V: O que motivou sua mudança para a França?
MFC: Sou casada com um francês há 19 anos. Ele morou no Brasil durante muitos anos e chegou um momento em que precisou voltar à França. E eu imaginei que, profissionalmente, para mim, seria uma espécie de intervalo… Eu não imaginava muita coisa. E aí, para a minha surpresa, muitas coisas aconteceram.

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V: O que está lendo agora?
MFC: A Morte de Ivan Illich, de Tolstói. É um livro pequeno, mas muito bom.
V: Quais projetos futuros você pode compartilhar?
MFC: Kleber Mendonça está trabalhando na finalização do longa O Agente Secreto, rodado no ano passado, em Recife. Faço esse filme com Wagner Moura, que é o protagonista. Estamos muito ansiosos para o lançamento!

Vestido Dawei Studio
Texto: Mariana Belley
Direção criativa e edição de moda: Lucio Fonseca
Foto: Carlos Teixeira
Assistente de foto: Tiago Mulhmann
Beleza: Jr Queirós
Produção executiva: LF Office Paris
Assistente de produção: Ellen Barokhel
Tratamento: CT Studio
Vídeo: Rémi Guénaire
Agradecimento especial: Hôtel Le Meurice, The Dorchester e Renato Rique